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“Pai, eu sei que o senhor prometeu vir aqui para conversar com a Hyejoo, mas será que não dá pra fazer isso outro dia? Eu estou me sentindo muito cansada hoje.” Jiwoo falou baixo com Donghae, aproveitando o momento em que ficou sozinha com ele na cozinha.
“Mas eu vim aqui justamente para isso.” O homem explicou calmamente, mas a garota estava impaciente, já sentindo um verdadeiro impulso de sair correndo dali, se trancar em seu quarto e não sair de lá nunca mais.
“Essa conversa pode se estender e eu realmente estou cansada.” Insistiu, e como não era habitual da garota contrariar o pai, Donghae ficou receoso e desconfiado daquele comportamento.
“Aconteceu alguma coisa, Jiwoo?” O reverendo perguntou, colocando as mãos na cintura, e a garota desviou o olhar e em seguida fez que “não” com a cabeça. “Eu prometi para a Gyuri que iria ter essa conversa com a Hyejoo e eu não posso desistir agora. Eu só peço um pouco de paciência, prometo que não vou me estender por muito tempo.”
“Tudo bem, eu espero.” A garota concordou a contragosto, e então com seu pai seguiu para a sala, onde estavam Gyuri e Hyejoo. A mãe de Chae Won havia acabado de ir lhe buscar e a levado para casa.
Jiwoo logo notou a ausência de Sooyoung, mas nem foi preciso perguntar nada, já que a mãe da jovem andou até a janela, puxou a cortina e espiou do lado de fora.
“Pra quem estava com tanta pressa, essa Kahei até que tá demorando demais pra ir embora.” A mulher comentou com certa desconfiança, já que fazia vários minutos que Sooyoung estava dentro de seu carro.
Jiwoo, que havia acabado de se sentar em um sofá apenas abaixou a cabeça, tentando controlar os vários pensamentos que passaram a rondar a sua mente após ouvir aquilo. E pra piorar, todos lhe faziam sentir um grande incômodo.
Não havia gostado daquela garota. Não mesmo. Havia algo nela... Algo de ruim e que exalava pecado, mas Jiwoo estava lutando para não pensar naquilo, até porque não era nada de sua alçada, pelo menos por enquanto.
Donghae se manteve em silêncio por um tempo, demonstrando estar pensativo, talvez pensando na forma ideal de abordar a filha caçula de sua futura esposa.
“Hyejoo, você pode me acompanhar até lá fora? Eu preciso trocar algumas palavras com você?” O reverendo perguntou da forma mais cordial possível e com um sorriso amigável nos lábios.
Hyejoo apenas virou os olhos em sua direção.
“Não.” Ela respondeu na lata, de forma bastante insolente e com o rosto sem qualquer expressão.
O rosto de Gyuri ficou vermelho num segundo, mas a mulher se esforçou e conseguiu conter o grito que soltaria por instinto diante daquele ato rebelde. Ela respirou fundo e passou a mão pelo rosto.
“Hyejoo, nós já tínhamos conversado sobre isso.” Gyuri falou baixo, mas pelo tom em sua voz, a adolescente sabia que sua mãe estava se ardendo de raiva e isso a deixava satisfeita. “Hyejoo, cumpra o combinado.” A mulher insistiu.
“Eu não combinei nada com você, mãe.” A menina respondeu calmamente. “Eu não acho isso justo.”
“Não acha o quê justo? Se eu me lembro bem, você foi a única que fez coisas que não deveria nos últimos tempos, não?” Gyuri argumentou com a filha, e naquele instante Jiwoo engoliu em seco e abaixou a cabeça envergonhada.
Se Gyuri soubesse que não era apenas Hyejoo quem havia cometido pecados nos últimos dias...
“Hyejoo, seja razoável, sua mãe está se esforçando para que você e Sooyoung sigam o caminho do bem.” Donghae interviu de forma amigável, atraindo a atenção da garota. “Quando eu era garoto, mais ou menos da sua idade, eu saí escondido para ir ver um filme no cinema, nós fomos de bicicleta e quando eu cheguei em casa, meu pai estava lá, me esperando com um cinto de couro na mão e a Bíblia na outra.” As palavras de Donghae surpreenderam Jiwoo, que não conhecia aquela história. “Eu levei umas boas cintadas, que me deixaram com dor para me sentar para almoçar no outro dia, mas, a lição que o meu pai deu foi o que ele me mostrou da Bíblia.” Ele prosseguiu. “Ele abriu em Provérbios, capítulo 29, versículo 15... Me lembro bem até hoje... E leu pra mim: “a vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha sua mãe.””
Hyejoo não disse nada, apenas estava em choque por saber que o reverendo Kim era uma pessoa que tinha apanhado dos pais e achava normal, porque a Bíblia dizia que era o certo.
“Hyejoo, nós somos pais, mas também somos filhos, filhos de Deus.” O rapaz prosseguiu. “Deus não pune Seus filhos para-lhes causar sofrimento, Ele nos pune para nos ensinar, para que possamos melhorar e Lhes-dar apenas graça e alegria. Nesse ponto, nenhum pai ou mãe é muito diferente de Deus, porque se a sua mãe foi dura com você às vezes, é porque ela só queria o seu bem, mas nós não somos perfeitos como Deus, por isso, podemos errar com nossos filhos também, mas isso não significa que não os amamos.” O homem explicou, então Hyejoo olhou para Gyuri e viu que a mulher tinha lágrima nos seus olhos. “Você deve pedir perdão a sua mãe por ter falado com ela naquele tom, Deus nos deixou Dez Mandamentos e entre eles está honrar pai e mãe, portanto, peço para que respeite sua mãe.” Ele completou com um tom de voz mais firme e claramente dando uma ordem.
Hyejoo abaixou a cabeça, sentindo-se pressionada. Sabia que tinha sido mal educada com Gyuri mesmo, mas não estava gostando de ter seus atos ditados pela Bíblia.
Nesse instante Sooyoung entrou na sala, e logo se assustou com o clima que ali estava, tanto que permaneceu parada perto da porta sem dizer nada.
Após alguns segundos, Hyejoo suspirou fundo, levantou a cabeça e olhou para Gyuri.
“Me perdoe por falar naquele tom com você, mãe.” A garota disse, parecendo meio acuada.
Sooyoung ficou de olhos arregalados e boquiaberta, totalmente surpresa, porque se tinha uma coisa que a sua irmã caçula não fazia, isso era pedir desculpas por ter falado de maneira agressiva com Gyuri.
A mulher assentiu, abriu um pequeno sorriso e depois se aproximou da garota e lhe deu um beijo na testa.
“Os filhos são uma herança do Senhor, uma recompensa que Ela dá. Salmos.” Donghae disse sorrindo. “Agora eu vou falar pra vocês três, Hyejoo, Sooyoung e Jiwoo. Nós estamos muito próximos de nos tornar uma única família, algo que eu desejo de todo o meu coração, seja bom para todos, mas com isso virão mudanças e todos nós precisaremos nos adaptar e oferecer a nossa cota de sacrifício, Gyuri e eu como pais e vocês três como filhas e também como irmãs.”
Ao ouvir aquilo, Jiwoo sentiu um peso no coração que fez doer seu peito. Era a culpa. Como poderia conviver como irmã de uma garota que havia lhe roubado um beijo, lhe deixado tão desconcertada apenas por estar de toalha e lhe feito começar a pensar em coisas que ela jamais deveria.
Todos deveriam dar a sua cota de sacrifício, mas Jiwoo estava ciente que a dela seria um pouco maior do que a dos demais.
“Eu farei de tudo para que sejamos uma família feliz e guiada sempre pelas mãos do Nosso Senhor Jesus Cristo.” Ele concluiu.
Enquanto Jiwoo mantinha a cabeça baixa, Sooyoung estava incomodada com aquilo. Ela sabia desde o início que esse tipo de coisa iria acabar por acontecer, mas ela não poderia ver Jiwoo como sua irmã, e esse tipo de pensamento a irritava, não por birra adolescente nem nada do tipo, era apenas o fato de que Jiwoo e ela não haviam nascido para serem irmãs e nunca seriam.
“Eu espero que vocês possam aproveitar bem os últimos dias nessa antiga casa e também já irem preparando as coisas que pretendem levar com vocês.” Ele disse, agora de forma mais amigável.
“Nós já vamos começar a arrumação na próxima semana.” Gyuri explicou e sorriu.
“E pra terminar essa conversa e tudo ficar bem esclarecido, eu te faço mais um pedido, Hyejoo.” Donghae prosseguiu. “Eu gostaria que você fosse pedir desculpas a Heejin pelo ocorrido entre vocês duas.”
Hyejoo arqueou uma sobrancelha, não gostando do que estava ouvindo, apesar de saber que era exatamente por isso que ele estava ali em sua casa.
“A Heejin é uma menina que cresceu na igreja, faz parte do coral e é filha de um casal muito importante para nossa comunidade, e eu não quero que nenhum membro da minha família tenha problemas com sua família.” Ele completou.
Hyejoo se manteve em silêncio, cruzou os braços e abaixou a cabeça.
“Hyejoo, por favor, faça o que o Donghae está pedindo, e então todos botaremos uma pedra nesse assunto.” Gyuri argumentou, e após bufar a garota apenas balançou a cabeça, concordando em se desculpar apenas por falta de outras opções.
Gyuri e Donghae se entreolharam e sorriram satisfeitos, apesar da visível má vontade de Hyejoo.
“Bom, sendo assim, já podemos voltar pra casa, minha filha.” Donghae falou para Jiwoo, e a garota prontamente se levantou. Tudo o que ela mais queria naquele momento era sair dali. “Muito obrigado pelo jantar, estava tudo maravilhoso.”
O reverendo abraçou Gyuri com carinho.
Pai e filha se despediram do resto da família, e sem demora foram embora.
“A louça é de vocês.” Gyuri falou para as garotas e seguiu para o banheiro.
“Você lava e eu seco.” Sooyoung falou rapidamente.
“Tá bem, mas é só porque eu tô te devendo uma.” Hyejoo respondeu, deixando a mais velha intrigada. “A Jiwoo me contou o que você fez.”
“O quê?” Apesar do tom estranhamente amigável de sua irmã, aquelas palavras deixaram Sooyoung com o já conhecido desconfortável frio na barriga, e isso foi transferido para a sua expressão facial. “O que a Jiwoo te disse?”
“Ela me contou que você quase arrumou uma briga na igreja pra me defender daquelas crentelhinhas.” Hyejoo disse, e o alívio de Sooyoung foi tamanho, que ela até respirou aliviada. “Valeu.”
“De nada.” Sooyoung respondeu e abriu um pequeno sorriso e então se levantou e seguiu para a cozinha, seguida por Hyejoo, que havia ficado desconfiada da reação da primogênita.
“Tinha mais alguma coisa que a Jiwoo podia ter me contado, Sooyoung?” Ela perguntou em um tom claramente provocativo.
“Claro que não.” Sooyoung respondeu seca, enquanto a mais nova começou a lavar a louça.
Hyejoo não se convenceu daquela resposta, mas decidiu não prosseguir com as provocações, já estava de saco cheio depois daquela conversa com o reverendo Kim e não queria se aborrecer ainda mais com uma briga.
“Agora eu entendi porque a Jiwoo é daquele jeitinho todo nhenhenhem não-me-toque.” Hyejoo começou, e apesar de Sooyoung não concordar com aquilo, ela deixou a sua irmã desabafar. “Com um pai mala daqueles não tinha como ela ser diferente, fico até com dó.” A garota prosseguiu reclamando. “’Não quero que ninguém da minha família tendo problemas com a Heejin'” Ela engrossou a voz para fazer uma imitação de Donghae. “Eu não sou da família dele, não tenho que obedecer um homem que não é o meu pai.”
Hyejoo suspirou fundo, lembrando-se de Yangnam.
“Meu pai podia dar uns gritos comigo de vez em quando, mas ele não era um babaca que tentava justificar as pancadas que a gente levava com frases de um livro escrito por sei lá quem séculos atrás.” Hyejoo disse cabisbaixa e com a voz embargada, se segurando para não chorar, o que fez Sooyoung se compadecer e tocar no ombro da irmã.
“Hyejoo, não fique assim.” A mais velha tentou consolar a outra, mas não sabia quais palavras dizer.
“Eu sinto tanta falta dele.” Hyejoo desabafou, já não conseguindo conter suas lágrimas, e isso fez com que Sooyoung se sentisse culpada por ter dito para a irmã que seu pai a havia abandonado e diretamente ter causado um distanciamento maior entre eles, com Hyejoo o bloqueando nas redes sociais.
“Por que você não vai falar com ele? Chama ele no WhatsApp.” Sooyoung sugeriu, tentando amenizar um pouco aquela situação.
“Do que adianta? Ele tá lá em outro continente, vivendo como um homem solteiro e sem filhos, nem lembrando da minha existência.” Hyejoo respondeu, verdadeiramente magoada, pois na primeira oportunidade, seu pai saiu do país, sem nem se importar em viver há milhares de quilômetros de distância de sua única filha.
Diante daquela situação, Sooyoung agiu por impulso e abraçou sua irmã, na esperança de lhe consolar e para a sua surpresa, a mais nova retribuiu o gesto e lhe envolveu em seus braços também.
Aquele abraço era uma situação quase inédita na vida das irmãs que brigavam como cão e gato.

You're my sunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora