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“Eu vou tentar ligar, mas não sei se ela vai atender.” Sooyoung falou para Gyuri sobre Kahei, após Jiwoo sair do quarto, permitindo que as duas tivessem uma conversa com mais privacidade. “Ela deve tá trabalhando.”
“Como assim trabalhando?” Gyuri perguntou, arqueando uma sobrancelha, supresa com a informação. “Ela não é da sua escola? Não tem a sua idade?”
“Não, ela é mais velha.” A garota explicou, e só pela expressão da mãe, soube que aquilo não havia lhe agradado em nada. “É só um pouco mais velha, ela tem uns 21, eu acho.” Tentou consertar, mas não foi o suficiente.
“E de onde você conhece uma garota mais velha?” Gyuri continuou a questionar, colocando as mãos na cintura e assumindo uma postura e um tom de voz mais autoritários.
“Foi... Foi na internet.” Ela esclareceu, para o horror da mulher mais velha.
“Na internet? Meu Deus do céu... Sooyoung, eu te falei uma porção de vezes o quanto ficar de conversa com estranhos na internet era perigoso, não falei?” Gyuri perguntou, incrédula com aquela história.
Sooyoung suspirou ao se lembrar dos muitos sermões que ouviu da mãe sobre o quanto a internet era uma arma e um refúgio para todo o tipo de gente que não presta.
“Eu sei, mãe, mas a Kahei não é uma criminosa sexual muito menos traficante de órgãos. Olha pra mim, eu tô inteira aqui.” A adolescente ironizou e sorriu, tentando mudar o rumo da conversa, mas sua tática não funcionou.
“Não banque a palhaça, Sooyoung, eu estou falando sério!” Gyuri a repreendeu, e o sorriso desapareceu dos lábios da guitarrista.
“Sendo assim, acho que é melhor ela não vir aqui.” A adolescente falou, na esperança de que Gyuri desistisse daquela ideia.
“Por acaso você não quer que essa garota venha pra nossa casa? Existe algo sobre ela que eu não posso saber, Sooyoung?” Gyuri perguntou, totalmente desconfiada, e a jovem engoliu em seco, tentando esconder o nervosismo.
Não precisava ser um gênio pra saber que Gyuri nunca aprovaria a amizade de sua filha com alguém como Kahei, e motivos pra isso não faltavam.
“Não é isso, é só que ela é estrangeira, e é meio tímida, não sei se ela vai ficar confortável com tanta gente assim.” Sooyoung tentou disfarçar.
“Eu vou tratá-la muito bem, não precisa ter medo, não.” Gyuri garantiu, então a garota, sem outra opção, pegou seu celular e ligou para Kahei. Gyuri seguiu para a cozinha.
“Era só o que me faltava.” Sooyoung reclamou baixinho, enquanto o celular de Kahei chamava. “Por que eu fui abrir a minha maldita boca?”
“Alô.” Sooyoung reconheceu a voz de sua amiga do outro lado da linha.
“Oi, Kahei, sou eu, a Sooyoung.” Ela se identificou, apesar do celular da outra reconhecer o seu número. “Tudo bem?”
“Sim, comigo tudo ótimo.” A chinesa respondeu. “Mas aconteceu algo com você? Você raramente me liga, principalmente nesse horário.” Ela sabia que Sooyoung estava em casa, na companhia da mãe e da irmã e por isso elas não podiam se falar, no máximo trocar mensagens, então estava estranhando muito aquela ligação.
“Bom, acontecer não aconteceu, não, pra ser sincera.” Sooyoung esclareceu, enquanto pensava em algo para dizer. “Na verdade, eu tô ligando pra te fazer um convite.”
“Convite? Epa, manda aí.” A chinesa respondeu surpresa e animada.
“Minha mãe quer que você venha jantar aqui essa noite.” Ela falou, sem rodeios e alguns segundos silenciosos.
“Você tá falando sério? Como assim, sua mãe quer que eu vá jantar aí? Desde quando ela sabe que eu existo?” Kahei questionou, não contendo o riso, achando que aquilo deveria ser uma piada de Sooyoung.
“Esses dias eu acabei falando sobre você pra ela, então agora ela quer te conhecer.” Sooyoung explicou. “Você pode vir?”
“Bom, eu tenho um encontro marcado com Haseul hoje, mas eu acho que eu posso atrasar um pouquinho, ela não vai se importar.” Kahei disse.
“Encontro em plena quarta-feira?” A guitarrista estranhou.
“Não existe dia certo pra amar, meu bem.” A mais velha retrucou e deu uma risadinha.
“Tá certo, então, você passa aqui pelas 19:30.” Kahei assentiu. “E por favor, cuidado com o que você vai fazer, porque o reverendo Kim e a Jiwoo estão aqui também.”
“Aaaah...” A chinesa falou em um tom malicioso ao ouvir o nome da garota, deixando Sooyoung vermelha e sem graça do outro lado da linha.
“Tchau, Kahei.” Ela cortou a outra e desligou o telefone, e depois seguiu para a cozinha, onde sua mãe já preparava o jantar, com a ajuda do reverendo Kim, que cortava tomates.
“Eu falei com a Kahei e ela me disse que vem.” A garota falou para a mãe, e então seguiu para a sala, onde Chae Won, Hyejoo e Jiwoo estavam mexendo em umas caixas de fotos.
“O que vocês estão fazendo com isso?”  A mais velha questionou.
“A mãe mandou pegar pra mostrar as recordações pro reverendo e pra Jiwoo.” Hyejoo respondeu com clara má vontade e revirou os olhos. “Como se essas velharias fossem interessantes.”
“Tem umas fotos muito legais aqui, tipo essa, Hyejoo, olha você pequenininha que graça.” Chae Won falou animada e pegou uma foto de Hyejoo, com uns três anos de idade, sentada nos ombros de seu pai, no estilo “cavalinho”. Os dois sorriam animados, e a menina tinha seus cabelos presos no estilo “chuquinha”.
Ao ver aquela imagem, Hyejoo fez uma expressão triste, por se lembrar de Yangnam, mas tentou disfarçar e abriu um sorriso maldoso.
“Eu sempre fui um bebê muito mais fofo que a Sooyoung.” Ela provocou a irmã, que apenas ignorou aquelas palavras e se manteve em silêncio.
Chae Won, no entanto, continuou a olhar nas imagens antigas da família Ha-Son, e encontrou uma foto onde Gyuri estava sentada no sofá, com uma barriga de 8 meses, e ao lado dela estava Sooyoung, com três anos, sorrindo e com a mãozinha sobre a barriga da mãe, que tinha um braço ao seu redor.
Aquele registro havia sido feito por Yangnam, apenas algumas semanas antes de Hyejoo nascer.
“Olha, esse dia foi a última vez que a Sooyoung demonstrou carinho por mim.” A caçula ironizou, pegando a foto das mãos de sua amiga.
Sooyoung apenas abaixou a cabeça, tentando manter a calma para não brigar com sua irmã que lhe atacava gratuitamente.
“Engraçado, tem várias fotos da sua mãe grávida, mas nenhuma da Sooyoung, só de você, Hyejoo.” Chae Won comentou inocentemente, após ver várias imagens de Gyuri grávida, mas sempre com Yangnam ao seu lado.
“Mas é claro, a gravidez da Sooyoung foi um período tenebroso na vida da minha mãe, e quem é que fica tirando foto dos momentos de desgraça na vida?” Hyejoo ironizou rindo, e aquelas palavras foram a gota d’água para a mais velha explodir.
Realmente, não haviam registros do período que Gyuri estava grávida de Sooyoung, e era óbvio que a garota tinha plena consciência de que o motivo para aquilo eram as dificuldades pelas quais a jovem mãe estava passando no momento em que teria uma filha sozinha e envergonhada.
“Eu tava bem feliz naquela outra foto pensando que ia ter uma irmãzinha, mas veio um bebê de Rosemary no lugar.”  Sooyoung retrucou, afinal, quem conhecia a história do filme, sabia que o tal bebê era um demônio.
A resposta da primogênita fez Hyejoo a encarar com uma expressão de raiva e Chae Won e Jiwoo se olharem com certa preocupação. As duas já sabiam como a relação das irmãs era turbulenta e podia soltar faíscas a qualquer momento.
“Calma, gente.” Chae Won interviu, sorrindo nervosa. “Vocês não precisam brigar.”
“Essa discussão não vai levar vocês a lugar algum.” Jiwoo argumentou, tentando acalmar os ânimos, e olhou para Sooyoung, que entendeu que, por ser mais velha, deveria agir de forma mais racional.
“Eu vou tomar um banho.” Sooyoung disse, encerrando aquela discussão e seguindo para o banheiro.
Jiwoo ficou observando Hyejoo fazendo caretas e imitando Sooyoung, e aquilo lhe fez ter coragem para abrir a sua boca e falar uma coisa que a caçula estava merecendo ouvir.
“Você está sendo injusta com a Sooyoung.” A filha do reverendo falou baixo, porém firme, e recebeu um olhar nada amigável de Hyejoo. “Sua irmã é meio... Meio difícil mesmo, mas ela gosta de você.”
Hyejoo soltou um risinho irônico.
“Essa aí já tá falando como se conhecesse a peça.” Hyejoo debochou, referindo-se a irmã. “É melhor você ficar na sua, carolinha, porque a treta entre nós é antiga, e você não sabe nada do que já aconteceu aqui.”
Jiwoo recuou de início com aquelas palavras, com receio de ter se metido em um assunto que não era de sua alçada, mas ela decidiu por seguir na defesa de Sooyoung.
“Eu não sei o que aconteceu entre vocês, mas eu sei o que aconteceu hoje, e hoje Sooyoung quase entrou numa briga física pra te defender.” Jiwoo esclareceu, referindo-se a confusão entre Sooyoung e sua própria prima na igreja momentos antes.
Hyejoo encarou Jiwoo demonstrando estar surpresa.
“Não é porque talvez ela não demonstre, que ela não gosta de você, assim como eu sei que você também deve gostar dela, mesmo brigando assim, porque vocês são irmãs e nada vai mudar isso.” Jiwoo concluiu, deixando Hyejoo visivelmente mexida e pensativa, abaixando a cabeça e permanecendo assim por alguns segundos.
A filha do reverendo decidiu sair dali, para que a garota pudesse se sentir mais a vontade com seus pensamentos, e então foi para a cozinha.
“Vocês precisam de ajuda? Eu estou sem nada para fazer agora.” Jiwoo perguntou gentilmente.
“Nós estamos dando conta de tudo, minha filha.” Donghae respondeu simpático.
“Não se preocupe quanto a isso, Jiwoo, pode ficar lá na sala conversando com as meninas.” Gyuri completou e sorriu para a futura enteada, que assentiu e sorriu de volta, deixando o cômodo.
Não voltou para a sala onde Hyejoo e Chae Won estavam, seguiu pelo corredor e entrou no quarto das irmãs, que estava sem ninguém, já que Sooyoung tomava banho naquele momento.
Ela olhou para a guitarra sobre a cama debaixo do beliche, que era onde Sooyoung dormia, e abriu um pequeno sorriso, ao se sentar no colchão e acariciar o objeto. Sooyoung não somente o tocava com destreza, como era bastante cuidadosa com o instrumento. Ele estava da mesma forma como quando Jiwoo o entregou.
Era uma prova de que ela realmente amava o que fazia e se preocupava em mantê-lo em ótimo estado.
Após algum tempo observando o quarto, ela se levantou e começou a observar as coisas que estavam em cima da escrivaninha: cadernos, livros, dois batons, um pequeno estojo de maquiagem. Nada muito diferente de qualquer quarto de adolescentes comuns. Não que Jiwoo esperasse encontrar algo diferente ou extraordinário ali, apesar de Sooyoung, talvez, ser um pouco diferente...
“Jiwoo?!”
A jovem religiosa se assustou ao ouvir seu nome, e ao olhar para trás deu de cara com Sooyoung, apenas de toalha branca, cabelos molhados e parecendo espantada ao encontrá-la ali.
Apesar de não estar fazendo nada demais, Jiwoo corou na hora e ficou bastante tensa, como se tivesse sido pega cometendo algum crime, e não conseguiu evitar olhar para os ombros e a parte visível da pele da mais velha.
“Eu... Eu já vou sair.” Jiwoo falou baixo, atropelando as próprias palavras, abaixando a cabeça e caminhando em direção a saída, possibilitando Sooyoung de fechar a porta para vestir sua roupa.
A garota estava se sentindo tão envergonhada, até meio sem chão, principalmente por ter olhado para o corpo de Sooyoung, que era tão bonito e... Nada! Não era nada. Ela tinha que apagar aquela imagem de sua mente, não podia se render a tentação. Não era algo de Deus.
Bastante ansiosa, Jiwoo começou a andar de um lado para o outro, sentindo aquele calor aumentar e seu rosto ficar vermelho, e instintivamente a jovem começou a abanar o rosto com as próprias mãos.
Quando a porta do quarto se abriu, ela deu até um pulo e viu Sooyoung, que agora usava uma calça jeans e uma blusa de manga longa preta. Seus cabelos estavam soltos e caindo sobre os seus ombros.
Ela olhou para Jiwoo, que estava paralisada, parecendo em choque, e que mantinha a cabeça baixa, não conseguindo sequer encarar a primogênita de Gyuri, que arqueou uma sobrancelha, confusa.
“Jiwoo, você tá bem?” Sooyoung perguntou, ao ver a outra naquele estado.
“Me desculpa entrar no seu quarto assim, eu não pensei que você fosse aparecer lá... Daquele...” A imagem de Sooyoung enrolada naquela toalha a deixava com mais calor e vergonha. “...Daquele jeito.”
Sooyoung, que também havia ficado tímida por ter que encarar Jiwoo só de toalha, também corou, ,imaginando que a garota estava daquele jeito por tê-la visto daquela maneira, e isso era um tanto estranho.
“Não tem problema, não aconteceu nada demais.” A mais velha respondeu, tentando de uma forma velada, acalmar a outra. “Bom, vamos para a sala?”
“Eu preciso usar o banheiro.” Jiwoo falou, e não pensou duas vezes antes de entrar no menor cômodo da casa, onde logo se apoiou sobre a pia, e após alguns segundos, olhou para o espelho e viu seus olhos lacrimejando.
“Meu Deus, o que tá acontecendo comigo?” Sussurrou e então abriu a torneira, lavou o rosto, tentando se recompor, já que logo o jantar seria servido e ela teria que estar a mesa junto de seu pai.
Respirou fundo algumas vezes, em um exercício para se sentir melhor e poder sair dali como se nada tivesse acontecido, mas então ela se lembrava de Sooyoung naquela toalha e...
Fechou os olhos e balançou a cabeça, clamando por um pouco de piedade dos céus e forças para seguir em frente sem fraquejar naquela noite.
Decidiu sair dali do banheiro, antes que alguém começasse a estranhar sua demora e viesse a sua procura.

You're my sunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora