“Não tá atrapalhando nada, não.” Sooyoung respondeu com agressividade. “Para de gracinha!”
“Não precisa ficar nervosa, irmãzinha.” Hyejoo continuou provocativa. “Qualquer coisa eu finjo que não vi nada e volto pro banheiro...”
“Vamos comprar esses ingressos logo, antes que eu desista de ver esse filme.” Sooyoung falou rabugenta, e seguiu para a fila, enquanto Hyejoo encarou Jiwoo, que estava ainda mais acuada e sentindo-se intimidada por aquela garota.
A jovem religiosa optou por seguir as duas irmãs em completo silêncio, tentando, assim, evitar ao máximo criar novos problemas para as garotas.
Era visível que Sooyoung estava irritada e Hyejoo não tinha um gênio fácil.
As três mantiveram o silêncio, enquanto aguardavam na fila para a compra dos ingressos, coisa que demorou alguns minutos para ser concretizada, porém antes delas entrarem na sala, Jiwoo decidiu aproveitar os minutos que ainda faltavam para o início da sessão e se postou a frente das outras duas, abrindo um sorriso tímido e amigável.
“Vocês querem pipoca?” Ela ofereceu, e Sooyoung pensou na quantidade limitada de dinheiro que tinha com ela, e que depois ainda precisariam lanchar.
“Não, obrigada.” Ela respondeu, mesmo que quisesse ter a experiência clichê de ver um filme comendo pipoca, sua atual condição financeira não lhe permitiria
“Eu quero.” Hyejoo respondeu alegremente, e Sooyoung lhe olhou de forma reprovadora.
“Não.” Sooyoung falou um tanto alto para a outra. “Nós não temos dinheiro pra isso. Se você quiser pipoca, vai ficar sem lanche depois.” Ela confessou a real situação, um tanto envergonhada, mas com esperança de que com aquela maneira Hyejoo se tocasse e parasse de ser uma pentelha.
“Eu posso pagar pra vocês.” Jiwoo se ofereceu, deixando Sooyoung mais envergonhada ainda.
“Não, você não precisa fazer isso.” A mais velha tratou logo de responder, sentindo-se até um pouco rebaixada diante daquela situação.
“Sooyoung é orgulhosa.” Hyejoo falou com um sorriso debochado e cruzando os braços. “E orgulho é pecado, não é, Jiwoo?”
“Sim, mas não é exatamente esse tipo de orgulho.” Jiwoo respondeu, não querendo colocar mais lenhha na fogueira, e então olhou para Sooyoung.
“Eu não quero que você fique pagando as coisas pra gente, Jiwoo.” A garota confessou. “Não é sua obrigação, e você não deve fazer isso.”
Hyejoo revirou os olhos e suspirou alto propositalmente.
“Daqui a pouco o filme vai começar.” Ela disse com certa impaciência. “Só aceita isso logo e deixa de ser chata, Sooyoung!”
Vendo que não teria como ganhar aquela discussão, Sooyoung decidiu aceitar a oferta de sua amiga para se livrar da irmã caçula lhe aporrinhando.
“Tudo bem.” Concordou a contragosto. “Vai lá pra sala e guarda um lugar pra gente, Jiwoo e eu vamos pegar a pipoca.”
Hyejoo deu uma risadinha, mas não disse mais nada e seguiu para a sala.
“Eu falei que ela era insuportável.” Sooyoung desabafou para Jiwoo.
“Mas você também não é uma pessoa maleável, convenhamos.” A religiosa argumentou, e apesar de não ter sido uma crítica tão ofensiva assim, aquilo deixou Sooyoung ainda mais irritada do que ela já estava.
“O que você quis dizer com isso?” Ela perguntou sério e baixo, o que fez Jiwoo se arrepender no mesmo instante de ter aberto a boca. Agora precisaria contornar a situação.
“Por favor, não me entenda mal, eu só acho que você e a Hyejoo deveriam tentar resolver as coisas com diálogos ao invés de se atacarem o tempo todo...” Ela começou.
“E quem é você pra me dizer como eu devo agir?” Sooyoung perguntou de forma ríspida, atraindo a atenção de algumas pessoas ao redor devido a sua agressivididade. Isso deixou Jiwoo acuada e envergonhada. “Você nem tem irmão, garota! Não tente me ensinar a passar por uma situação, que você nem faz ideia do que seja, está bem?”
As palavras de Sooyoung fizeram Jiwoo arregalar os olhos em choque, e logo eles se encheram de lágrimas. A rockeira engoliu em seco, arrependendo-se no mesmo instante.
Estava descontando na garota a raiva que estava sentindo pela irmã.
A outra menina enxugou as lágrimas rapidamente e caminhou para a fila da pipoca, enquanto a outra permaneceu parada, sentindo-se a pior pessoa do mundo por magoar os sentimentos de sua amiga.
“Merda.” Sussurrou baixo, e depois seguiu Jiwoo, ficando atrás dela na fila.
Não trocaram uma palavra sequer durante todos os minutos e o silêncio se perdurou por mais um longo tempo quando elas entraram na sala e sentaram-se para ver o filme.
Sooyoung estava sentindo um peso tão grande na consciência por ter sido grosseira com Jiwoo, que sua cabeça estava começando a doer e as lágrimas que escorreram por seu rosto não foram frutos apenas da nostalgia e da dramaticidade do filme, mas também por culpa.
Por sorte, a história, apesar de já conhecida, era muito envolvente e conseguiu prender sua atenção por um tempo, fazendo-a se distrair e colocar a mão sobre o braço da cadeira, e para a sua surpresa, o que ela sentiu ali não foi a superfície gelada do lugar, mas sim a mão quente e macia de Jiwoo, que já estava ali, e que o escuro do local a impediu de ver.
O toque foi rápido, e ela puxou sua mão rapidamente, mas aquele segundo fez o seu coração disparar loucamente e ela sentiu suas bochechas queimarem. Provavelmente estava vermelha e ficou aliviada por Jiwoo não poder lhe ver assim.
A outra garota olhou um tanto surpresa com aquele toque repentino.
“Me desculpa, eu não vi sua mão aí.” Sooyoung sussurrou.
“Tudo bem, não foi nada.” Jiwoo também sussurrou em resposta e optou por colocar as mãos sobre as pernas, para evitar outro contato como aquele, e por algum motivo, aquilo entristeceu Sooyoung.
Será que Jiwoo estava com raiva dela? Bom, provavelmente sim, afinal, ela havia se comportado como um cavalo dando um coice doído na outra, e agora não podia querer que ela não se magoasse.
Suspirou e tentou voltar a atenção para o filme.
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Após o final do filme, as três garotas seguiram para uma lanchonete próxima.
“Vocês estão tão quietas, aconteceu alguma coisa?” Hyejoo perguntou cinicamente durante o percurso.
Sooyoung lhe lançou um olhar nada amigável, mas manteve o silêncio. Ela queria mesmo era dar logo um soco naquela cara deslavada.
“Está tudo bem, eu só estou com um pouco de sono.” Jiwoo mentiu. Não era de seu feitio, mas ela estava entristecida e não queria prolongar aquele assunto.
Sooyoung apenas abaixou a cabeça e seguiu seu caminho.
Quando elas chegaram no local, as três sentaram em uma mesa e Hyejoo foi a primeira a pegar o cardápio.
“Eu tô morrendo de fome.” Ela disse, enquanto visualizava os lanches e seus ingredientes. “Já decidi. Quem é a próxima?”
Jiwoo, que estava sentada ao lado de Sooyoung, foi quem pagou o cardápio.
“Vai querer o quê?” Sooyoung perguntou para a irmã, que estava sentada de frente para ela.
“Vou querer um duplo de bacon e milkshake 500 ml de avelã.” A garota disse, e então a irmã mais velha puxou o cardápio de suas mãos e arregalou os olhos ao lê-lo.
“Hyejoo, o dinheiro não vai dar. Isso é muito caro!” Ela repreendeu a outra, que abaixou a cabeça e bufou. “Não seja criança, só pede outra coisa.”
“Eu tô de saco cheio dessa situação.” A garota reclamou.
“Você acha que é a única?” Sooyoung retrucou impaciente.
“Quando o meu pai estava aqui, as coisas eram diferentes.” Hyejoo começou, demonstrando certa mágoa. “Quando ele estava aqui, eu não precisava ficar me regulando, a gente podia comprar as coisas! Tudo era melhor antes. Tudo!”
“Você está certa ao dizer que era antes, porque agora o seu pai foi embora e nem lembra mais que você existe!” Sooyoung acabou dizendo e Hyejoo claramente sentiu o peso daquelas palavras.
“Pelo menos o meu pai sabe que tem uma filha, já o seu, se cruzar contigo na rua, nem te reconhece!” Respondeu no mesmo tom.
“Parem com isso!” Jiwoo interviu, de uma forma agressiva, até assustando as irmãs. Já havia atingido o limite de sua paciência com as outras duas garotas. “Pelo o amor de Deus, vamos ficar em paz?”
Sooyoung fechou os olhos e colocou as mãos sobre suas têmporas, que já estavam latejando.
Aquela noite estava arruinada.
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Quando chegou em casa, Sooyoung foi direto para o quarto. Só queria dormir e acordar revigorada para pensar em como resolver a situação chata que havia criado com Jiwoo.
Estava até com um gosto amargo na boca e seu estômago parecia revirado de tanto arrependimento e culpa por sua atitude com a outra menina.
O fato de dividir o quarto com Hyejoo não ajudava em nada, já que a caçula não escondia o quanto estava com raiva dela, e mesmo no silêncio, ela lançava o tempo todo olhares de ódio para a irmã.
Por esses motivos, mesmo muito cansada e com aquela dor insuportável na cabeça, Sooyoung teve uma péssima noite de sono, demorando a dormir e despertando por várias vezes no meio da madrugada.
Logo cedo, após tomar um banho quente e demorado, ela sentiu a necessidade de buscar consolo e apoio em sua velha amiga Kahei.
Apesar de não estar nos melhores termos com a chinesa, ela era a única pessoa para quem Sooyoung podia contar seus problemas sem medo e desabafar, então, a morena aproveitou o momento em que Hyejoo se distraia vendo TV e sua mãe saiu para fazer compras, e assim ligou para a amiga, pois queria algo mais humano do que troca de mensagens.
“Sooyoung?” A voz de Kahei do outro lado da linha não escondia a surpresa pelo contato. “Tudo bem?”
“Oi, Kahei.” A garota cumprimentou, um tanto sem graça, de uma forma até meio mecânica. “Você pode conversar?”
“Sim, posso sim.” A garota respondeu bastante solicita. “Você tá bem? Sua voz me parece um pouco estranha.”
“Eu tô um pouco chateada com algumas coisas, mas, é... Eu só queria conversar.” Sooyoung confessou entristecida.
“Você não acha que é melhor nos encontrarmos pessoalmente? Eu não vou mentir, estou sentindo muita falta dos nossos passeios noturnos.” Kahei disse e soltou um risinho.
“Tem ensaio hoje, acho que dá pra você aparecer na casa da Jin Sol e a gente se falar lá?” Sooyoung sugeriu.
“Acho que sim.”
“Só não deixa a Haseul tomar todo o seu tempo.” A garota disse com certa amargura. “Ela gosta de monopolizar.”
“Não se preocupe com isso, a Haseul é muito compreensiva.” Kahei respondeu parecendo séria, alheia aos sentimentos da amiga. “Então, é isso. A gente se vê mais tarde, gata.”
“Até.” Sooyoung respondeu e desligou o celular, antes de se deitar em sua cama.
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A tarde, com a mesma desculpa da semana anterior, Sooyoung seguiu para a casa de Jin Sol, e soube que Kahei já estava lá quando viu o Corvette 77 chumbo estacionado próximo a casa da loira.
Ela tocou a campainha e logo foi atendida pela baterista da “Banda Sem Nome”, que estava mais sorridente e animada que o natural.
“Beleza, Sooyoung? Entra aí.” Ela cumprimentou a garota e as duas entraram juntas na casa e seguiram direto para a garagem. “Eu tenho uma novidade maravilhosa pra vocês hoje.”
“E o que é?” Sooyoung perguntou curiosa.
“Eu vou falar com todas as meninas juntas, mas fica tranquila que é coisa boa.” Ela garantiu confiante.
Ao chegaram na garagem, Sooyoung deu de cara com Haseul sentada no colo de Kahei, e as duas sorriam animadas enquanto a primeira mostrava fotos em seu celular para a outra.
“Essa foto aí é de quando eu tinha cinco anos. Meu avô quis me vestir de Elvis Presley.” Haseul falou, enquanto Kahei apertou sua bochecha.
“Mas eu não aguento toda essa fofura.” A chinesa disse, deixando a outra levemente tímida. “O mundo precisa ver isso.”
“Haseul vestida de Elvis? Ah, essa eu quero ver.” Jin Sol falou e correu para o lado das duas meninas. “Que coisa mais fofa, Senhor! Nascida pra ser uma verdadeira rockstar.” A garota deu tapinhas amigáveis nas costas da outra.
Quando os olhos de Kahei caíram sobre Sooyoung, ela tirou Haseul de seu colo, e se levantou para se aproximar da outra.
“Está se sentindo melhor?” A chinesa perguntou sincera.
“Sim, valeu por me atender hoje de manhã.” Sooyoung agradeceu e abriu um pequeno sorriso. “Só queria te fazer uma pergunta e que você fosse sincera comigo, tudo bem?”
“Claro.” Kahei respondeu sincera.
“Você acha que eu sou uma pessoa pouco maleável?” Ela perguntou, lembrando-se do que Jiwoo havia lhe dito na noite anterior.
Kahei colocou as mãos na cintura e arqueou uma sobrancelha.
“Você está me fazendo essa pergunta por algum motivo específico, é?” Kahei perguntou, pois já conhecia bem a amiga.
Sooyoung desviou o olhar, mordeu o lábio inferior, cruzou os braços e abaixou a cabeça.
“Ontem uma garota me disse isso, e eu estou me sentindo muito mal.” Ela contou de forma bem resumida.
“Garota, é?” Kahei perguntou e deu um sorrisinho tímida. “Você está vendo garotas, então?”
“É a filha do namorado da minha mãe.” Sooyoung esclareceu. “Não é nada disso do que você pensou aí, não.”
“Ela te disse que você não é uma pessoa maleável e isso te magoou? Foi essa a situação?”
“Dá pra você só responder o que eu te perguntei?” Sooyoung insistiu.
“Na boa, Sooyoung, você é bem cabeça-dura e também pavio curto pra muitas situações, mas, você também é uma garota sensível, carinhosa e divertida. Você é uma das melhores pessoas que eu conheço, e olha que eu conheço muita gente.” Kahei respondeu e abriu um sorriso no final.
A resposta e o gesto de Kahei fizeram Sooyoung sorrir também, e a chinesa abraçou de forma repentina abraçou a guitarrista.
“Obrigada.” Ela agradeceu, quando Yerim e Jung Eun chegaram ali, juntas e prontas para o ensaio.
“Chegou quem faltava.” Jin Sol falou alto e foi para o centro do local. “Atenção, muita atenção porque agora eu vou contar uma novidade.”
As garotas se aproximaram de Jin Sol que sorriu e fez um gesto para Haseul se juntar a ela no centro da garagem, e a garota o fez.
“A nossa amiga Haseul conseguiu um show pra gente!” Jin Sol disse animada, levantando as duas mãos para o alto com os dedos indicadores e mindinhos fazendo chifrinho.
Sooyoung sorriu ao ouvir aquilo, enquanto Yerim comemorou e Jung Eun bateu algumas palmas e sorriu.
Haseul, no entanto, não pareceu tão animada e até abriu um sorriso um tanto tímido.
“Bom, não é assim um show em um grande evento nem em bar, ou qualquer coisa do tipo.” A garota comecou. “Na verdade, eu queria saber se a gente pode tocar na festa de 50 anos de casamento dos meus avós.” Ela explicou de uma forma bem mais realista e pé no chão que Jin Sol.
As outras garotas pareciam ter levado um balde de água fria com aquela explicação, mas Jin Sol continuava animada.
“Mas ainda assim é um show, com plateia, público, comida de graça e o melhor de tudo: a possibilidade de mostrarmos para as pessoas o nosso talento.” A baterista argumentou. “E com a tecnologia de hoje, alguém pode nos filmar e nos tornarmos fenômenos da internet.
“Você é bem otimista, né?” Jung Eun falou com certa ironia.
“Eu sou a alma da banda, e é por isso que decidi que meu nome artístico será Jinsoul.” Ela respondeu orgulhosa. “Pegaram a referência? “Soul” é alma em inglês.”
“Trocadilho legal.” Haseul disse e Jin Sol piscou para ela. “Bom, eu vou entender se vocês não quiserem tocar, até porque é algo pessoal meu. Meu avô é o responsável por eu amar rock e amar cantar, e ele já tinha me pedido para tocar nessa festa. Eu ia fazer solo, mas depois de conhecer vocês, achei que seria legal a minha família poder ver a banda da qual eu faço parte.”
“Você não precisa tocar solo se tem uma banda de garotas talentosas pra te acompanhar.” Jin Sol garantiu.
“Jin Sol tem razão.” Yerim comentou e pegou sua guitarra, começando a tirá-la da capa. “Além de que todo mundo tem que começar de algum lugar. Os próprios Beatles já tocaram na festa de casamento do irmão do George Harrison.”
Haseul pareceu aliviada e feliz ao ouvir aquilo.
“Obrigada por aceitarem, meninas.” Ela agradeceu feliz e sorrindo. “Eu tenho até uma lista das músicas que o meu avô ama.” Haseul tirou do bolso da calça um pedaço de papel dobrado.
“Eu posso dar uma olhada?” Yerim perguntou e Haseul entregou o papel a ela. “Seu vô tem muito bom gosto.”
“É mesmo.” Jung Eun concordou, assim que postou-se ao lado de Yerim e começou a ler a lista. “Só clássicos.”
“Bora começar ensaiar pra não fazer feio no dia dessa apresentação.” Yerim falou.
“Acho que a gente devia pensar num nome pra banda também.” Haseul sugeriu. “Isso vai ser importante pra gente criar uma identidade.”
“Se bem que “Banda Sem Nome” é um nome.” Jung Eun comentou e recebeu um olhar descrente de Yerim.
“Um péssimo nome, você quis dizer.” A guitarrista rebateu. “Eu me recuso a tocar numa banda com esse nome.”
“Eu acho experimental.” Jung Eun insistiu e Yerim balançou a cabeça e riu com certo deboche. “Ora, por que não? Existem várias músicas sem título, por que não uma banda sem nome?”
“Eu concordo com a Yerim.” Sooyoung começou. “Esse nome não é legal.”
“Qual é, gente? O nome da banda geralmente é muito ligado ao estilo de som que ela faz, e a gente ainda nem se decidiu por qual rumo vai.” A baixista continuou argumentando. “No momento nós vamos tocar Rockabilly.”
“Jinsoul e as almas perdidas.” Jin Sol falou baixo, atraindo a atenção de todas as outras. “É bom, não é?”
“Não.” Yerim respondeu na lata, e Sooyoung se segurou para não rir da expressão da loira. “Por que o seu nome em destaque?”
“Porque eu fui a pessoa que teve a ideia de formar essa banda?” Jin Sol respondeu como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
“Jin Sol, desculpa, mas se você queria ser o destaque de uma banda não deveria tocar bateria.” A guitarrista da língua afiada continuou surpreendendo as meninas pela sinceridade acida e deixando Jin Sol desconcertada de primeira e depois irritada.
“Ah, querem saber? Eu acho melhor a gente começar a ensaiar logo, porque dessa conversa não vai sair nada que preste.” A baterista disse, com um tom sério, bem diferente do que costumava usar.
“Galera, não me levem a mal.” Yerim disse tentando amenizar o clima pesado criado por suas respostas, enquanto Jin Sol pegava suas baquetas. “É que eu levo a música muito a sério, e quero que nossa banda dê certo.”
“Todo mundo quer isso, Yerim.” Jung Eun disse um tanto emburrada, claramente não gostando das respostas da outra e também pegando seu contrabaixo.
“Qual música vamos tocar primeiro?” Haseul perguntou.
“Escolhe uma aí da lista do seu vô.” Jin Sol responde, então a vocalista pensou um pouco.
“Todo mundo conhece “Hello, Goodbye” dos Beatles, né?” Haseul perguntou, e recebeu uma resposta positiva. “Pode ser essa então?”
E assim, após uma breve conversa e uma ajuda de Yerim para Sooyoung com alguns acordes e ritmo, as garotas começaram seu ensaio.
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O ensaio durou pouco mais de duas horas, e o clima entre as meninas não era dos melhores. Depois das respostas acaloradas, Yerim se manteve bastante quieta, concentrada nas músicas e nos solos que iria tocar.
“... When you hold my hand, I understand the magic that you do. You´re my dream come true, my one and only yooooou.” Haseul cantava, encerrando o ensaio ao som de uma das maiores canções românticas conhecidas, “Only you” de “The Platters”.
“One and only yoooou.” Sooyoung repetiu o final, como os backing vocals do grupo faziam.
Kahei, que acompanhava o ensaio, começou a aplaudir.
“Lindas!” Ela elogiou as duas garotas, que se entreolharam rapidamente, o que fez Sooyoung pensar se a chinesa já havia contado para a vocalista que elas já tinham dado uns amassos.
“Isso é tudo pessoal.” Jin Sol disse, imitando o Pernalonga, enquanto guardava suas baquetas.
Após sair da casa de Jin Sol, ela sentiu alguém tocar em seu ombro e olhou para trás. Era Kahei, que estava de mãos dadas com Haseul.
“Quer uma carona?” A chinesa perguntou sorrindo simpática.
Sooyoung engoliu em seco e depois também abriu um pequeno sorriso.
“Obrigada, mas eu vou precisar passar em um lugar.” Respondeu. “Fica pra uma próxima.”
“Tudo bem. A gente se fala mais tarde.” Kahei se despediu e Haseul acenou, antes delas entrarem no carro da primeira e partirem.
Sooyoung não queria fazer papel de vela entre Kahei e Haseul, principalmente pelo relacionamento enrolado que tinha com a garota dos cabelos cor-de-rosa.
Seguiu sozinha por alguns metros, com os pensamentos ficando distantes dos ensaios e mais próximos de seus problemas cotidianos, e apesar da sua história sobre “passar em um lugar” ser uma mentira, ela estava certa de que deveria se desculpar com Jiwoo pelo seu jeito na noite anterior, e aquele momento seria oportuno.
Mas ela se surpreendeu ao ouvir apressados vindo logo atrás dela, para então, ser alcançada por Choi Yerim, que não parecia muito bem.
“Se importa se eu te acompanhar no caminho?” A garota perguntou. Era visível que ela não estava muito bem.
“Claro que não.” Sooyoung respondeu, surpresa com aquela aproximação.
As duas caminharam em silêncio por alguns segundos.
“Você não está com raiva de mim, né?” Yerim perguntou, e Sooyoung negou. “Eu sei que eu fui meio escrota com a Jin Sol e a Jung Eun, mas é que eu levo a banda muito a sério.” Ela se explicou. “Não é que eu ache que vocês não levem, mas é que pra mim a coisa é um pouco diferente.”
“O que é exatamente?” Sooyoung perguntou, curiosa com aquele desabafo tão inesperado da outra guitarrista.
“Porque música é a única pra qual eu realmente tenho algum talento.” Yerim falou entristecida. “Meu pai é um professor de música. Ele é um multi-instumentista. Ele toca violão, guitarra, baixo, bateria, piano e até violino. Ele é muito bom no que faz.” Ela explicou e depois suspirou. “Com sete anos, meu pai me deu meu primeiro violão e fez questão de dedicar pelo menos três horas do seu dia pra em ensinar a tocar, depois de um ano, ele me deu uma guitarra e até tentou me ensinar a tocar piano, mas eu não levei muito jeito pra isso.”
“Então, você quer impressionar o seu pai?” Sooyoung perguntou, e a garota assentiu.
“Não é só impressionar. Eu sinto que devo fazer sucesso pra ele. Ele podia ter sido um músico famoso, mas eu sei que ele não teve a mesma chance que eu estou tendo e também teve que deixar de lado a carreira como músico pra me criar.” Yerim esclareceu. “Desculpa por eu te alugar, eu só precisava desabafar com alguém, senão eu ia explodir.”
“Não precisa se desculpar, eu fico feliz que você tenha vindo falar comigo.” Sooyoung respondeu, e apesar dela achar Yerim um tanto quanto exibida, ela entendia o quanto a garota era talentosa e também que sentia uma pontinha de ciúmes, por uma menina mais jovem ser a guitarrista solista de sua banda. “Você é muito talentosa, e eu tenho certeza que se as coisas não virarem com essa banda, você vai encontrar uma outra forma de fazer sucesso.”
“Obrigada.” Yerim agradeceu sincera e então colocou sua mão no ombro de Sooyoung. “Eu posso dizer que você também é muito boa no que faz. Meu pai sempre diz que não adianta ter um solo incrível se a base não for bem executada, e eu posso dizer que nós somos uma boa dupla.”
“Valeu.” Sooyoung agradeceu, sentindo-se bastante lisonjeada com aqueles elogios por parte da outra.
“Bom, eu vou pegar o metrô por aqui, mas antes eu tenho uma coisa pra te dar.” Yerim então tirou do bolso uma palheta. “Vai te ajudar bastante a não machucar os dedos da mão direita, já que a esquerda fica cheia de calos.”
“Obrigada, Yerim.” Sooyoung agradeceu e pegou o singelo presente.
“Então, até mais ver.” A mais nova se despediu e atravessou a rua, onde tinha uma estação de metrô.
Já Sooyoung olhou com carinho para a palheta, antes de guardá-la. Agora estava se sentindo levemente culpada por ter feito um mal julgamento de Yerim. Às vezes todos nós nos esquecemos que as outras pessoas também têm problemas, tristezas e frustrações em suas vidas, mesmo quando elas não deixam isso transparecer.
Mas agora era a hora dela, definitivamente, seguir para a casa do reverendo Kim e falar com Jiwoo.
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Após chegar até a rua onde Jiwoo vivia com o pai, Sooyoung sentiu uma ansiedade crescente e um frio na barriga. Estava com medo de ser rejeitada pela garota ou de não conseguir se expressar da forma como gostaria por causa do nervosismo.
Mas ela precisava se desculpar. Não era uma opção.
Após tomar coragem, ela tocou a campainha da casa da menina, e não levou muito tempo para a porta ser aberta, e a jovem religiosa surgir diante de seus olhos.
“Sooyoung?” A garota exclamou surpresa. “O que você está fazendo aqui?”
Sooyoung comprimiu os lábios, nervosa.
“A gente pode conversar?” Ela perguntou, receosa.
Diferente das outras vezes em que se viram, Sooyoung notou que Jiwoo não parecia feliz ao vê-la, e manteve a expressão fechada.
Era mais do que compreensível, porém, aquele silêncio estava deixando a outra jovem aflita.
“Entre.” Jiwoo respondeu, após pensar por alguns segundos, e Sooyoung adentrou a sua casa.
Sooyoung sentiu-se um pouco mais feliz ao obter uma primeira resposta positiva, mas o que ela viu ali na sala foi algo totalmente inesperado.
“Oi, Sooyoung.” Christopher Bang, um dos garotos da banda da igreja a cumprimentou simpaticamente.
O rapaz estava sentado no sofá, com um balde de pipoca em mãos e um filme pausado na TV.
A garota apenas assentiu em resposta ao rapaz e virou-se para encarar Jiwoo, que estava ao seu lado.
“Eu estou interrompendo alguma coisa, Jiwoo?” Ela perguntou com certa amargura.
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You're my sunshine
FanficHa Sooyoung é uma jovem de gênio forte e vinda de uma família problemática que quer viver apenas fazendo o que ama: tocar guitarra Sua vida, no entanto, vira de pernas pro ar quando sua mãe se casa com o reverendo Kim, e ela passa a conviver diariam...