Capítulo 14
“Eu fico de cara como aquela Jiwoo é tonta.” Hyejoo comentou, enquanto digitava em seu celular que havia pegado de volta há pouco tempo, deitada em sua cama.
Sooyoung estava sentada no chão com um fone de ouvido, assistindo vídeos com dicas para guitarra base, e então pausou o vídeo para olhar para a irmã.
“Não entendo como alguém pode ficar feliz em fazer parte dessa família.” Hyejoo completou entendiada. “Nem a nossa mãe gosta da gente. Aposto que ela se arrepende muito de não ter nos abortado.”
“Se ela te ouvir falando isso, te dá uma surra, Hyejoo.” Sooyoung alertou a irmã.
“E eu tô mentindo por acaso?” A outra se defendeu.
“Não disse que é mentira, só que ela não ia gostar de te ouvir falando sobre isso.” A mais velha esclareceu, mas a outra fingiu não ouvir.
“É por isso que ela é tão amargurada. A vida dela seria bem melhor se a gente não tivesse nascido.” Apesar do jeito frio que Hyejoo estava abordando o assunto, Sooyoung podia sentir que isso a machucava de verdade.
Ela própria já havia pensado naquilo várias vezes, em como a vida de Gyuri poderia ser melhor se ela não tivesse engravidado tão jovem e não fosse obrigada a abrir mão de si própria para cuidar de suas filhas, em especial ela mesma, já que foi um bebê que chegou de surpresa e que nunca contou com o apoio de seu pai.
“Mas agora que ela vai casar com o pastorzinho, quero só ver se ela vai ficar batendo na gente.” Hyejoo completou e riu debochada.
“Chega de falar disso, tá?” Sooyoung cortou a irmã. “E deixa a Jiwoo fora da discussão. Até agora ela só fez ser gentil com você, Hyejoo, não implique com ela por causa da nossa mãe.”
Hyejoo parou de mexer no celular e deitou de barriga para baixo, encarando Sooyoung.
“Hmmmm.” Começou com uma risada irônica. “Agora eu fiquei na dúvida: será que a Jiwoo vai ser minha irmã ou minha cunhada?” Fingiu estar pensando confusa.
Sooyoung passou a língua pelos lábios, mas decidiu se manter em silêncio, já que conhecendo bem Hyejoo, sabia que aquilo não chegaria a lugar algum.
Optou por soltar o vídeo que estava vendo, já Hyejoo voltou a atenção para o seu celular ao perceber que não conseguiria chegar longe com aquelas provocações.
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Na quarta-feira de manhã, Sooyoung recebeu uma mensagem de Jiwoo perguntando se ela poderia aparecer um pouco mais cedo no ensaio da igreja, e a mais velha respondeu que sim, fazendo com que o seu dia ficasse apertado, e ela chegasse da escola e já fosse direto pro ensaio após passar em casa e pegar a guitarra.
Quando ela chegou na igreja, a filha do reverendo Kim já estava lá, tocando algumas notas no piano.
“Oh happy day... Oh happy day... When Jesus washed... He washed my sins away.”Jiwoo cantava tão concentrada, que nem percebeu a chegada da outra.
“Desculpa atrapalhar o ensaio, Jiwoo.” Sooyoung falou alto, fazendo a outra parar de tocar imediatamente e se levantar do piano.
“Que bom que você chegou.” Jiwoo disse sorrindo. “Eu queria muito conversar com você.” Ela completou, demonstrando uma certa ansiedade.
“Aconteceu alguma coisa?” Sooyoung perguntou, então Jiwoo assentiu e pediu para ela se sentar junto dela no banco da primeira fila. “Fala logo o que aconteceu?”
“Na verdade não aconteceu nada.” Jiwoo respondeu. “Mas eu não sei se você vai entender, é que eu não tenho uma mãe pra conversar sobre certos assuntos, sabe? Assuntos de mulher.”
“Entendo mais ou menos, né? Que tipo de 'assunto de mulher' é esse? Menstruação?” Sooyoung perguntou e a outra riu.
“Você não sabe o quanto meu pai ficou constrangido quando tivermos que ter essa conversa.” A garota comentou.
“Eu posso imaginar.” Sooyoung comentou, realmente imaginando como o reverendo Kim abordou esse assunto com a filha. Homem já parecia um bicho-do-mato pra falar dessas coisas, um pastor deveria ser dez vezes pior. “Mas se não é isso, é sobre o que então?”
Jiwoo corou violentamente e desviou o olhar.
“É... Sobre garotos.” A garota respondeu. “Eu sei que não deveria falar sobre isso na casa de Deus, mas eu já pedi perdão e espero que o Senhor me compreenda e me perdoe.”
Sooyoung ficou um tanto surpresa com aquilo. Por mais reconhecesse as qualidades da menina, em sua cabeça, a garota era quase uma freira.
“Jiwoo, não sei se eu vou poder te ajudar muito com isso.” Sooyoung disse sincera, mas receosa de que a outra pudesse achar que ela estava se recusando a ajudá-la por puro capricho.
“Desculpa, é que eu imaginei que você sendo assim tão bonita e extrovertida, fosse popular com os garotos.” Jiwoo confessou um tanto envergonhada.
“Popular com os garotos? Eu? Imagina...” Sooyoung respondeu e riu. “Eu nem gosto de garotos.” Ela deixou escapar, e a expressão no rosto da outra mudou no mesmo instante.
“Como assim?” Jiwoo a questionou séria e com os olhos levemente arregalados, o que fez Sooyoung engolir em seco e se xingar mentalmente por ter uma boca tão grande.
“Eu quis dizer que não gosto no sentido de não confio, acho eles mentirosos e um tanto pervertidos.” Ela tentou disfarçar. “Mas você está gostando de alguém? É o Christopher?” Tentou mudar o assunto, torcendo para dar certo.
“O Chris é meu amigo.” Jiwoo respondeu e olhou para frente. “Se fosse ele, estaria bom, porque meu pai já o conhece, e com certeza faria muito gosto de um namoro entre nós dois.”
“Então quem é?” A mais velha questionou, ficando curiosa e um pouco entristecida também ao descobrir que havia mesmo um alguém na vida da menina.
“É um garoto da minha escola.” Ela esclareceu. “Nunca aconteceu nada entre nós, eu... Ele disse que gosta de mim, mas eu sei que o meu pai não vai gostar nada disso, já que ele não confia em ninguém que não seja da igreja.”
Sooyoung abaixou a cabeça, sentindo-se meio baqueada com aquela conversa, também não sabendo o que dizer.
“Você está constrangida?” Jiwoo questionou a outra, após alguns segundos de total silêncio por parte da outra. “Me desculpa, Sooyoung, eu não devia ter falado isso...”
“Não! Está tudo bem, é que é... Se você gosta dele, acho que você... Você deveria...” A mais velha começou a se enrolar. “Eu não sei.”
Jiwoo soltou um risinho, achando fofo a forma como a outra lhe respondeu, ficando toda tímida.
“Obrigada.” Agradeceu e a outra a olhou confusa.
“Mas eu nem fiz nada de útil.” Sooyoung falou honestamente.
“Só de você me ouvir já ajuda muito.” A outra respondeu e sorriu, encostando sua cabeça no ombro da outra, que até estremeceu com o contato. “Confesso que estou ansiosa pra gente morar juntas.”
“Eu acho melhor afinar a guitarra, logo o pessoal já tá chegando, e é melhor já ir adiantando algumas coisas.” Sooyoung falou tentando esconder o nervosismo, e Jiwoo levantou sua cabeça.
A mais velha se levantou e foi logo pegar sua guitarra, enquanto Jiwoo voltou ao piano.
“Me dá um 'lá' menor, por favor?” Sooyoung disse, e então Jiwoo tocou a nota pedida, e assim Sooyoung foi afinando cada uma das cordas.
“A gente ainda tem um tempo até o ensaio, quer tocar algo?” Jiwoo perguntou, e a garota sorriu, animada e tendo uma ideia.
“Você conhece um grupo chamado “The Supremes”? Elas fizeram muito sucesso nos anos 60, e foi onde a Diana Ross começou a carreira.” Ela explicou e Jiwoo assentiu. “Vou tocar uma música delas, uma das mais famosas: “You can't hurry love”.”
Sooyoung começou a tocar os acordes de uma das músicas que havia ensaiado no sábado.
“I need love, love to easy my mind. I need to find, find someone to call mine. But mama said: “You can't hurry, no, you'll just have to wait”, she said: “love don't come easy. Just trust in a good time, no matter how long it takes”.”
Quando terminou de tocar, ela olhou para Jiwoo que lhe aplaudiu.
“Eu acho que o amor é como diz nessa música: não vem fácil.” Sooyoung brincou e soltou um risinho nervoso.
“Desculpa a indiscrição, mas, você já se apaixonou por alguém? Sabe o que é o amor?” Jiwoo questionou, e a pergunta fez Sooyoung ficar pensativa.
Ela nunca havia parado pra pensar naquilo, sobre como era se apaixonar, no que se sentia, ou como fazer para saber e reconhecer esse sentimento. Apesar do que diziam os filmes, as músicas e os livros, ela não sabia dizer exatamente o que era o amor romântico.
“Pra ser sincera, eu nunca parei pra pensar nisso.” A mais velha respondeu sincera. “Eu acho que eu nunca tive esse sentimento por ninguém.”
“Eu não sei o que sinto por esse garoto.” Jiwoo comentou. “Ele é muito gentil e cuidadoso comigo, mas eu tenho medo de decepcionar o meu pai. Eu não sei o que ele iria pensar se eu quisesse namorar alguém.”
“Mas você já tem idade pra decidir se quer ou não se relacionar com alguém.” Sooyoung comentou, achando um tanto absurdo o medo que a garota demonstrava sentir do pai. “Entendo que você respeite o seu pai, mas a vida é sua, Jiwoo.”
“As coisas não são tão simples, Sooyoung.” A garota respondeu com um sorriso triste e deu os ombros. “Esse garoto não é criado na igreja, eu não sei se ele iria entender as minhas escolhas.”
“Que escolha? A de ser parte dessa igreja?” Sooyoung perguntou de forma até meio inocente e a religiosa balançou a cabeça negativamente.
“Eu fiz voto de castidade, Sooyoung.” A garota respondeu, deixando a outra sem palavras, porém, vindo de uma evangélica, ela não poderia esperar algo muito diferente. “Eu prometi pra Deus que só vou me entregar pra um homem depois de casada.”
A verdade é que Sooyoung era ateia e por isso ela não conseguia entender porque o sexo era tão demonizado por religiosos quando existiam coisas muito piores, como crianças morrendo de fome, acontecendo ao redor do planeta.
Ela nem soube o que dizer e até ficou aliviada ao ouvir passos e ver que os outros membros da banda estavam chegando para o ensaio, assim, ela não precisaria falar daquilo, pelo menos por ora.
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“Onde que a gente tá indo, Hyejoo?” Chae Won perguntou, enquanto caminhava ao lado da amiga.
“Pra igreja.” A outra respondeu de forma simplória, mas a resposta fez Chae Won parar de caminhar, e lhe com estranhamento.
“O quê? Tá falando sério?” A garota perguntou novamente e Hyejoo apenas assetiu. “Ah cara, não acredito que você me tirou de casa pra ir pra um culto Se eu soubesse nem teria vindo.”
“Louca, não tem culto nenhum.” Hyejoo respondeu rindo. “Onde já viu ter culto de tarde?”
“E a gente vai fazer o quê numa igreja então?” A garota perguntou outra vez, genuinamente confusa.
“Nós estamos indo na igreja onde a minha mãe vai, mas só pra ver o ensaio da banda.” A outra esclareceu. “Os caras que tocam nessa banda são muito gatos.”
“Ah tá.” Chae Won falou, finalmente entendendo a ação da amiga. “Tava estranhando mesmo você querer ir na igreja, né?” Ela provocou e deu um risinho.
“Como se você fosse muito religiosa, né?” Hyejoo respondeu no mesmo tom. “Tava reclamando aí.”
“Mas a gente pode entrar e ficar lá vendo o ensaio da banda?” Chae Won questionou e Hyejoo deu os ombros.
“Não sei, mas a gente vai fazer mesmo assim.” Ela disse com toda a confiança. “Já que a minha mãe vai se casar com o pastorzinho, algum benefício eu tenho que ter com isso, né?”
Chae Won riu e balançou a cabeça. Hyejoo não dava ponto sem nó mesmo.
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O ensaio seguia normalmente, quando as duas amigas chegaram ali, surpreendendo a todos, principalmente Sooyoung, que não acreditava no que estava vendo.
“Com licença.” Hyejoo falou baixo, com um sorriso ssimpático.
“Oi, Hyejoo.” Jiwoo cumprimentou a garota cordialmente. “É uma surpresa te ver por aqui.”
“É que eu e a Chae Won, minha amiga...”A garota loira acenou brevemente. “... Estávamos passando por aqui e eu pensei se eu não poderia dar uma olhada na minha irmã ensaiando.” Disse, cinicamente.
“Bom, acho que não tem problema.” Jiwoo respondeu sem jeito. “É que nós não costumamos ter visitantes durante o ensaio.”
“Na próxima vez lembre-se de trancar o portão, Jiwoo.” Hyunjin falou baixo para a prima, visivelmente incomodada com a presença das garotas ali.
“Eu vim no culto domingo.” Hyejoo começou. “Eu sou a filha mais nova da Gyuri.”
“Todo mundo sempre é bem-vindo na casa de Deus, fiquem a vontade, por favor.” Jiwoo falou e sorriu.
A dupla sentou-se em um dos bancos e a banda continuou com o ensaio.
“Olha só como ele é gato, Chae.” Hyejoo sussurrou para a amiga, que parecia encantada olhando os garotos tocando.
“Eu gostei daquele do violino.” Chae Won comentou, sem tirar os olhos do músico. “Qual o nome dele?”
“Não sei, mas nós vamos descobrir.” Hyejoo respondeu confiante, e mordeu o lábio inferior, voltando para o jovem Wonpil, que estava alheio aos belos olhos negros e luxuriosos sobre si.
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Levou um tempo, mas o ensaio terminou, e assim os membros da banda começaram a guardar seus instrumentos musicais e arrumar as coisas.
Sem perder tempo, Hyejoo e Chae Won se levantaram do banco e se aproximaram do altar, mais especificamente do órgão.
“Oi.” Hyejoo cumprimentou o rapaz sorrindo, e ele sorriu de volta.
“Oi, tudo bem?” Ele respondeu ao cumprimento e a jovem assentiu.
“Esse instrumento é bem diferente.” Ela comentou e tocou levemente no órgão. “Desde que eu vi você tocando no domingo, confesso que fiquei encantada.”
O rapaz ficou surpreso ao ouvir aquilo e crispou os lábios, tímido diante da abordagem.
“Obrigado.” Ele agradeceu, ficando levemente corado.
Vendo aquilo e sabendo o que Hyejoo pensava dele, Sooyoung tratou logo de guardar a guitarra pra levar a sua irmã problemática embora, porém, ela não era a única que havia ficado de orelha em pé por conta daquela aproximação.
Heejin, mais do que depressa, se aproximou de Wonpil, postando-se atrás dele e repousando suas mãos nos ombros do rapaz.
“Olá.” Ela cumprimentou as duas amigas que responderam baixo. “Eu sou a Heejin, noiva do Wonpil.” Tratou de frisar com um sorriso forçado. “Meu amor, eu preciso ir.”
“Ah, sim.” Ele concordou, se levantando.
“Você disse que é a Heejin, não é?” Hyejoo perguntou para a jovem cantora, que confirmou. “Então, como tem sido os ensaios de sábado?”
“O quê?” Heejin perguntou surpresa, arqueando uma sobrancelha. “De sábado eu tenho outros compromissos.”
Hyejoo olhou para Sooyoung, que se aproximava.
“Ah, acho que eu me enganei então.” Comentou cínica. “Vamos, Sooyoung.”
Sooyoung se despediu rapidamente de Jiwoo e foi embora junto das duas amigas.
O início da caminhada foi silenciosa, mas ao passar da segunda esquina e a mais velha ter certeza que ninguém da banda iria vê-la, ela foi pra cima de Hyejoo.
“Como você é ridícula!” Sooyoung falou impaciente para a outra. “Criem vergonha vocês duas!”
“Olha, eu não tenho nada a ver com essa história, nem sabia que a Hyejoo tava de olho num gostosinho da igreja.” Chae Won se defendeu, e Sooyoung balançou a cabeça negativamente.
“Hyejoo, eu disse pra você que o Wonpil tinha namorada, por que tá insistindo nisso?” Ela perguntou, e a outra riu.
“Sooyoung, não enche! Quem vê você falando assim pensa até que você é uma santa.” A jovem respondeu. “Mas eu te conheço muito bem.”
“Hyejoo, você não tem noção do ridículo, não?” Sooyoung perguntou, ainda incrédula com o que a irmã havia feito. “Você mal saiu das fraldas e tá atrás de um cara de mais de vinte anos! Se enxerga, sua imbecil!” Ela lembrou a garota que ainda nem tinha chegado aos dezesseis anos.
“Cala a boca!” Hyejoo falou mais alto, começando a ficar irritada.
“Eu tô cansada de relevar suas babaquices, mas dessa vez eu não vou deixar passar, eu vou contar pra nossa mãe que você veio aqui no ensaio pra dar em cima de um cara mais velho!”
“Ah é? Bom saber, porque eu também tenho uma coisinha pra falar pra ela.” Hyejoo falou triunfante. “Acho que ela não vai gostar de saber que você anda mentindo pra ela, já que não tem porcaria de ensaio nenhum aos sábados.”
Ao ouvir aquilo, Sooyoung até empalideceu, mas tentou retomar sua postura.
“Isso não vai ficar assim.” Sooyoung ameaçou a irmã com o dedo em riste, mas Hyejoo deu os ombros.
“Você também tem teto de vidro, Sooyoung.” Hyejoo provocou e soltou um risinho vitorioso.
E assim Gyuri não ficou sabendo de nenhuma das duas coisas.
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Na sexta a tarde, Sooyoung recebeu uma mensagem de Jiwoo falando que seu pai iria sair para jantar fora com Gyuri e por isso estava convidando Sooyoung para passar esse tempo com ela.
Como Hyejoo foi liberada para passar o final de semana na casa de Chae Won, ela falou sobre o pedido de Jiwoo com a mãe, que lhe deu permissão para ela ir até a casa do reverendo Kim passar um tempo com a adolescente, e assim pagar a sua “dívida” com a outra menina pelo desastroso cinema na semana anterior.
Então, como o prometido, ela levou dois pacotes de pipoca de micro-ondas e refrigerante para a casa da menina, e foi recebida por uma Jiwoo bastante animada.
“Como o prometido, aqui estão a pipoca e o refrigerante.” A mais velha disse sorrindo, uma vez dentro da residência.
“Bom, então eu vou estourar a pipoca e pegar os copos, você pode ficar por aqui e achar um filme legal pra gente ver.” Jiwoo disse, e entregou o controle remoto da TV para Sooyoung, após pegar as pipocas e ir para a cozinha.
Enquanto isso, a mais velha se sentou no sofá e começou a zapear o catálogo da Netflix, mas nada parecia atrativo. O cheiro da pipoca já começava a invadir o ambiente, e não demorou para a garota voltar trazendo dois baldinhos de pipoca e dois copos.
“Jiwoo, que estilo de filme você gosta?” Ela perguntou.
“Eu assisto qualquer coisa que não seja de terror e aqueles filmes cheios de besteira.” Ela respondeu, acomodando-se ao lado da outra. “Procura uma animação.”
“Você tem medo de filme de terror?” Sooyoung perguntou, por ter achado graça na resposta anterior da garota.
“Não é medo.” A outra esclareceu. “É que não é bom ficar vendo essas coisas dentro de casa, traz coisa ruim.”
Sooyoung ficou um tempo processando aquilo. Era inacreditável que as pessoas levassem uma bobagem dessas a sério em pleno século XXI, mesmo sabendo que Jiwoo falava sem nenhuma culpa, por ter sido intoxicada com esses ensinamentos desde criança.
Mas a jovem guitarrista não quis discutir nem estender aquilo, pois havia ido ali para ser uma companhia agradável e não questionar suas crenças, então ela colocou na tag de animações, onde elas escolheram um desenho.
No início do filme, Sooyoung estava um tanto desinteressada, mas não conseguiu não se contangiar pelo riso fácil e envolvente de Jiwoo, que a fez olhar para a menina mais jovem com carinho e sorrir um tanto abobada.
“Tudo bem, Sooyoung?” A garota perguntou após alguns segundos notando o olhar intenso da outra sobre si, fazendo Sooyoung se dar conta de como estava encarando a outra.
“Sua risada é muito fofa.” Ela confessou, o que deixou Jiwoo um tanto envergonhada.
“Bom, ninguém nunca me disse isso antes, obrigada.” Ela agradeceu e tentou voltar sua atenção para o filme, mas a verdade é que ela também gostava do riso de Sooyoung e se sentia muito bem quando via a garota demonstrando felicidade, já que tinha plena consciência de que sua vida não era fácil.
As duas não conseguiram evitar trocarem mais risadas e olhares de cumplicidade durante as partes engraçadas da história que passava na TV.
Durante um dos momentos que Jiwoo estava mais concentrada, Sooyoung aproveitou pra jogar uma pipoca em seu rosto e depois riu como uma criança sapeca, quanto a outra lhe lançou um olhar reprovador em tom de brincadeira.
“Ah, então é assim?” Jiwoo falou e Sooyoung riu ainda mais alto. “Foi você quem pediu!”
A garota pegou então uma almofada e a jogou em Sooyoung, acertando a cabeça da mesma e desarrumando seu cabelo.
“Aqui é artilharia pesada.” A religiosa se gabou, rindo, enquanto Sooyoung pegou a almofada do chão, e tentou acertá-la, mas a dona da casa logo pegou outra almofada, e as duas começaram a trocar golpes macios, enquanto riam e bagunçavam toda a sala.
Sooyoung não conseguia nem sequer se lembrar da última vez que havia sentido seu coração tão leve como naquele momento.
Realmente, na presença de Jiwoo ela conseguia ser outra pessoa, alguém mais feliz e em paz consigo mesma. Havia algo muito bom na outra garota, que ela não conseguia explicar, mas que era capaz de trazer a tona o melhor de si.
Desse jeito, o resto do filme passou num piscar de olhos, e quando se deram conta os créditos finais já subiam na tela, ao som de uma música animada, e as garotas deram uma trégua, enquanto pararam pra observar a sala com várias almofadas espalhadas pelo cômodo, pipocas cobrindo o tapete, sem contar que as duas estavam com os cabelos completamente bagunçados, roupas desarrumadas e as bochechas vermelhas.
Nem parecia que ali estavam duas adolescentes, e sim dez crianças hiperativas.
Elas olharam ao redor e depois se entreolharam e começaram a rir.
“Jesus amado, parece que passou um furacão aqui.” Jiwoo falou e a outra concordou.
“Eu te ajudo a arrumar, não se preocupe.” Sooyoung lhe assegurou.
“Quer ver outro filme?” Jiwoo perguntou, e Sooyoung assentiu.
“Claro, mas dessa vez sou eu quem vai escolher.” A morena respondeu, se curvando para pegar o controle remoto. “E vai ser de terror!” Completou em um tom brincalhão.
“Nunca!” Jiwoo respondeu no mesmo tom, indo pra cima da outra, tentando tomar o controle de sua mão, resultando em uma pequena disputa corporal, na qual a religiosa conseguiu tomar o objeto das mãos da outra. “Aha! Peguei!” Disse alto, comemorando.
Porém, Sooyoung não se deu por vencida, e deu um empurrãozinho na outra, derrubando-a de costas no sofá, e sem pensar muito no que estava acontecendo, deitou em cima de Jiwoo, e então o controle remoto foi até esquecido, quando os olhos delas se cruzaram, e elas se deram conta da posição em que estavam.
Os sorrisos desapareceram, dando lugar a respirações pesadas e um silêncio dominou o ambiente.
Sem pensar em nada, Sooyoung colocou as mãos no rosto da outra, segurando-o com delicadeza, e então fechou os olhos e inclinou o rosto pra frente, colando seus lábios nos lábios da outra, que ficou de olhos arregalados e imóvel.

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You're my sunshine
FanfictionHa Sooyoung é uma jovem de gênio forte e vinda de uma família problemática que quer viver apenas fazendo o que ama: tocar guitarra Sua vida, no entanto, vira de pernas pro ar quando sua mãe se casa com o reverendo Kim, e ela passa a conviver diariam...