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“Por que você está chorando, Sooyoung?” Gyuri perguntou estranhando ver lágrimas escorrendo pelo rosto da filha mais velha, que tratou de secá-las rapidamente com a ajuda da manga de sua blusa social branca.
“Não é nada, não, foi só... Um sentimento que me deu.” Respondeu de maneira patética, sem nem saber o que falar diante da mãe e irmã.
“Acho que ela sentiu Deus tocando seu coração e se converteu verdadeiramente para o Senhor. Aleluia!” Hyejoo sugeriu de forma totalmente irônica, e recebeu um olhar mais do que desaprovador de Gyuri, que só não lhe deu um forte tapa na boca porque elas estavam na casa de Deus. Hyejoo havia acabado de cometer um pecado grave: uma blasfêmia contra o Espírito Santo e ainda por cima dentro de uma igreja.
Sooyoung nem reação teve, apenas ignorou a brincadeira sem graça da irmã.
“Feche essa boca.” A mulher ordenou para a filha caçula, que mantinha o sorriso debochado de canto de boca, que ela sabia muito bem que irritava sua mãe. Mas como estava em um território onde não poderia ser agredida, iria aproveitar.
As três se acomodaram em um dos primeiros bancos, e Sooyoung conseguiu se conter após um tempo, mas seus olhos permaneceram vermelhos e inchados entregando que ela havia chorado.
Quando Wonpil olhou para trás rapidamente, Hyejoo não perdeu a oportunidade de abrir um largo sorriso e acenar para o rapaz, que de forma um pouco mais tímida e contida, retribuiu o gesto de carinho, sob o olhar receoso de Heejin há poucos metros, que em seguida trocou palavras com o noivo com uma expressão bastante séria, deixando claro que não estava gostando nem um pouco daquelas interações entre o rapaz e a filha caçula de Gyuri.
O culto finalmente começou com a banda tocando um hino já conhecido para Sooyoung, o que lhe causou certo estranhamento, uma vez que estava acostumada com a voz de Jiwoo naquela melodia. Não que Heejin fosse uma cantora fraca, pelo contrário, ela tinha uma voz linda, mas para Sooyoung, a voz de Jiwoo era doce, sensível, única e a jovem guitarrista notou como ela simplesmente tudo naquilo: seu timbre, seu tom, seus trejeitos e toda a sua capacidade de transformar uma canção cuja letra falava de um personagem bíblico aleatório na coisa mais linda que seus ouvidos conheciam.
Ah Jiwoo... Sooyoung daria tudo para ouvi-la assegurar que tudo ficaria bem e as coisas voltariam ao normal.
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O culto, chatíssimo e interminável seguia e era uma tortura entediante. Sooyoung olhava para Donghae que falava sem parar na frente. Não estava absorvendo absolutamente nada daquele sermão, mas ali, com os braços cruzados e os olhos perdidos, ela começou a notar algumas semelhanças físicas que ele possuía em comum com sua filha.
Donghae era um homem bem-humorado, e as vezes ele contava algumas histórias sobre si mesmo ou sua vida, para dar uma leve descontração quando o assunto pesava, e foi em um desses momentos que ele sorriu, e os seus olhos ficaram pequenininhos, iguais aos de Jihyo.
Ela ouviu um risinho ao seu lado, e olhou para o lado, notando assim o sorriso nos lábios de Gyuri. Seus olhos também brilhavam enquanto olhavam para o reverendo Kim.
Gyuri estava realmente apaixonada por Donghae e a primogênita teve absoluta certeza disso naquele momento.
Sooyoung voltou a abaixar a cabeça, sentindo-se mal outra vez ao pensar que sua atitude com Jiwoo poderia por tudo aquilo a perder. Gyuri havia mergulhado de cabeça nesse relacionamento e não era justo ser privada de nada  por um erro que não era seu.
Isso fez Sooyoung se sentir pior ainda.
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Quando, após um longo período, o culto finalmente terminou, Sooyoung sentiu um frio na barriga quando o reverendo Kim veio ao encontro de sua família.
“Bom dia.” Ele cumprimentou as três, e apesar do tom simpático usado, ele tinha algo diferente em seu semblante.
“Bom dia.” Gyuri respondeu sorrindo enquanto suas duas filhas se curvaram em cumprimento ao homem. “Onde está Jiwoo? Sentimos falta dela aqui hoje.”
Ao ouvir o nome da garota, Sooyoung desviou o olhar, nervosa.
“Era sobre ela mesma que eu iria falar.” Donghae comentou, e suas palavras foram o suficiente para deixar a jovem guitarrista com dor na barriga. “Jiwoo não está muito bem, por isso preferiu descansar e se recuperar em casa, e eu achei melhor também.”
Sooyoung engoliu em seco, mas se manteve em silêncio, contendo sua curiosidade e vontade de questionar qual era o problema da menina, já que a resposta poderia não ser nada agradável para si.
“Então eu imagino que você queira voltar logo para casa e ficar de companhia para ela.” Gyuri comentou e o homem assentiu.
“Sim, mas antes tem um assunto que eu gostaria de falar com você, se importa de me acompanhar até a sacristia?” Ele perguntou.
“Hyejoo e Sooyoung, me esperem no carro, eu não demoro.” Gyuri deu uma ordem para suas filhas, antes de seguir com Donghae até a salinha dos fundos do prédio.
As duas garotas seguiram para a saída. Sooyoung extremamente preocupada e com medo do teor da conversa entre o reverendo e Gyuri, enquanto Hyejoo não fazia a menor questão de esconder seus olhares para Wonpil, que assim como os outros membros da banda, terminavam de arrumar seus instrumentos, coisa que seria condenada e reprimida pela mais velha, se ela não estivesse tão focada em seus próprios pensamentos e alheia a situação.

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