“Sooyoung, presta bem a atenção: não é pra comprar vestido preto.” Gyuri falou para a filha mais velha, enquanto conversava com a mesma pelo celular. “Você entendeu?”
“Mãe, eu já entendi, não precisa repetir mil vezes.” A garota respondeu, enquanto estava sentada em um banco na estação de metrô, aguardando pela chegada de Jiwoo.
“É o que eu espero.” A mulher respondeu. “E também não escolha nada muito extravagante, curto e principalmente caro, porque o meu orçamento está limitado.” Gyuri ressaltou, já que suas já sabiam do atraso da pensão de Yangnam, mas ela não havia tido coragem de contar sobre o áudio horrível que ele havia lhe mandado com ofensas e a recusa para quitar o valor combinado há tempos.
“Mãe, não se preocupa, eu sei que a grana tá mais curta esse mês, não vou exagerar.” Sooyoung afirmou. Era evidente o quanto Gyuri estava nervosa, não só pela aproximação do casamento, mas também por toda a situação atípica com a questão da pensão de Hyejoo.
Gyuri tinha problemas com Sooyoung sim, mas em certos aspectos ela ficava aliviada pela garota ser mais compreensiva que sua irmã caçula, e esse era um desses aspectos.
“Está certo.” Ela respondeu. “Qualquer coisa, pode me ligar. Tchau.”
“Tá bem, tchau, mãe.” Ela se despediu e desligou o telefone, e em seguida olhou para os lados e ainda assim nem sinal de Jiwoo.
Enquanto a religiosa não chegava, Sooyoung remoía seus pensamentos e uma sensação de culpa que estava sentindo. Hyejoo havia lhe jogado uma verdade na cara ao dizer que ela estava enganando Jiwoo apenas para poder usufruir de sua guitarra, além de se forçar a ir tocar no ensaio da igreja músicas que detestava, com pessoas que não gostava.
E além do mais, estava ficando muito evidente o abismo que existia entre ela e as demais garotas de sua banda de rock. Por mais dedicada que fosse, Sooyoung fazia tudo sozinha. Seus conhecimentos vinham de vídeos da internet, enquanto a das outras de seus estudos. Essa era a grande diferença: enquanto Jin Sol, Jung Eun, Haseul e Yerim estudavam música com seus próprios instrumentos e apoio familiar, ela tinha que tocar uma guitarra “emprestada”, escondida da família e com muitas limitações.
Após a discussão com Haseul no último ensaio, tinha ficado bem evidente que ela estava sendo mais um atraso do que um avanço para o grupo. Os ensaios seriam bem mais produtivos sem a sua presença, já que seus erros faziam as meninas terem que tocar a mesma música várias vezes, quando podiam testar um repertório maior.
Mesmo que Kahei dissesse que aquilo não era verdade, Sooyoung não era idiota, ela sabia que o que Haseul falou tinha um fundo de verdade, e por estar com raiva, a vocalista apenas externalizou o que todo mundo pensava.
Só precisava saber o que ela iria fazer da vida, se decidisse deixar de lado o sonho de ser música profissional, já que ela não era boa em praticamente nada e a única coisa que gostava de fazer
“Sooyoung.” Ao ouvir a voz de Jiwoo, a garota levantou a cabeça e olhou para o lado, e viu Jiwoo se aproximando. “Oi.”
“Oi.” Ela respondeu ao cumprimento de forma tímida e sem muito ânimo, se levantando do banco em que estava. “Vamos?”
“Vamos.”
As duas garotas caminharam alguns metros com um silêncio incômodo entre elas. Jiwoo estava mantendo sua cabeça reta, como se estivesse com um antolho, aquela peça de couro que limita a visão periférica dos cavalos, olhando apenas para a frente.
E claro que sua postura nenhum pouco natural chamou a atenção de Sooyoung. Era óbvio o quanto a sua proximidade incomodava Jiwoo, que antes era carinhosa e falante, porém agora se comportava de maneira distante e falava muito pouco.
Suspirou frustrada, enquanto mil coisas passavam por sua cabeça.
Era tanto problema, que às vezes a jovem só queria poder desaparecer do mundo, já que sua vida estava estagnada, ela já era praticamente uma adulta que não tinha planos para seguir no futuro.
Estava em seu último ano na escola, mas suas notas, entretanto, estavam tão ruins que era perigoso dela ser reprovada. Se fosse reprovada, ela teria um problema enorme em casa. Sua falta de interesse por garotos também iria começar a ficar mais evidente conforme o tempo fosse passando, e uma hora ela teria que ser honesta com sua família e falar que gostava de beijar meninas, e que nunca na sua vida iria se casar com um homem. Ninguém precisava de poderes mágicos pra saber que isso seria a maior decepção de sua mãe, e que, era difícil de saber se Gyuri lhe aceitaria daquela maneira. Provavelmente não.
Se as coisas nunca foram boas antes, iriam piorar de vez quando essas questões viessem à tona.
Se os destinos dos filhos era repetir a vida de seus pais, Sooyoung estava no caminho certo para trilhar o mesmo caminho de Gyuri: a ovelha negra e renegada da família.
Quando Gyuri soubesse da orientação sexual da filha, era bem provável que ela agisse da mesma maneira que seus pais agiram quando descobriram de sua gravidez: jogaram-na na rua e viraram as costas para ela de uma vez por todas. A filha foi apagada da família, e eles nunca apareceram para visitar a neta, nem procuraram saber, durante esses 18 anos, se elas estavam vivas. O fato de Gyuri conseguir tomar um “rumo tradicional” e casar-se com um homem não os fez mudarem de ideia, já que eles não apareceram no seu casamento com Yangnam.
Sooyoung e Hyejoo só conheciam seus avós e tios por algumas poucas fotos que Gyuri ainda tinha guardadas com ela, enquanto eles nunca haviam visto a cara das netas, e se as encontrassem na rua, nem as reconheceriam.
Gyuri havia se tornado uma pária dentro da família Ha, justamente aos 18 anos, a idade da filha da mais velha.
Bom, ao menos Sooyoung tinha consciência disso e não pretendia ter nenhum filho pra sofrer com o mesmo destino ingrato.
Quando o trem chegou, elas entraram em um vagão e Sooyoung logo se acomodou em um banco, e Jiwoo se sentou ao seu lado.
Ambas ainda em completo silêncio.
A cada minuto que passava sem que palavra alguma fosse dita, o incômodo dentro de Sooyoung crescia e ela se via cada vez mais aflita, quase desesperada por estar sendo sumariamente ignorada.
O celular de Sooyoung tocou, tirando-a daquele sofrimento interno por alguns segundos.
Era uma mensagem de Kahei.
“Eu vou fazer uma festinha aqui em casa na sexta a noite, e eu faço QUESTÃO da sua ilustre presença. Finalmente você vai conhecer o lugar onde eu me escondo, gata 😘 ❤️”
Sooyoung ficou surpresa com o convite, mas a primeira coisa que veio em sua cabeça, foi logo perguntar quem mais havia sido convidado pra tal festinha, com a única intenção de saber sobre a possível presença de Haseul, quem ela não queria ver nem pintada de ouro.
“Eu convidei as meninas da banda, inclusive a Haseul, porque ia ser chato chamar todo mundo menos ela, né? Mas eu nem sei se ela vai, já que ainda tá bem puta comigo. Mas você VAI SIM, eu faço questão da presença da minha melhor amiga.”
Sooyoung abriu um pequeno sorriso com aquelas palavras, achando graça naquele jeito fofo-agressivo de sua amiga, que era algo típico de Kahei.
“Bom, eu não sei se a minha mãe vai deixar. Eu nunca fui numa festa, assim de noite antes.” Disse sincera. “Ela não gosta que a gente fique até tarde na rua, você sabe, né?”
“A festa vai rolar pela madrugada, você pode dormir aqui. Lugar pra você na minha cama não vai faltar 😏” Kahei esclareceu, fazendo Sooyoung corar violentamente. “Brincadeirinha 😆😆😆 mas você pode mesmo dormir aqui, meu sofá é bem macio e eu tenho uns travesseiros sobrando.”
Sooyoung lembrou de que por inúmeras vezes sua mãe havia deixado Hyejoo dormir na casa de Chae Won, assim como deu permissão para a loira dormir em sua casa, então ela poderia usar isso como argumento caso Gyuri negasse seu pedido. A grande diferença era de que a família de Chae Won era conhecida de Gyuri, especialmente sua mãe, já a família de Kahei parecia uma entidade invisível e que morava há muitos quilômetros de distância, na ilha de Hong Kong.
“Vão ter garotos lá?” Sooyoung questionou.
“No boys allowed, baby. Só os dos pôsteres do meu quarto.” A chinesa respondeu quase de imediato. “Eu ganhei um presente incrível do meu avô, mal posso esperar pra você ver. Por favor diz que vem 🙏”
“Tá bem. Eu vou.” Sooyoung garantiu. Afinal, mesmo que sua mãe não deixasse ela ir, acabaria usando o seu velho método de fugir na calada da noite, como todo bom rebelde.
Kahei lhe enviou aquele emoji do enorme coração vermelho pulsante, o que fez Sooyoung rir baixinho, já que ela achava aquilo o cúmulo da breguice.
Enquanto Sooyoung digitava concentrada, Jiwoo lutava internamente contra a enorme vontade de saber com quem a morena falava, apesar de já desconfiar de quem era do outro lado, além daquele perfume gostoso que a outra usava, que a deixava quase hipnotizada.
Tentou o máximo que pôde, mas de forma involuntária seus olhos se fixaram na tela do celular da outra e inclinou a cabeça levemente para o lado, aproveitando-se da distração de Sooyoung.
Sentiu até uma pontada no peito e um gosto amargo na boca ao ver aquele já conhecido cabelo rosa na foto de perfil da pessoa com quem a mais velha estava conversando.
Os risinhos de Sooyoung, aquele emoji enorme de coração e as outras coisas que ela tinham visto no outro dia estavam deixando Jiwoo irritada, mas ela não podia dizer nada, já que não tinha direito algum e muito menos deveria estar espionando a conversa alheia.
Só ficava imaginando o tipo de conversa que Sooyoung tinha com aquela tal Kahei quando ficavam sozinhas. Tinha certeza de que aquele cabelo colorido, aquele jeitão todo moderninho, aquela... Enfim, tudo o que exalava incomodava Jiwoo. Estava certa que ela também era... a responsável por Sooyoung estar no caminho em que estava.
Ela tinha cara de quem fazia muita coisa errada e poderia levar Sooyoung por um caminho tortuoso, perigoso e sem volta.
Pensar nisso a fez suspirar fundo, e isso chamou a atenção de Sooyoung, que olhou pra ela, pegando-a no flagra olhando para o seu celular.
As duas se encararam por poucos segundos, com Jiwoo ficando completamente sem graça.
“Seu perfume é muito bom.” Jiwoo falou tentando disfarçar com um sorriso tímido, aproveitando para elogiar o cheiro gostoso da mais velha “O que é?”
“Essência de rosas do deserto.” Sooyoung respondeu, guardando o celular, com receio de que Jiwoo tivesse visto algo, apesar de não ter nada demais.
“É muito bom mesmo.” Jiwoo completou tímida e olhando para baixo, mas não mentindo. Poderia ficar o dia todo com aquele perfume entrando por suas narinas.
Jiwoo ficou até um pouco aliviada quando chegaram na estação próxima ao shopping onde ficava a loja de vestidos.
As duas desceram e foram caminhando com certa pressa até a loja.
“Você já pensou no tipo de vestido que vai querer?” Jiwoo puxou conversa, pois estava se sentindo mal por ter sido pega agindo de forma nada legal ao espiar a conversa de Sooyoung.
A esperança era de que aquela conversa apagasse a má impressão daquele momento constrangedor.
“Na verdade, não.” Sooyoung respondeu sincera. “Eu nem gosto muito de vestido, por mim iria de calça mesmo, mas sou filha da noiva, tenho que seguir protocolos.” Deu os ombros. “E você, pensou no seu?”
“Só pensei em algo na cor pêssego clarinho, gosto de roupas nesse tom.” Jiwoo respondeu.
“Um vestido dessa cor vai combinar com você, eu acho.” Sooyoung a elogiou verdadeiramente, deixando Jiwoo levemente tímida.
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Ao chegarem na loja, as duas garotas logo foram recebidas pela simpática vendedora que dias atrás havia atendido Gyuri e Hyejoo.
“Boa tarde, meninas, no que posso ajudá-las?” Ela perguntou, então Sooyoung sorriu.
“Minha mãe, Ha Gyuri, veio aqui no sábado e disse que deixou avisado que nós viriamos hoje, para experimentar os vestidos do casamento.” A mais velha se apresentou e a vendedora logo se lembrou da mulher em questão acompanhada pela filha adolescente mau humorada.
“Ah sim, ela deixou avisado mesmo.” A moça concordou sorrindo. “Venham comigo, eu já até separei uns modelos para facilitar o trabalho de vocês.”
Sooyoung e Jiwoo seguiram a vendedora para o interior da loja, onde no canto havia uma arara com variados vestidos com cores claras e panos leves.
“Sua mãe explicou que o casamento será de dia, por isso a preferência é por roupas de cores claras.” A vendedora comentou e parou em frente aos vestidos nos cabides. “Aqui temos algumas opções, mas vocês podem ficar a vontade para escolher qualquer outra coisa da loja.”
As duas agradeceram baixinho enquanto começaram a olhar as primeiras opções do vestido.
“Se aceitar uma sugestão, eu acho que esse azul bebê vai ficar lindo pra você.” A vendedora falou para Sooyoung pegando um vestido liso, tomara-que-caia, com um tom de azul bem agradável. “Você é mais alta, ia cair com uma luva na sua silhueta.”
Sooyoung pegou o vestido, que pra ser sincera não lhe agradou muito, mas ela era realista e sabia que ali não haveria nada realmente de seu agrado.
“É, parece bom.” Sooyoung comentou sem muito ânimo, mas com um sorriso tímido, para não deixar ares de antipatia no ar, como Hyejoo. “Acho que vou experimentá-lo.”
“O provador é logo ali atrás.” A vendedora disse e apontou para uma porta no fim da loja, para onde Sooyoung foi logo após agradecer, enquanto Jiwoo permaneceu ali, procurando por algo na cor desejada. “Está procurando por algo específico?”
“Eu estava pensando em usar um vestido na cor pêssego, é uma das minhas cores favoritas e acredito que favoreça o tom da minha pele.” Jiwoo respondeu.
“Eu tenho alguns nessa cor, talvez você goste de algum deles.” A jovem vendedora saiu dali e caminhou por outras araras, pegando outras peças de roupas, enquanto Jiwoo apenas ficou no aguardo, parada há poucos metros do provador.
Não demorou para que a porta do mesmo se abrisse, chamando a atenção da filha do pastor, que viu sair dali de dentro Sooyoung, usando aquele vestido que a tinha deixado completamente linda, uma coisa que nem parecia ser possível.
Jiwoo ficou parada, olhando de forma meio abobada para a garota mais velha, admirando seu corpo naquele vestido colado e que valorizava, e muito, os seus seios.
“Eu tô me sentindo meio estranha, mas acho que ficou legal, não é?” Sooyoung perguntou com um sorriso tímido, mas não obteve resposta, já que Jiwoo parecia ter perdido a língua e junto a noção ao não desgrudar seus olhos do colo da mais velha. Parecia até enfeitiçada.
“Você está maravilhosa.” A vendedora falou, ao chegar ali trazendo consigo três vestidos no tom de cor desejado por Jiwoo, que pareceu despertar com a sua voz.
“Não... Sooyoung, esse vestido não... Não é apropriado.” Jiwoo falou, de cabeça baixa, com as bochechas púrpuras e ardendo de vergonha pelo o que havia acabado de fazer.
Sooyoung ficou sem acreditar no que estava ouvindo, apesar de saber que aquele decote jamais seria aprovado por sua mãe e ela teria que escolher outro vestido, porém, ela não esperava que Jiwoo fosse lhe dizer aquilo, ainda mais na frente de outra pessoa e depois de ficar igual um moleque tarado olhando seus peitos.
A vendedora, coitada, se viu no meio de um silencioso fogo cruzado, com Jiwoo olhando pro chão, e Sooyoung olhando para a menina como se quisesse lhe dar umas pancadas ali mesmo.
“Eu trouxe alguns vestidos na cor que você pediu.” A mulher quebrou o silêncio, então Jiwoo lhe agradeceu baixo, pegou os mesmos e seguiu direto para o provador, evitando ao máximo olhar para Sooyoung ao passar por ela.
“Olha, talvez se colocarmos um bolero sobre esse vestido, fique apropriado pra cerimônia de casamento.” A vendedora sugeriu de forma simpática, tentando amenizar o clima pesado que havia se instalado ali, mas Sooyoung apenas negou com a cabeça.
Estava sentindo ódio naquele instante, e se pudesse, tacaria fogo naquele vestido.
“Eu prefiro experimentar outro.” Sooyoung respondeu, respirando fundo e tentando não deixar tudo de ruim que estava sentindo transparecer para a atendente, que não tinha culpa de nada.
“Tudo bem, vamos dar uma olhada.” A mulher concordou, e foi procurar por outros vestidos.
Dentro do provador, Jiwoo estava se sentindo muito mal porque sabia que tinha magoado Sooyoung e que também tinha deixado transparecer o seu grande incômodo com a roupa da garota. Realmente, aquele vestido não era o ideal para um casamento numa igreja evangélica, porém o que a fez agir de maneira tão grosseira, por assim dizer, não foi o bom senso, mas sim a falta dele.
Se Sooyoung fosse com aquele vestido ao casamento, Jiwoo não conseguiria ter paz, seus olhos e todos os seus demais sentidos estariam totalmente voltados para a tentação ao seu lado.
E foi ela olhar para o lado, literalmente, para ela ver o sutiã preto de Sooyoung, que ela havia tirado para experimentar o vestido, pendurado ali.
Jiwoo sentiu aquela onda de calor, que deveria ser uma pequena amostra do inferno, percorrer por todo o seu corpo, causando arrepios em partes que ela preferia nem acreditar.
Parece que quanto mais rezava para resistir às tentações, menos Deus lhe ouvia.
Não conseguiu se conter, e quando se deu conta, já estava com a lingerie em suas mãos, e a levou para próximo de seu rosto, respirando fundo e se enchendo com o perfume de rosas do deserto que estava impregnado na peça de roupa.
Mil coisas pecaminosas passaram pela sua mente naquele curto espaço de tempo, e ela só conseguia se imaginar embolada com Sooyoung em uma cama, totalmente nuas, com aquele perfume grudando em sua pele, os lábios macios da outra preenchendo os seus e o seu corpo queimando no calor do corpo de Sooyoung.
Era algo tão errado, mas ao mesmo tempo tão bom. A pior tentação que já havia encarado.
Estava condenada e o único fogo que iria sentir era o do inferno se continuasse a agir dessa forma.
Tratou logo de colocar o sutiã no mesmo lugar em que ele estava, enquanto sibilava pedidos de perdão para Deus por seu comportamento reprovável naquela tarde.
Só conseguia se lembrar do trecho bíblico que dizia que se o seu olho direito o levava a pecar, o certo era arrancá-lo e jogá-lo fora, pois era melhor perder parte do corpo do que ser lançado ao inferno inteiro.
Mas nesse ritmo, Jiwoo teria que se mutilar completamente, já que seu corpo inteiro parecia predisposto ao pecado toda vez que Sooyoung estava por perto.
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Sozinha em casa, Hyejoo jogava Mortal Kombat versão mobile, quando começaram a chegar várias mensagens em seu celular, travando o jogo e fazendo cair a rede.
“Maldição! Agora que eu tava ganhando.” Hyejoo esbravejou após perder a luta. “Mas quem será o corno que tá enchendo o saco bem agora?”
Ao abrir as mensagens, ela mudou sua expressão no mesmo instante, ficando tensa.
As mensagens eram de Kim Namjoon.
“Ei gatinha, quando eu vou receber minha recompensa pela ajudinha mais cedo, hein? Eu não consigo parar de pensar em você só de calcinha, minha linda.” Ele dizia na mensagem, deixando a garota nervosa.
Não estava certa de que deveria tirar fotos assim e ainda por cima enviá-las para o rapaz. Não tinha segurança e nem autoestima o suficiente para isso.
“Namjoon, eu sei que você foi legal comigo e tudo, mas, eu não sei se devo te mandar essas fotos. Eu nem sou assim tão bonita.” Ela escreveu de volta e recebeu um emoji de carinha brava.
“Trato é trato, Hyejoo. Eu fui legal contigo e te fiz um favor, agora é a sua vez de retribuir a ajudinha. Isso se chama “business” mas parece que você ficou com medinho igual uma menininha assustada” Ele provocou.
E sim, Hyejoo poderia muito bem ser descrita como uma menininha assustada naquele momento, e até poderia tentar contra-argumentar com Namjoon, mas seria perda de tempo, já que ele estava irredutível.
“Agora eu entendi porque te chamaram de criança 🙄”
Hyejoo engoliu em seco ao ler aquilo, pois era algo que lhe irritava e ela sabia que ele estava usando disso para tentar provocá-la.
“Eu pensei que fosse você fosse meu amigo.” Hyejoo respondeu pra ele, verdadeiramente chateada com a situação.
“E eu pensei que você não fosse tão medrosa assim, a ponto de não querer fazer umas fotinhas bobas, dessas que toda menina faz.”
Hyejoo socou a cama três vezes, furiosa mais consigo mesma do que com Namjoon. Ela realmente não se sentia segura com seu próprio corpo para fazer fotos apenas de lingerie, mas também não queria deixar a impressão de que fosse uma virgenzinha cagona e sem palavra.
“Eu vou pensar, tá bom?” Ela respondeu após alguns minutos.
“Tá, mas pensa rápido, porque eu tô doido pra me exercitar aqui 😏” Ele respondeu e na sequência enviou uma de sua mão por dentro da cueca azul escura, dando a entender que usaria as fotos das meninas para se masturbar. “Se mandar as fotos bonitinhas, eu mostro como o Juninho vai ficar por sua causa 😏”
Hyejoo ficou com medo. Medo mesmo ao ver aquilo, mas garotas crescidas gostavam de ver homens pelados, de ver como eles ficavam por sua causa, e se Hyejoo queria ser como elas, não poderia ter medo de algo natural como o sexo e as coisas ligadas a ele.
Que garota crescida não gostaria de saber que um homem ficou de pau duro por sua causa? Isso era motivo pra orgulho, não pra medo ou vergonha.
“Você consegue, Hyejoo, você consegue.” Sussurrou para si mesma. Precisava fazer as fotos e tinha que ser naquele momento, já que nem sua mãe, nem Sooyoung estavam em casa. “São só umas fotos, você não vai ficar pelada e ele nem vai tocar em você.”
Ela desceu do beliche, e então caminhou até o guarda-roupa, abrindo suas gavetas de calcinha, para escolher uma para a sessão de fotos, mas, não se animou. Suas peças de roupa eram quase todas temáticas, coloridas ou com bichinhos e frutinhas fofos. Hyejoo não se importava muito na hora de comprar roupas íntimas, quem fazia isso era Gyuri, e claramente, ela ainda enxergava a filha como uma bebê.
“Eca.” Falou com nojo e certo desânimo. Tirar fotos usando aquelas coisas não seria nada sensual, muito pelo contrário, ficaria até meio estranho e brochante.
Foi então que ela abriu a gaveta de cima, onde ficavam as roupas íntimas de Sooyoung, essas sim possuíam dignidade, não tinham cores cafonas, nem desenhos, já que eram escolhidas pela própria Sooyoung. Deu uma revirada por ali, até encontrar um conjunto azul-marinho, que tinha um ar sexy e também era bonito.
Teria que experimentar o conjunto primeiro, mas acreditava que seu corpo já não estava mais tão diferente do de sua irmã mais velha.
“É agora, Hyejoo, a hora de você mostrar que não é uma criança boba e sim uma garota crescida.” Falou para si mesma, tentando criar coragem para seguir com aquele ato.
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Jiwoo e Sooyoung provaram vários vestidos até escolherem os que acharam bons para a ocasião: A mais velha ficou com um modelo parecido com o de Hyejoo, só que na cor azul, e Jiwoo com um vestido pêssego bem clarinho. Ambos bem comportados e recatados.
Mas apesar do acordo com as roupas, o clima entre as duas permanecia pesado, ainda mais depois do comentário da religiosa sobre o primeiro vestido usado por Sooyoung, comentário esse pelo qual ela já havia se arrependido até o fundo da alma, pois acreditava que havia magoado a outra.
Após terminarem as compras, as duas saíram da loja e Sooyoung caminhava em direção a saída, quando Jiwoo decidiu puxar assunto e tentar amenizar aquela atmosfera nada agradável que agora existia entre elas.
“Você não quer aproveitar que já estamos aqui e ir tomar um lanche?” Jiwoo quebrou o silêncio.
A verdade é que Sooyoung até gostaria mesmo de comer alguma coisa, porque ela estava mesmo com um pouco de fome, mas a situação financeira de sua família naquele momento não era nada favorável, Gyuri havia lhe alertado várias vezes que ela não deveria gastar nada além do necessário.
“Bom, se você quiser eu posso te acompanhar mas eu não vou comprar nada, não posso gastar muito, o meu padrasto atrasou a grana da pensão da Hyejoo esse mês, e a gente tá com a corda no pescoço.” Respondeu sincera, já que não era nenhum segredo que a situação financeira de sua família era bem pior que a de Jiwoo.
“Eu não tenho nem cara de comer enquanto você fica olhando.” Jiwoo falou. “Eu pago, não se preocupe quanto a isso.”
“Não precisa, eu nem tô com tanta fome assim.” Sooyoung mentiu, já que seu estômago estava quase roncando.
“Por favor, Sooyoung, eu insisto, só dessa vez, vai.” A mais jovem falou, então Sooyoung acabou por aceitar e seguiu com Jiwoo até a praça de alimentação.
As duas se sentaram em uma pequena mesa, frente a frente e passaram a olhar o cardápio, apesar de Sooyoung já ter decidido que pediria o item mais barato dali.
Não demorou para uma garçonete vir para atendê-las e anotar seus pedidos.
“Eu vou querer o combo da casa.” Jiwoo respondeu, falando sobre o kit que continha um hamburguer, batata frita e refrigerante, e depois olhou para Sooyoung.
“Pra mim é um hamburguer simples.” Sooyoung respondeu e sorriu rapidamente.
“Algum acompanhamento?” A garçonete perguntou, enquanto terminava de anotar os pedidos.
“Ketchup.” Jiwoo respondeu e depois olhou rapidamente para Sooyoung antes de prosseguir. “Você pode trazer um copo plástico, fazendo um favor?”
“Sim, claro.” A garçonete respondeu, e então seguiu para o balcão, levando os pedidos das meninas.
O silêncio novamente voltou a imperar entre as duas jovens, até Jiwoo tomar coragem e dizer o que deveria, sem mais rodeios ou protelações.
“Sooyoung, eu gostaria de me desculpar pela forma como eu falei com você na loja, por causa daquele... Daquele vestido.” Ela disse de uma vez, ainda se embanando um pouco ao se lembrar de como a outra havia ficado extremamente provocante e até sexy naquela roupa.
Deu até um calor.
Sooyoung, que tinha ficado irritada naquele momento, apenas assentiu e aceitou o pedido de desculpas, que pareciam sinceros, da jovem religiosa. Jiwoo havia sido um tanto grossa mesmo, mas parecia ter agido mais por impulso do que por moralismo e isso era perdoável, afinal, até o momento ela tinha sido muito da camarada com Sooyoung.
“Esquece isso.” Sooyoung respondeu. “O outro vestido ficou até mais bonito, na minha opinião.”
Jiwoo abriu um sorriso tímido, pensando no quanto Sooyoung havia ficado linda em todos os vestidos que experimentou, mas nunca teria coragem de dizer isso para ela.
“Você ficou linda com o seu vestido também.” Sooyoung elogiou a mais jovem, que foi pega de surpresa e se sentiu mais envergonhada ainda, corando visivelmente. “Eu não quis dizer isso em... Em outro sentido, se é que você me entende.” A mais velha tratou logo de se explicar, notando a reação da religiosa.
“Sooyoung, não se preocupe, eu nunca pensei que você... Enfim, que você agiu de má-fé comigo. Eu sei que você é uma pessoa legal e o fato de você...” Jiwoo começou, se enrolando novamente, tentando pensar de forma coerente nas palavras certas e apropriadas praquela situação estranha. “... Você gostar de... Ser lés... Lésbica...” Aquela palavra saiu de sua boca com tanto peso, quase como se fosse um palavrão. Ela sabia que não tinha nada de errado de chamar alguém de lésbica se a pessoa fosse lésbica mesmo, como parecia ser o caso de Sooyoung, mas ainda assim não era uma palavra que estava em seu vocabulário cotidiano e parecia possuir várias conotações nada legais em alguns casos. “... Não muda nada.”
Jiwoo ficou feliz em concluir aquela frase que pareceu um discurso ininterrupto de três horas, tamanha sua tensão.
“Valeu.” Sooyoung, percebendo que a garota estava fazendo o seu melhor para lhe compreender e isso era algo louvável vindo de uma pessoa de um meio tão conservador, como Jiwoo. “Você é uma boa pessoa, e eu sei que é um pouco difícil compreender certas coisas, pra mim também é, acredite, mas que bom que você ao menos se esforça pra isso e não me trata como se eu fosse uma monstra ou uma pervertida.” Desabafou, apesar da mudança visível na forma como Jiwoo se comportava diante dela, ela reconhecia que a outra ao menos tentava não parecer tão grosseira a maior parte do tempo. Com certeza a situação não seria da mesma forma se Jiwoo fosse um pouco mais parecida com Hyunjin.
Já Jiwoo sorriu meio tímida, enquanto pensava que se Sooyoung soubesse o que ela havia feito nos últimos dias e pouco tempo atrás no provador, ela veria que a pervertida da situação era a própria Jiwoo.
Estava com um peso enorme na consciência por seus atos pecaminosos, ainda mais agora, que a outra parecia tão inocente diante dela, sem nem imaginar o que a filha do pastor era capaz de fazer.
Então, quase que numa repetição daquela famosa imagem do diabo sussurrando no ouvido de uma garotinha, que rodava por toda a internet, Jiwoo acabou, quase que movida por uma entidade maléfica, pois não havia outra explicação, que soprou em seu ouvido para ela questionar Sooyoung sobre sua amiga de cabelo rosa.
“Bom, e aquela... Aquela sua amiga, a do cabelo rosa, ela... Ela também é... Também é lésbica?” A mais nova perguntou, meio tímida e com certo receio da resposta.
Será que Sooyoung assumiria que tinha algo a mais com aquela garota caso fosse a verdade?
“Não, ela não é.” Sooyoung respondeu firme, e de certa forma, não estava mentindo, pois Kahei era abertamente bissexual, apesar de nos últimos tempos parecer estar dando mais preferência às mulheres, mas isso não era importante pra conversa em seu ponto de vista. “A Kahei é meio diferente, chama a atenção com o cabelo e o visual dela, mas ela é uma pessoa incrível, com um coração enorme.”
“É, você parece gostar muito dela mesmo.” Jiwoo comentou, não acreditando muito na resposta de Sooyoung, que provavelmente ainda não se sentia segura pra falar sobre a amiga.
“Sim, eu amo a Kahei.” Sooyoung respondeu, com muita verdade em seu olhar, e a resposta causou um pequeno incômodo na outra, que sorriu pra tentar disfarçar. “Durante muito tempo ela foi minha única amiga e confidente, a única pessoa com quem eu realmente me sentia segura pra ser eu mesma, sem julgamentos. Eu sempre fui muito retraída e com dificuldades pra fazer amizades, tinha um pouco de vergonha da minha situação, e depois do divórcio da minha mãe as coisas pioraram, já que as pessoas da escola combinavam de sair, mas eu nunca podia ir por não ter dinheiro pra cinema e lanchonete toda semana, e por isso eu acabei isolada e sem nenhum amigo, até conhecer ela.”
Ao ouvir aquele relato, Jiwoo se sentiu mal e com vergonha de si mesma por aquele sentimento de animosidade contra Kahei, mas ela não conseguia evitar sentir um pouco de raiva da chinesa por ser tão próxima e importante para a outra.
Sabia que estava errada, sendo egoísta, mas parecia impossível mudar o que sentia.
Nesse instante a garçonete voltou trazendo os pedidos das garotas.
“Aqui está o seu combo e aqui o seu lanche.” A garota as serviu, colocando duas bandejas com os pedidos sobre a mesa.
As meninas agradeceram a jovem, que saiu para atender novos clientes, enquanto Jiwoo pegou o copo de plástico vazio e colocou um pouco de seu refrigerante nele, para em seguida, colocá-lo sobre a bandeja de Sooyoung.
“Jiwoo, não precisa...” A mais velha começou, mas a outra balançou a cabeça.
“Eu faço questão de dividir tudo com você.” Jiwoo respondeu com firmeza. “Pega aqui umas batatinhas.” Ela ofereceu e pegou o seu saco de batatas fritas virando-o para a direção de Sooyoung, que pegou algumas, ainda um pouco envergonhada.
“Muito obrigada por tá sendo legal assim comigo.” A mais velha agradeceu e Jiwoo apenas sorriu satisfeita em resposta.
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Durante o lanche, as duas garotas que estavam acanhadas se soltaram e passaram boa parte do tempo conversando sobre os mais variados assuntos, desde os vestidos que usariam na cerimônia de casamento de seus pais até filmes novos que gostariam de assistir.
O tempo voou, e elas tiveram que voltar para suas casas após terminarem de comer, mas durante o caminho e o trajeto do metrô a conversa continuou animada, até que, chegou o momento delas se separarem.
“Obrigada pelo lanche e por essa tarde tão legal.” Sooyoung agradeceu, sentindo-se bem mais leve e em paz consigo mesma do que quando saiu de casa.
“Eu quem agradeço pela sua companhia.” A mais jovem respondeu. “Então, a gente se fala mais tarde?”
“Claro.” Sooyoung confirmou animada e sorrindo. “Até mais.”
“Até.” Jiwoo foi pega de surpresa quando Sooyoung lhe abraçou. Sentiu as pernas ficarem bambas e aquela essência de rosas do deserto lhe enfeitiçar novamente.
Queria que aquele momento durasse para sempre. Estar dentro daquele abraço foi uma das melhores sensações de sua vida. Nem sabia descrever o quanto gostaria de poder dormir naquele valor e sentindo aquele perfume.
Mas assim como deu início ao ato, Sooyoung foi a primeira a se afastar e se despediu com palavras uma última vez, antes de seguir de volta para sua casa.
Ao dobrar a esquina e sair da vista de Jiwoo, ela colocou a mão no peito, ainda sentindo seu coração bater tão forte e rápido que parecia ser capaz de abrir um buraco em seu tórax.
Pegou o seu celular do bolso da calça e ligou direto para Kahei.
“Fala, amor.” Kahei atendeu, com seu jeito despojado de sempre.
“Kahei, eu acho que eu tô muito, mas muito fodida mesmo. É sério.” A morena desabafou, um pouco nervosa.
“Por quê? O que foi que você aprontou dessa vez?” A chinesa perguntou, brincando.
“Eu não aprontei nada, mas meu coração tá querendo aprontar.” Ela disse, com certa aflição.
“Nossa, Sooyoung, o que foi que aconteceu? Fala direto, sem metáforas, por favor.” Kahei insistiu, já ficando impaciente.
“Cara, eu acho que eu tô gostando da Jiwoo.” Sooyoung confessou.

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You're my sunshine
FanfictionHa Sooyoung é uma jovem de gênio forte e vinda de uma família problemática que quer viver apenas fazendo o que ama: tocar guitarra Sua vida, no entanto, vira de pernas pro ar quando sua mãe se casa com o reverendo Kim, e ela passa a conviver diariam...