“Filha, hoje eu vou ter um dia muito cheio, por isso vou ter que te pedir um favor.” Donghae começou, assim que estacionou o carro na frente da escola onde Jiwoo estudava. A garota estava no banco do passageiro, ao seu lado. “Eu vou precisar resolver algumas coisas sobre o casamento, e ainda prometi jantar com a Gyuri para tentar conversar com a Hyejoo, por isso eu queria te pedir pra seguir com a Sooyoung direto para a casa dela depois do ensaio e me esperar lá.”
Foi um pedido simples, uma coisa boba, mas que fez Jiwoo gelar ao ouvir. Ela arregalou levemente os olhos, e até segurou a respiração por um instante.
Seu incômodo foi tamanho, que até Donghae que era distraído, como todo homem, notou, e obviamente, estranhou.
“Está tudo bem, Jiwoo?” O homem perguntou, e a garota abriu balançou a cabeça e abriu um pequeno e tímido sorriso.
“Está sim, pai.” Mentiu. “Pode deixar, eu vou fazer isso.” Ela garantiu. “Sua benção.”
“Deus te abençoe.”
A jovem saiu rapidamente do carro, ainda nervosa.
Já estava sendo difícil para ela imaginar como iria ser seu reencontro com Sooyoung no ensaio, mas tinha a esperança de que poderia evitar o contato sozinha com a menina, porém, agora isso já não era mais possível.
Ela foi até a cantina, onde pediu um suco de laranja e ficou sentada sozinha em uma mesa, tentando colocar os pensamentos em ordem, enquanto tentava buscar a melhor maneira de lidar com aquela situação.
Já havia rezado tanto, pedido a Deus para iluminar seus pensamentos e lhe dar uma luz para que ela agisse da melhor maneira possível: sem magoar Sooyoung e também não ir contra as leis divinas, apesar de saber que as ações estavam em posições antagônicas.
“Ei, prima.” Hyunjin cumprimentou a garota, sentando-se a mesa. Yeojin estava junto e fez o mesmo. Jiwoo cumprimentou as duas, mas não conseguiu lhes dar a atenção que era de costume.
“Você anda estranha.” Yeojin comentou, chamando a atenção da filha do reverendo.
“Você está preocupada, eu sei.” Hyunjin afirmou sobre a prima. “Sei que deve estar se torturando por pensar em como as coisas vão estar hoje, mas no fundo, você sabe que não tem culpa de nada. Foi aquela garota quem começou toda essa confusão e não tinha como você saber que isso ia acontecer.”
Jiwoo ficou petrificada, até pálida, encarando Hyunjin totalmente temerosa após aquelas palavras.
Como ela poderia saber sobre o beijo com Sooyoung?
“Jiwoo, que cara é essa?” Yeojin questionou, preocupada com aquela reação, já que a outra parecia que iria cair desmaiada a qualquer momento. “Eu tenho certeza que quando a poeira abaixar, Heejin e Wonpil irão se entender novamente e reatar o noivado.”
“É, fique em paz sobre isso.” Hyunjin completou.
Foi como se Jiwoo tivesse levado um balde de água fria, que a fez acordar na hora. Se sentiu ridícula e vulnerável e até mesmo infantil.
Não tinha como ninguém saber de seu segredo mais sujo.
“Ah sim, eu... Eu acredito nisso também.” Ela disse, meio atordoada, e tomou um pequeno gole de suco.
E aquele era outro problema que iria ter que lidar naquela tarde. A briga de Heejin e Wonpil não era nada boa para o coral, mas a garota, que era mais velha e já não mais estava na escola, havia dito para a filha do pastor no Whatsapp, que iria honrar seus compromissos eclesiásticos, afinal, sua devoção para com Deus sempre fora e sempre seria maior do que qualquer briga com seu, agora ex, noivo.
Estava torcendo para Wonpil pensar da mesma maneira e não deixar aquela confusão lhe afastar do grupo musical.
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A preocupação com o jantar naquela noite estava impedindo Jiwoo de conseguir resolver a lista de exercícios matemáticos sobre logaritmo. A matéria já era chata e difícil, e a cabeça da menina estava longe, mesmo com seus olhos fixados naqueles números e letras.
Quando o sinal bateu, ela guardou seu material sem conseguir terminar a tarefa, coisa rara para ela, que era uma aluna tão aplicada.
Mas tudo bem, ela poderia terminar tudo nos próximos dias, e com fé, ela estaria com os pensamentos tranquilos e poderia focar sua atenção a matemática.
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Ao fim das aulas, Jiwoo decidiu seguir direto para a igreja, evitando seguir com Hyunjin e Yeojin, que gostavam muito de falar e ficavam o caminho todo tagarelando sobre os ocorridos na escola e na igreja. O assunto, com certeza, seria Heejin e Wonpil, e a garota não estava com cabeça para isso.
Não estava com muita fome, então um lanche simples foi mais do que suficiente para lhe fornecer energia para o resto da tarde.
A verdade era que a medida que seu inevitável encontro com Sooyoung se aproximava, ela se sentia mais nervosa e com medo. Havia mentido para fugir da mais velha no culto, mas agora precisava encarar o problema com toda a coragem que possuía.
Entrando na igreja, ela foi até o altar, onde se ajoelhou, juntou as mãos e começou a orar, suplicando a Deus para que Ele permanecesse ao seu lado naquele momento tão difícil.
Não entendia porque aquilo estava acontecendo com ela, uma menina que sempre seguiu a Palavra, cresceu dentro dos ensinamentos do Evangelho, e sempre obedeceu, sem questionar, tudo o que havia sido lhe ensinado sobre a Bíblia.
Sabia que era algo errado questionar os planos do Senhor, afinal, Ele era perfeito e sábio, não deixando nada acontecer sem que houvesse um plano por trás, pois tudo acontecia por uma razão, e muitas vezes pessoas falhas não conseguiam compreender.
“...Me dai forças para agir e sabedoria para entender o que está acontecendo, meu Senhor.” A garota sussurrava com toda a sinceridade em seu coração. “Eu suplico-lhe, Pai, se eu for merecedora de sua bondade e amor, que não vire as costas para mim, nesse momento que eu preciso tanto de Ti. Eu preciso de Sua misericórdia, meu Pai, por favor, não me abandone.” Ela implorou e para encerrar, rezou um Pai Nosso.
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Donghae e Gyuri estavam separando os convites de casamento, os quais eles iam sair para entregar naquela tarde, e a discrepância entre o número de convidados de um para o outro era gritante. A lista de convidados do reverendo tinha quase o triplo de pessoas de sua noiva.
“Gyuri, me perdoe a indiscrição, mas eu não posso deixar de te perguntar sobre a sua família.” O homem começou, chamando a atenção da mulher.
“Como assim?” Ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.
“Seus pais.” Ele respondeu, e Gyuri crispou os lábios, com um certo nervosismo. “Você não vai convidar os seus pais pro nosso casamento? Quer dizer, você nunca me falou nada sobre eles, sua família é apenas você, Sooyoung e Hyejoo?”
Gyuri suspirou, desviou os olhos.
“Eu não tenho mais contato com os meus pais.” Ela respondeu. “Eles não receberam bem a minha gravidez, ficaram muito envergonhados, então, eu me afastei, pro bem de todo mundo.”
“E você nunca pensou em se reaproximar? Agora é uma boa oportunidade pra isso, não acha?” O rapaz sugeriu e Gyuri balançou a cabeça negativamente.
“Quando eu me casei com o Yangnam eu mandei um convite pra eles, mas não adiantou, eles não apareceram na cerimônia, não querem mais saber de mim e nem das minhas filhas.” Ela respondeu entristecida, e o homem abaixou os olhos, percebendo a tristeza nos olhos de sua futura esposa.
“Seus pais foram muito duros com você.” Ele comentou.
“Sim, mas eu não posso culpá-los, eu fui uma péssima filha.” Gyuri respondeu envergonhada. “Eu sempre digo que não entendo o motivo de Sooyoung e Hyejoo serem como são, mas eu fui uma filha pior para os meus pais, joguei a honra da família na lama. Talvez as minhas filhas sejam uma penitência, um castigo de Deus por eu ter feito tantas coisas erradas contra tantas pessoas.”
“Acho que você não deveria pensar dessa forma, Deus é amor.” Donghae tentou consolá-la.
“Deus é amor, mas também é fogo consumidor.” Ela o corrigiu, mas tentou se recompor da melhor maneira possível. “A verdade é que meus pais nunca aceitaram o fato de não saberem quem foi que me engravidou. Eles queriam que eu falasse quem era o pai do meu bebê, porque queriam que eu me casasse com ele e assim amenizar o escândalo, mas isso era algo impossível.”
“E por que impossível?” Donghae questionou, bastante curioso, afinal a paternidade de Sooyoung era um tabu sobre o qual Gyuri nunca comentava.
“Donghae, eu não quero falar sobre isso.” A mulher respondeu, visivelmente desconfortável e suspirou. “Nós temos muitos convites pra entregar, se ficarmos aqui jogando conversa fora, não vai dar tempo de fazer tudo o que a gente precisa.”
“Você está certa.” O reverendo concordou, não estendendo aquela conversa que deixava a mulher sem jeito. “Vamos.”
E então, os dois seguiram para entregar os convites do casamento.
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Jiwoo dedilhava as teclas do piano, tocando notas que aos poucos foram se formando a doce melodia de uma conhecida canção: “Out here on my own”, de Irene Cara. Um clássico dos anos 80, trilha sonora do filme “Flashdance”.
“When I'm down and feeling blue. I close my eyes so I can be with you. Oh baby, be strong for me. Baby, belong to me. Help me through. Help me, need you.”
“Uou... Muito bom.” Jiwoo gelou e arregalou os olhos ao ouvir aquelas palavras. Engoliu em seco, antes de se virar lentamente e ver Sooyoung entrando na igreja, sorrindo.
A primogênita de Gyuri não sabia como abordar a outra menina, então, ao chegar para o ensaio um pouco antes do horário combinado, para que pudessem conversar e esclarecer a situação, e ver Jiwoo cantando, ela decidiu aproveitar a deixa e puxar assunto falando da performance.
“Eu não vi que você estava aí, Sooyoung.” A menina comentou baixo, desviando o olhar.
“Eu acabei de chegar, na verdade.” Ela respondeu, tentando não demonstrar o quanto estava nervosa naquele momento. “Eu queria conversar com você, esclarecer as coisas.”
Jiwoo crispou os lábios, visivelmente ansiosa ao ouvir aquilo, e voltou sua atenção e seus olhos para as teclas pretas e brancas de seu instrumento musical.
“Jiwoo, por favor, não me ignore.” A garota mais velha pediu, sentindo seu coração desesperado com o que poderia vir a acontecer durante aquela conversa.
A verdade é que ela não estava preparada para ouvir palavras que pudessem lhe machucar, mesmo sabendo que a probabilidade disso acontecer ser grande, dada o ambiente no qual a garota havia sido criada.
“Por que você fez aquilo?” Jiwoo perguntou de supetão, ainda olhando para o piano, deixando Sooyoung apreensiva pois não tinha uma resposta para tal questionamento.
A filha do reverendo suspirou fundo, e então se virou para encarar Sooyoung. Queria olhar em seus olhos enquanto ela lhe respondia.
“Eu não tenho nada pra dizer, Jiwoo.” Sooyoung respondeu sincera, mas aquilo não foi convincente para a religiosa, que ao ver Sooyoung novamente, sentiu uma sensação estranha.
“Você fez aquilo pra zombar de mim?” Jiwoo perguntou, machucada.
“Não!” Sooyoung negou com veemência. “Eu nunca faria isso pra te machucar, pra te magoar, eu... Eu gosto de você, Jiwoo.”
Aquelas palavras foram ditas da forma mais sincera possível e foram capazes de deixar a religiosa em pânico. Isso ficou claro em seu olhar.
“É... Não, eu não quis dizer desse jeito.” Sooyoung explicou tratando de desfazer qualquer mal-entendido, e se aproximou de Jiwoo, que parecia paralisada. “Eu não estou mentindo, eu só quero que nossa amizade volte a ser como era antes. Não queria estragar tudo, por nós e pelos nossos pais.”
Jiwoo sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto, e então a enxugou rapidamente.
A felicidade de Donghae era algo muito importante para a jovem. Seu pai havia feito de tudo para ela, principalmente após a morte de sua mãe, e agora ela não podia estragar a chance dele ser feliz com uma nova esposa, pois ela não poderia estar para sempre ao seu lado, já que o ciclo natural da vida era ela encontrar um marido, formar uma família com ele, e inevitavelmente acabar não podendo cuidar de Donghae por estar ocupada demais com sua própria família.
Ele precisava de Gyuri para não passar a velhice na solidão.
“Está bem.” Jiwoo concordou por seu pai e também porque o horário do ensaio estava perto, e logo seus colegas estariam ali. Já bastava a situação embaraçosa envolvendo Wonpil e Heejin, então, tudo o que ela não precisava era de um outro foco de boatos no grupo, ainda por cima envolvendo o seu nome.
Sooyoung, no entanto, sorriu, sentindo seu coração um pouquinho mais leve, mas ainda tinha um certo receio de que a amizade com a filha do reverendo não seria mais a mesma.
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Hyejoo e Chae Won estavam na sala da casa da primeira, cada uma jogada em um sofá, com seus celulares em mãos, jogando, como de costume.
“Nossa, se eu pudesse eu teria um dinossauro de animal de estimação.” Chae Won comentou, enquanto alimentava seu exemplar de coritossauro, em Jurassic World.
Hyejoo riu ao ouvir aquilo.
“Fala sério, Chae Won, você tem medo até de lagartixa, como ia cuidar de um dinossauro, que é tipo uma lagartixa de cinco metros?” Ela perguntou rindo. “Sem contar que eles poderiam te engolir em dois tempos.”
“Nem todo dinossauro era gigante e muito menos carnívoro.” Chae Won corrigiu a amiga. “E você deveria ter usado o exemplo de uma galinha, já que as aves são os dinossauros modernos, e a galinha é a parente mais próxima do T-Rex.”
Hyejoo riu ainda mais ao ouvir aquilo.
“Pra você ver, né? Antes era o mais temido dos predadores, agora é uma porcaria de um bicho burro que todo mundo come.” Hyejoo comentou com desprezo.
“Não fala assim da galinha, tadinha.” Chae Won reclamou.
“Só estou pensando em como a vida é irônica, e as coisas mudam. Um dia você é o rei da porra toda, no outro, é o prato servido na mesa do mundo todo.” A morena explicou.
“Mas isso demorou milhões de anos pra acontecer, não foi coisa de um dia pro outro assim, não.” Chae Won disse e recebeu um olhar aborrecido da amiga. “O que foi?”
“É uma metáfora, sua lesada!” Hyejoo esbravejou, fazendo Chae Won até estremecer e se encolher um pouco no sofá. “Acha que eu sou burra? Que eu penso que o bicho foi dormir tiranossauro e acordou galinha?”
“Não, claro que não.” A loira respondeu. “Eu só fiz um comentário, não quis te ofender.” Ela esclareceu, parecendo entristecida, fazendo Hyejoo se arrepender da forma agressiva que acabara de usar com a amiga.
“Me desculpa, Chae, é que eu ando muito irritada com tudo o que vem acontecendo aqui em casa.” Hyejoo falou, envergonhada. “Me desculpa pela grosseria.”
Chae Won, que não era rancorosa, logo abriu um sorriso, deixando Hyejoo saber que já estava perdoada, e então, ela deixou seu jogo no celular de lado.
“Que tal se a gente fosse comprar alguma coisa gostosa pra comer enquanto assiste alguma coisa na Netflix?” Hyejoo sugeriu, e Chae Won abriu um largo sorriso, já se levantando animada.
“Vamos.” Concordou, e assim, as duas amigas saíram de casa, rumo a uma pequena loja de conveniência que ficava na quadra vizinha, onde poderiam comprar besteiras para se entupirem de porcaria, como qualquer adolescente normal, enquanto assistiam TV.
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Na igreja, o ensaio progredia em um ritmo normal, mas a atmosfera estava muito diferente, bastante pesada e com exceção das músicas, pouca coisa era ouvida saindo da boca dos jovens, apenas palavras em relação ao próprio ensaio eram trocadas.
Heejin e Wonpil estavam visivelmente desconfortáveis, e o rapaz era quem demonstrava mais incômodo, lançando olhares furtivos para a garota toda vez que ela cantava. Era como se ele quisesse se aproximar para conversar, mas estivesse sem jeito.
Quando o ensaio terminou, o rapaz se aproximou da jovem, de um jeito acanhado, com as mãos para trás.
“Oi, Heejin.” Ele falou baixo, enquanto a outra arrumava suas folhas na pasta. “Nós podemos conversar?”
“Não.” Ela respondeu seca, e então desviou dele para seguir até a saída. Mas Wonpil foi atrás, determinado a conseguir uma conversa com a ex-noiva.
“Heejin, por favor, não seja tão intransigente, nós vamos mesmo jogar nossa relação de tanto tempo por causa de uma besteira? De um mal-entendido?” Ele insistiu, segurando na mão da garota e a impedindo de andar.
“Wonpil, não me obrigue a falar com você, eu não quero!” Ela falou com raiva, mas ao olhar para o rosto do rapaz, ela se sentiu bastante entristecida e também mexida, pois o amava muito. “Eu preciso de um tempo, por favor respeite isso.”
“Está bem.” Wonpil concordou, soltando a mão da garota, e visivelmente chateado, pegou suas coisas e foi embora após uma despedida bem rápida de seus colegas de banda, enquanto Heejin se sentou em um dos bancos, debruçando-se no da frente, e começando a chorar.
O gesto fez com que Yeojin, Hyunjin e Jiwoo fossem até ela, lhe consolar, enquanto Sooyoung se manteve há alguns metros de distância, próxima dos demais rapazes. Estava se sentindo culpada, apesar de não ter culpa alguma na situação, pois todo aquele sofrimento havia sido causado por sua irmã caçula, e mesmo que ninguém tivesse lhe dito nada, não era boba, havia percebido olhares reprovadores e acusatórios sobre si, principalmente por parte de Hyunjin.
“Heejin, por favor, se acalme.” Jiwoo pediu, sentando-se ao lado da jovem e segurando em suas mãos.
“Nós sabemos que você tá chateada, mas pense bem, o Wonpil não é um canalha, já que ele não cedeu às investidas daquela vadia...” Hyunjin falou, tentando consolar sua amiga.
“Hyunjin!” Jiwoo chamou a atenção da prima, pela falta de respeito, tanto com Hyejoo, quanto com Deus, por usar um termo de baixo calão dentro da igreja.
“Olha como você fala da minha irmã!” Sooyoung esbravejou, aproximando-se de Hyunjin, segurando em seu ombro e a virando com força para encará-la.
A agressividade da garota deixou todos em choque, e Jiwoo se viu obrigada a intervir na discussão, antes que algo horrível acontecesse dentro da igreja de seu pai.
Donghae ficaria furioso se a sua futura enteada se desentendesse fisicamente com sua sobrinha dentro do templo que o mesmo dirigia.
“Quem você pensa que é pra falar desse jeito comigo?” Hyunjin indagou Sooyoung, sem demonstrar nenhuma intimidação.
“E quem você pensa que é pra falar da minha irmã desse jeito?” Sooyoung retrucou no mesmo tom.
Sim, ela tinha plena consciência de que Hyejoo estava longe de ser um anjo, mas não iria permitir que ninguém atacasse sua irmã, ainda mais usando aqueles termos misóginos.
“Vocês duas parem agora! Vocês estão dentro de uma igreja!” Jiwoo as advertiu, colocando-se no meio das garotas. “Hyunjin, peça desculpas e retire o que disse.”
“Por que eu vou ter que pedir desculpas se foi ela quem me atacou?” A mais jovem perguntou, como se tivesse ouvido uma ofensa pessoal.
“Foi você quem começou falando coisas indevidas!” Jiwoo respondeu, impaciente.
Hyunjin revirou os olhos, cruzou os braços e se virou, como se fosse embora.
“Desculpa.” Falou baixo e com muita má vontade, mas Sooyoung decidiu aceitar aquele pedido, obviamente falso, mesmo assim, afim de evitar maiores conflitos.
Sooyoung suspirou, se sentindo exausta emocionalmente, pegou a guitarra e saiu da igreja, lembrando-se do pedido de seu pai, no entanto, fez Jiwoo ir atrás dela para o desgosto de Hyunjin.
“Meu tio trouxe as próprias víboras para dentro da igreja.” A garota murmurou e depois olhou para Yeojin, que assentiu.
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Sooyoung saiu da igreja com o mesmo nervosismo que chegou. Como se não bastasse toda a questão daquele beijo com Jiwoo, agora tinha essa confusão enorme criada por Hyejoo. Parecia até castigo.
“Sooyoung, espera!” Jiwoo chamou, andando com passos apressados para alcançar a filha de Gyuri, que parou e olhou para trás.
“Eu sei que você deve tá ainda mais chateada comigo agora, me desculpa pelo o que eu fiz, mas é que eu não gosto que falem mal da minha família assim...” Ela começou tentando amenizar a situação e limpar a sua barra.
“Na verdade, não é por isso que estou aqui.” Jiwoo respondeu, deixando a outra se sentindo uma verdadeira pata. “Meu pai me pediu pra que eu lhe acompanhasse após o ensaio, nós vamos jantar na sua casa hoje.”
“Ah sim, é... Tudo bem, vamos.” Sooyoung respondeu, sem graça, já que não sabia do tal encontro em sua casa mais tarde.
“Eu ainda preciso pegar as minhas coisas e fechar a igreja. Vou tentar não demorar.” Jiwoo assegurou.
“Tá, eu te espero aqui fora, então.” Sooyoung respondeu a abriu um sorriso tímido, enquanto a filha do reverendo retornou para a parte interior do templo.
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Após chegarem da loja de conveniência trazendo bolinhos, refrigerantes, pipoca e chocolates, Chae Won convenceu Hyejoo a assistir “Jurassic World: Reino Ameaçado”, que era um de seus filmes favoritos.
“Olha só que gracinha.” Chae Won comentou com um sorriso enorme e os olhos brilhando. “A Blue é tão fofinha, tão cute cute.”
Hyejoo olhou com certo desdém para a amiga.
“Credo, que bicho horroroso.” Ela ironizou, e Chae Won fez uma careta.
“Não fala assim da minha Blue.” Chae Won pediu com a voz fofinha, manhosa, colocando os indicadores na bochecha e um biquinho.
Hyejoo riu da tentativa de aegyo da amiga, que estava sendo muito engraçada, mas também bonitinha, ela precisava admitir.
“Não adianta, seu aegyo não me convence que esse bicho horroroso é fofo.” Hyejoo falou, então a outra mudou sua postura e levou as mãos na cintura e fez uma expressão se fingindo de brava e depois caiu na gargalhada junto da amiga.
Ok, Chae Won tinha suas esquitices, mas era a única pessoa que conseguia divertir Hyejoo e não deixar sua vida ser cem por cento uma merda.
Não demorou para que a porta se abrisse.
Sooyoung e Jiwoo chegaram ali, e ao ver a irmã, Hyejoo mudou a expressão instantaneamente. Ver Jiwoo ali também não ajudou, pois a menina nunca ia sua casa sozinha, sempre seu pai estava junto, e sua presença significava que Donghae também apareceria, e a jovem sabia exatamente o porquê.
Jiwoo, no entanto, sorriu e cumprimentou as duas garotas e havia reconhecido a loirinha da visita a igreja na semana anterior.
“É bom você já ir se acostumando com a ilustre visita, já que ela vive mais aqui do que na própria casa, logo vai viver mais na sua.” Sooyoung comentou ácida, referindo-se a Chae Won, que ficou visivelmente desconfortável e até viu seu sorriso murchar com aquela patada gratuita.
“Vai ser um prazer.” Jiwoo falou sorrindo, tentando amenizar a situação, apesar do enorme incômodo com aquele clima bélico que pairava sobre a casa de Gyuri.
Viver no fogo cruzado entre as irmãs não iria ser nada fácil.
“Está com fome, Jiwoo?” Sooyoung perguntou, indo pra cozinha.
“Não, obrigada.” Ela respondeu, e não mentiu, porque estava acontecendo tantas coisas, sentindo tantas emoções, que seu estômago estava sempre embrulhado.
Andou timidamente e se sentou bem no canto de um sofá vazio, cabisbaixa, olhando para as próprias mãos, enquanto estralava os dedos, tentando se distrair.
Não sabia quanto tempo iria demorar para Donghae chegar, mas estava pedindo a Deus para que não demorasse muito.
O caminho da igreja até a casa com Sooyoung havia sido muito silencioso e até mesmo desconfortável para ambas. Aquela situação toda de casamento, que de início parecia uma boa ideia, agora estava se tornando um pesadelo para Jiwoo, mas ela precisava se manter firme, pelo seu pai.
Sabia que todos na vida passavam por provações divinais, e a sua estava apenas começando. Tentava pensar sempre em Jesus, nos desafios que ele havia tido em vida: perseguido mesmo antes de nascer, tentado quarenta dias pelo diabo no deserto, traído por um amigo, crucificado e morto pelo seu próprio povo, mas antes de tudo, uma pessoa que nunca desistiu ou mesmo reclamou de seu calvário.
Óbvio que nem ela, nem qualquer outra pessoa, se equiparavam a um grande e benevolente mestre como Jesus, mas como cristã, pensava que sempre deveria agir como ele.
Precisava de força e dedicação para passar pelo grande desafio que seria viver ao lado de duas garotas difíceis como Sooyoung e Hyejoo, e se lembrar que a sua cruz jamais seria tão pesada quanto a de Cristo.
A menina ficou na sala o tempo todo, evitando Sooyoung de forma velada, e até começou a prestar a atenção no filme e se entreter com aquilo, enquanto a outra foi para o quarto, onde começou a treinar com a guitarra para a infelicidade de Hyejoo, que ficou reclamando do barulho e aumentou o som da TV exageradamente em resposta.
Cerca de uns 40 minutos depois Donghae e Gyuri chegaram e ficaram surpresos por encontrar Jiwoo na companhia de Hyejoo e não da de Sooyoung, com quem ela havia desenvolvido uma visível amizade.
“Que bom te encontrar por aqui, Chae Won, vou aproveitar e te entregar um convite do meu casamento.” Gyuri falou simpática, e entregou um envelope, que era azul bebê com um lacre prateado, para a jovem.
“Muito obrigada.” Ela agradeceu, abrindo o envelope. “ “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não sente inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” Coríntios, capítulo 1, versículos 4-7.” Ela leu a frase inicial do papel. “Achei muito lindo.”
Hyejoo revirou os olhos e fez uma careta, murmurando “cafona” bem baixinho.
Jiwoo já conhecia aqueles versos há muito tempo. Mas ouvi-los naquele instante, fez sua mente viajar e pensar em uma porção de coisas que foram desde sua mãe, a luta contra o câncer e consequente morte.
Pensou em como o seu pai sofreu acompanhando a esposa a cada sessão de quimioterapia, acreditou a cada oração em meio a lágrimas e desespero noite após noite, esperou pela cura que não veio e suportou a morte de sua companheira, conseguindo criar a filha sozinho.
Inevitavelmente pensou em Sooyoung também. Talvez estivesse irada, guardando rancor pelo ocorrido, e que não deveria se alegrar em afastar-se dela, por talvez estar cometendo uma injustiça, mas contentar-se com a verdade, e a verdade era que não importava o tipo de pessoa que a garota fosse, ela não era um monstro e merecia mais respeito e consideração por parte dela.
A imagem do beijo proibido passou por sua cabeça, mesmo com ela tentando bloquear aquela lembrança. Sentiu seu corpo paralisado e gelado, como se todos pudessem ver o que estava pensando.
Sabia que era impossível, então respirou fundo, pediu licença e se levantou do sofá, caminhando enquanto seguia o som dos acordes tocados pela filha mais velha de Gyuri, até encontrá-la, sentada na cama de seu quarto, focando totalmente no instrumento.
Sooyoung estava tocando “Still loving you” da banda Scorpions.
“Love. Only love can break down the wall someday. I will be there. I will be there...” Ela cantava, mas parou instantaneamente ao ver Jiwoo ali na porta. “O que você tá fazendo aí?” Ela perguntou ansiosa e até meio grosseiramente.
“Desculpa, você estava tão entretida, não quis te atrapalhar.” A religiosa se desculpou. “Posso entrar?”
“Claro.” Sooyoung respondeu, e a mais nova adentrou o quarto, sentando-se ao lado da jovem rockeira, enquanto pensava silenciosamente que não haveria problema algum, pois havia mais gente na casa.
“Cansou de ficar com a Hyejoo?” A mais velha perguntou ironicamente, demonstrando que havia percebido o quanto a outra estava a evitando, mas antes de Jiwoo responder qualquer coisa, Gyuri entrou no quarto.
“Com licença, meninas.” A mulher falou ao chegar no local, fazendo as duas garotas ligassem para ela. “Eu queria fazer um pedido pra você, filha.”
“Pode falar, mãe.” A garota respondeu, solicita e com um pequeno sorriso.
“Eu gostaria que você convidasse aquela amiga que você mencionou no hospital pro meu casamento e também pra vir jantar hoje com a gente.” Gyuri disse, enquanto Sooyoung ficou alguns segundos olhando para a mãe, sem reação.
“Você quer que eu chame a Kahei pra vir aqui em casa?” Ela perguntou, ainda não acreditando no que tinha acabado de ouvir.
“Sim, eu estou tentando ser uma mãe mais presente, e como todo mundo já conhece a Chae Won, acho que seria adequado conhecer a sua amiga também.” A mulher explicou.
Sooyoung engoliu em seco, tendo impressão de que aquilo não daria muito certo.
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You're my sunshine
FanficHa Sooyoung é uma jovem de gênio forte e vinda de uma família problemática que quer viver apenas fazendo o que ama: tocar guitarra Sua vida, no entanto, vira de pernas pro ar quando sua mãe se casa com o reverendo Kim, e ela passa a conviver diariam...