“Vai-te e não peques mais.” Jiwoo murmurou para si mesma, lembrando-se da célebre frase de Jesus ao defender a mulher adúltera daqueles que queriam lhe apedrejar.
Jesus era bondoso, compreensivo e humano. Não jogava pedras e nem deixava que outros apedrejassem o pior dos pecadores, porém, era categórico ao dizer para que eles não pecassem mais.
E era exatamente nesse ponto que Jiwoo estava fraquejando: não adiantava pedir perdão pelas suas falhas todas as vezes que elas aconteciam, enquanto seguia errando da mesma forma de novo e de novo. Isso beirava a hipocrisia e também ao comodismo, coisas que não podiam fazer parte da vida de um verdadeiro cristão.
Precisava parar de reincidir em seu pecado, e para isso, teria que encarar aquela situação da forma mais corajosa e realista possível, deixando de lado todos os seus anseios e adotando uma postura firme em relação a si mesma, e claro, a Sooyoung.
Óbvio que Sooyoung não era o capeta propriamente dito, mas sem dúvidas, estava sendo usada por ele como um instrumento para desviar Jiwoo de seu caminho de fé.
O corpo de Sooyoung era a armadilha para que a religiosa se afastasse de Deus, deixando para trás sua vida regrada e pautada pela Bíblia para trilhar o caminho do pecado da carne, do sexo pecaminoso, do prazer sem responsabilidade e assim conseguir um passaporte direto para as profundezas do inferno.
Muita gente achava idiotice e era descrente em relação a influência de Satanás na vida das pessoas, inclusive na das religiosas, e ela própria tinha certa dificuldade de entender porque o capeta queria tanto tentar as pessoas e levá-las para o inferno junto dele, mas Donghae um dia lhe explicou que Satanás odiava Deus e queria de todas as formas machucá-lo, porém, não tinha poder para isso, e portanto, atacava seus filhos, assim como tinha feito com Jesus nos 40 dias em que esteve no deserto, tentando-os para desgraçá-los. Nenhum pai amoroso quer ver o filho em um caminho de dor e sofrimento, e Deus é o mais amoroso dos pais, por isso que Satanás está sempre à espreita, pronto para levar os filhos do Senhor ao inferno, onde amargarão pesados sofrimentos por toda a eternidade, apenas para atingir o Senhor em seu ponto mais fraco.
A parte mais difícil, com certeza, seria a falta de apoio naquela luta, já que, de forma alguma, poderia confidenciar aquilo pra qualquer pessoa, pois tinha a absoluta certeza que ninguém lhe entenderia e se, por desventura, aquilo acabasse se tornando conhecimento de Donghae, ficava em pânico só de pensar no que poderia acontecer com ela.
Seus companheiros naquela árdua batalha seriam apenas Deus e Jesus, e iria rezar todos os dias e noites, até que conseguisse voltar a ser quem era antes de toda aquela confusão tomar conta de sua vida.
Sozinha em seu quarto, se ajoelhou perante sua cama, fechou os olhos, juntou suas mãos e abriu seu coração.
“Meu amado Jesus Cristo, meu Rei e Salvador: você que é Deus, mas que também já foi homem, que foi tentado pelo diabo como qualquer outro ser humano, por favor, me dê forças para rejeitar o pecado. Sei que agi de forma indigna quando permiti que as tentações deste mundo dominassem meu coração e meus pensamentos. Sei que esqueci de Ti quando permiti que meu corpo sucumbisse às tentações da carne. Com toda a sinceridade que tenho dentro de mim, eu peço perdão, pois estou arrependida de todos os insultos que cometi contra o Espírito Santo. Jesus, o Senhor que é o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo, me purifique, me proteja e me salve com o seu precioso sangue, me santifique com o seu espírito e me torne, mais uma vez, digna de seu amor e de sua misericórdia. Amém.”
Após terminar a sua oração, Jiwoo se levantou, agora determinada a encerrar aquele ciclo de pecados de uma vez por todas.
Porém, naquele momento, era hora de deixar Sooyoung e todas essas preocupações de lado e se focar em seu encontro com Myungjun, que aconteceria dentro de poucas horas.
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Com total inexperiência quando o assunto era garotos, Jiwoo achou melhor chamar alguém para lhe ajudar a se arrumar para o primeiro encontro de sua vida, e a única pessoa com certa experiência nesse assunto entre suas amigas próximas era Heejin, por isso, a jovem cantora não demorou para chegar na casa da filha do pastor.
Jiwoo notou a alegria estampada no sorriso da outra, e a animação que extravasava de seus olhos.
“Então quer dizer que você tomou coragem e decidiu encontrar com o menino da sua escola?” Foi a primeira coisa que Heejin falou, logo após adentrar a residência e cumprimentar Jiwoo.
“Sim, eu acho que já tava na hora, não é?” Jiwoo respondeu com um sorriso forçado. Ela já estava ficando até meio envergonhada por ver como todo mundo parecia mais animada para aquele encontro do que ela própria.
“Sim, já tinha até passado da hora, pra falar a verdade.” Heejin comentou. “Fico feliz por ver que o reverendo Kim não é um homem tão mente fechada. Não adianta ficar bravo, xingar, brigar, todo mundo vai namorar algum dia, isso é normal.” Jiwoo apenas assentiu, enquanto seguiu para o quarto com a amiga, que já conhecia bem a sua casa.
“Mas eu não sei se eu vou namorar com ele.” Jiwoo falou, meio na defensiva, já que a sensação que lhe dava era que o seu encontro tinha virado o evento do ano. “Isso é só um encontro, e a gente só vai conversar.”
“Claro, mas um encontro pode ser o primeiro passo para um namoro.” Heejin lhe disse calmamente. “Mas você está certa, não devemos colocar a carroça na frente dos bois.”
As duas jovens entraram no quarto, e Jiwoo se sentou em sua cama, já Heejin sentou na cadeira de sua mesa de estudos.
“Bom, então, como você acha que eu devo me vestir pra esse encontro?” Jiwoo perguntou, quebrando o curto silêncio. Estava um pouco insegura quanto a isso, já que sempre via Myungjun na escola, e lá estava sempre de uniforme.
“Isso vai depender do que você quer mostrar pra ele.” A resposta de Heejin causou estranhamento em Jiwoo, que ficou tensa, arqueou as sobrancelhas e por instinto levou as mãos sobre o peito, como se quisesse esconder os seios, mesmo estando com uma blusa que cobria todo o seu torso.
“Como assim o que eu queromostrar pra ele?” Ela não conteve a dúvida, fazendo Heejin rir.
Jiwoo nunca poderia usar roupas que fossem ousadas e mostrasse muito de sua pele, ela não gostava e nem tinha roupas desse estilo, e seu pai ficaria uma fera se a visse vestida de forma deliberadamente provocante.
“Eu não falei nesse sentido, Jiwoo.” Heejin esclareceu, achando graça daquela confusão e da expressão assustada da amiga. “Eu falei no sentido do estilo. Você quer parecer o quê, exatamente?”
Jiwoo relaxou ao ouvir aquilo, voltando a sua posição normal, mas em dúvida com aquela pergunta.
“Ah sei lá, o que você veste quando sai com o Wonpil?” Jiwoo questionou, e logo após se lembrou de que Heejin não saia mais com o garoto, já que tinham terminado, e acabou se sentindo mal. “Ah, me perdoa, eu me esqueci completamente que vocês não estão mais juntos.” Completou, até abaixando a cabeça de vergonha.
Heejin abriu um pequeno sorriso meio melancólico ao ouvir aquilo, mas não pareceu tão abalada como ficava antes.
“Tudo bem, Jiwoo.” Ela falou. “Eu sei que todo mundo estranha o fato de não sermos mais um casal, até mesmo a minha mãe, pra você ter uma ideia.” Jiwoo abriu um sorriso sem-graça. “Mas eu vou te contar um segredo: eu voltei a falar com ele, por telefone, mas voltei.”
“Sério? Que bom!” Jiwoo respondeu mais animada.
“Eu pensei naquilo que nós conversamos, nas suas palavras, e eu acredito que você esteja certa sobre o Wonpil não ser um canalha, acho que ele quis contornar a situação chata com aquela garota e foi onde aconteceu toda essa confusão, mas meu coração já está mais calmo e agora eu já não estou sentindo mais tanta raiva dele.” Ela explicou. “Eu só não contei pra ninguém, porque não quero que as pessoas fiquem nos pressionando para reatarmos. Se for pra ser, Deus fará acontecer.”
“Sim, Ele fará.” Jiwoo concordou, sentindo-se feliz por Heejin ao ouvir aquilo, mas ao mesmo tempo sentia que a amiga também estava em uma situação delicada, e que não tinha muitas escolhas a menos que quisesse enfrentar uma possível ira de seus pais caso fosse descoberto que ela tinha ido pra cama com o namorado antes do casamento.
“Mas respondendo a sua pergunta, a diferença é que eu e Wonpil já nos conhecíamos desde crianças, então ele já sabia como eu era, como eu gostava de me vestir, as coisas que eu queria fazer.”Heejin respondeu. “Como você quer que o Myungjun te veja? Quem é Kim Jiwoo?”
Jiwoo ficou em silêncio com aquela pergunta. O que era pra ser apenas uma ajuda entre amigas para colocar uma roupa e uma maquiagem estava se parecendo mais com uma sessão de terapia.
“A filha do pastor?” Jiwoo respondeu em forma de pergunta, e com um certo amargo ao perceber que aquela era a sua personalidade: a filha do pastor.
Sim, isso não era uma característica, mas era como se ela finalmente se desse conta de que era assim que todo mundo a via, inclusive ela mesma.
“Acho que é mais fácil abrir meu armário e a gente escolher uma roupa juntas. Essa conversa tá ficando muito abstrata pra mim.” Jiwoo falou e Heejin concordou, fazendo a mais jovem se levantar de sua cama e abrir o seu armário.
Heejin também se levantou, caminhando até ela e se postando do seu lado.
“Esse macacão te deixa muito fofa.” Heejin falou e pegou de dentro do armário um macacão jeans preto, que Jiwoo havia usado poucas vezes. “Você deveria usá-lo mais.”
“Não sei, me sinto meio estranha com ele, mas acho que pode ser legal ir com uma roupa bem diferente do uniforme da escola pra esse encontro.” Jiwoo respondeu e sorriu.
“Aquela sua blusa de lã, sabe a azul bem clarinha de gola alta?” Heejin perguntou e Jiwoo confirmou. “Então, acho que daria um bom contraste com a cor escura do macacão e ainda vai te deixar charmosa.”
Jiwoo gostava muito daquela blusa e como estava frio, daria pra usá-la sem maiores problemas ou incômodos.
“Experimenta pra ver como vai ficar.” Heejin disse, e Jiwoo seguiu seu conselho, já que ainda havia bastante tempo até o horário marcado pra encontrar Myungjun. “Coloca uma música pra gente se distrair, Jiwoo.” Heejin pediu, se deitando na cama da garota, enquanto mexia no celular, evitando olhar para a menina que se despia.
“Tá bom.” Jiwoo concordou, pegou seu celular e colocou uma música de suas cantoras favoritas: Mariah Carey, e depois ativou o modo aleatório.
“Essa música é tão linda. Eu amo.” Heejin comentou, ao ouvir as primeiras notas de “My all”, um clássico romântico dos anos 90, cantarolando junto com a cantora norte-americana.
Tudo estava muito bem, e Jiwoo estava até entretida e não pensando em seus problemas, quando aquela música acabou e começou “Power of two”, que Sooyoung havia lhe mandado na noite anterior.
Apenas isso foi o suficiente para fazer seu coração parecer apertado e uma vontade de chorar enorme lhe invadir, e ela nem sabia o porquê.
Mas se segurou. Como iria explicar aquela situação para Heejin se começasse a derramar lágrimas de forma tão repentina e sem motivo aparente? Ia parecer uma doida.
“Acho que... que ficou bom, né?” Ela perguntou, tentando sorrir e demonstrar aquela pouca animação que ainda tinha dentro de si, antes da mesma se esvair toda com a mera lembrança de Sooyoung.
“Pra mim, você tá linda.” Heejin falou sorrindo, achando que Jiwoo havia ficado um bolinho fofo com aquela roupa. Dava até vontade de apertar suas bochechas, mas se segurava para não parecer uma tiazona, já que ela era muito jovem para encarnar esse papel na vida da amiga.
“Acho que eu vou com ela então.” Disse, e apesar de ter gostado como ficou com aquele visual, ela optou pela primeira roupa que vestiu mais por não estar com ânimo para ficar trocando e destrocando suas vestimentas. “Sapato eu vou com aquela minha bota de sempre.” Completou, sem muito ânimo, para o estranhamento de Heejin, que logo notou a mudança rápida de humor da menina. Não que ela estivesse pulando de alegria quando Heejin chegou ali, mas, agora, estava visivelmente entristecida.
“Então, eu vou fazer uma maquiagem bem leve, nada muito chamativo, porque sei que você não gosta.” Heejin disse, guardando o celular no bolso da calça e tirando da própria bolsa o estojo de maquiagem que havia trazido de casa.
Jiwoo sentou-se na cadeira da sua mesa de estudos e Heejin se aproximou dela. Elas ficaram em silêncio por alguns segundos.
“Jiwoo, você está com medo de alguma coisa?” A mais velha questionou, já não se aguentando com a aflição de ver a outra menina com aquele semblante tão triste.
A filha do pastor até prender a respiração com a pergunta, sentindo um certo ímpeto para acabar confessando para ela tudo o que estava se passando em sua vida, já que parecia que ia explodir de tanto segurar todas aquelas emoções sozinhas, mas se conteve.
Aquilo era o pior segredo que alguém de dentro da igreja poderia ter que guardar. Se tivesse matado uma pessoa, Jiwoo, talvez, não se sentiria com tanto medo de confessar como dizer que tinha tido certos desejos homossexuais.
“Não estou com medo, só um pouco... Não sei, eu só quero que isso acabe o mais rápido possível.” Ela respondeu, e é claro que suas palavras deixaram Heejin de orelha ainda mais em pé. Era tudo muito estranho.
“Mas eu achei que você quisesse isso, Jiwoo, não foi você mesma quem o convidou?” A jovem questonou, confusa.
Jiwoo reconhecia que aquilo era contraditório mesmo, já que o primeiro passo para aquele encontro havia sido dela.
“Esse garoto realmente é legal?” Heejin questionou, com um certo receio de que a filha do pastor só tivesse armado aquele encontro pelo o que ela havia lhe dito dias antes, e agora estivesse indo ver alguém que pudesse estar forçando a barra para conseguir fazer algo que a mais jovem, visivelmente, ainda não estava pronta.
“Sim, o Myungjun é um garoto muito legal.” Jiwoo afirmou categoricamente, defendendo a honra do jovem que não merecia aquela fama por causa dos desvios cometidos por ela. "O problema não é ele, o problema sou eu.”
Pronto. Havia dito as palavras que poderiam ser a derrocada de sua vida.
“Como assim?” Heejin perguntou, outra vez, até parando de maquiar a outra, e com uma expressão bem preocupada em seu rosto.
Jiwoo comprimiu os lábios, abaixou a cabeça e sentiu seu coração palpitar. Estava ficando muito nervosa.
“Eu não quero falar sobre isso.” Jiwoo respondeu, ainda com a cabeça baixa, evitando olhar para Heejin. “Eu só... quero que tudo acabe logo, só isso.”
Estava claro que algo muito errado estava acontecendo com Jiwoo, mas Heejin decidiu respeitar seu pedido de não conversar sobre aquilo, pelo menos por enquanto, já que ela também tinha seus segredos, medos e anseios, mas como amiga de muitos anos, iria tentar ajudar Jiwoo a passar por aquilo, seja lá o que “aquilo” fosse.
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Após terminar de ajudar Jiwoo a se arrumar, Heejin havia penteado seus cabelos e deixado-os soltos e para completar, uma maquiagem bem leve, passando um batom rosa claro e sombra bege, as duas garotas deixaram a casa da segunda.
“Heejin, muito obrigada por ter vindo me ajudar e me desculpa pelos meus modos, eu estava sim um pouco nervosa e me alterei, mas agora eu já estou mais tranquila.” Jiwoo agradeceu e abraçou a amiga.
“Jiwoo, vai dar tudo certo, e qualquer coisa, você sabe, pode me ligar e eu vou ser toda ouvidos pra sua situação.” Heejin afirmou, segurando nas mãos da outra e sorrindo para ela. “Eu te acompanho até o metrô.”
Jiwoo assentiu e se preparou para seguir caminhando com Heejin, quando o carro de seu pai virou a esquina, e ele parou em frente a sua casa e as duas meninas, para o estranhamento de Jiwoo, já que seu pai sempre terminava seus trabalhos diários mais tarde.
“Oi, reverendo Kim.” Heejin cumprimentou o homem, que sorriu e acenou de volta.
“Chegou cedo, pai, aconteceu alguma coisa?” Jiwoo perguntou, já imaginando que o motivo de sua chegada era apenas para lhe ver antes dela sair e se certificar de que tudo estava dentro dos conformes.
“Eu consegui terminar o meu trabalho mais cedo hoje, aí pensei em te dar uma carona até ao... A sorveteria.” O homem respondeu, deixando Jiwoo sem-graça por saber que aquela era uma forma de Donghae lhe vigiar. “Vai pra casa, Heejin? Eu te levo.”
“Eu vou pra uma livraria, mas aceito a carona, reverendo.” A mais velha respondeu simpática.
As duas garotas entraram no carro, Jiwoo sentou-se no passageiro ao lado de Donghae, já Heejin no banco de trás.
Donghae não falou quase nada durante o trajeto, apenas olhava de canto de olho vez ou outra para a filha, que ao seu ver, estava linda.
Heejin pediu para ser deixada em uma esquina do quarteirão onde ficava a livraria na qual ia passar, agradeceu a carona de Donghae, desejou sorte a Jiwoo e se despediu dos dois.
O resto do caminho até a sorveteria foi ainda mais silencioso, Jiwoo mantinha a cabeça baixa enquanto Donghae prestava a atenção no trânsito.
Quanto mais próximo ficavam de seu destino, ambos ficavam mais desconfortáveis.
“Você tem dinheiro com você, Jiwoo?” O pastor perguntou, e a garota assentiu.
“Tenho uma parte da minha mesada ainda, pai, obrigada.” Ela respondeu.
Donghae sempre dava pra filha uma quantidade razoável de dinheiro por mês, e como Jiwoo não era muito de gastar, sempre tinha algum dinheiro sobrando.
Quando o reverendo virou a esquina, Jiwoo logo avistou Myungjun, que estava em pé na frente da sorveteria.
Apesar de Jiwoo não dizer nada, Donghae sentiu que aquele era o rapaz que estava esperando por sua filha.
Era um sentido de pai.
O homem parou o carro e notou pelo espelho retrovisor que o rapaz estava olhando para dentro do veículo.
“Obrigada pela carona, pai.” Jiwoo agradeceu rápido, e colocou a mão na porta.
“Espere, Jiwoo.” Donghae ordenou e a jovem parou no mesmo instante e olhou para seu pai. “Eu virei te buscar daqui uma hora.” Ele disse, olhando para o relógio em seu pulso, para ver qual era o horário exato. “Uma hora.” Deu ênfase.
“Tudo bem, pai.” Jiwoo concordou, assentindo, apesar de achar que uma hora era um período curto de tempo, mas como não tinha certeza se teria muito o que conversar com Myungjun, acabou aceitando.
“Até mais.” Ele se despediu. “Fique com Deus.”
Jiwoo saiu do carro e viu o enorme sorriso brotar no rosto do rapaz. Ele estava radiante simplesmente por vê-la.
Ele estava muito bem arrumado, até meio engomadinho com um suéter vermelho em tricô por cima de uma camisa preta com gola até o pescoço, uma calça jeans azul escura e um tênis branco. Seus cabelos pretos estavam brilhando com gel e um topete penteado para trás.
Em seu pescoço ela viu uma corrente de prata com um pingente de yin e yang, um dia maiores símbolos do budismo.
Ele estava muito bonito, sem dúvida alguma, e Jiwoo até abriu um sorriso por vê-lo tão animado assim, apesar de não estar na mesma sintonia.
Ela estava com as mãos no bolso de sua calça.
“Oi.” Ele a cumprimentou de forma simpática, e antes que a garota respondesse, ele tirou do bolso da calça uma barra de chocolate e a entregou para a jovem. “Eu trouxe um presente.”
“Obrigada.” Ela agradeceu. “É muito gentil de sua parte.”
“Eu pensei em trazer algo, um presente, mas como eu não tava muito certo sobre o quê, trouxe esse chocolate.” Ele explicou. “Vamos entrar?”
“Vamos.” Ela concordou, e os dois adentraram a sorveteria, sentando-se em uma mesa de frente para o outro, e o rapaz pegou o cardápio que ficava ali.
“Você conhece bem as coisas daqui, né? Eu tô aberto a sugestões.” Myumgjun disse.
“Tudo o que eles servem aqui é muito bom, mas com esse tempo frio, eu acho que vou trocar o milk-shake por um chocolate quente ou capuccino.” Jiwoo falou, e o rapaz concordou.
“Acho que vou fazer o mesmo.” Ele comentou, e fechou o cardápio, entregando-o para Jiwoo e depois chamou o garçom.
Myungjun pediu um chocolate branco cremoso e Jiwoo um caffè macchiato, e para acompanhar biscoitos de nata, que foram sugeridos pela garota.
“Jiwoo, você está extremamente linda.” Myungjun elogiou Jiwoo, que abriu um sorriso nervoso, corou violentamente e até cobriu o rosto.
Myungjun riu, achando extremamente adorável aquela reação da menina.
“Eu gosto muito de você, Jiwoo, de verdade.” Ele prosseguiu. “E tô muito feliz por estar aqui com você hoje.”
“Obrigada.” Ela agradeceu. “Você é mesmo muito gentil e legal.” Ela completou, meio sem jeito e sem conseguir raciocinar direito. Sentia como se estivesse, de certa forma, enganando Myungjun, já que não tinha certeza alguma do que sentia por ele. “Você também está bem elegante, estiloso, hoje.”
“Obrigado.” Ele agradeceu, animado. “Não estranhe se eu ficar meio tímido, eu tô um pouco nervoso, confesso.” Ele expôs, deixando a consciência de Jiwoo mais pesada. “Eu quase nem consegui dormir direito essa noite, só pensando nesse encontro, sabe?” As palavras de Myungjun aliadas ao seu olhar brilhante exalavam sinceridade. “Quando você me convidou pra sair ontem, meu coração disparou e eu pensei por uns dois segundos que eu ia morrer com aquela taquicardia.” Ele completou e riu, lembrando da gostosa agonia que sentiu naquele instante. “Foi como se você confirmasse sentir o mesmo por mim.”
Jiwoo ficou sem nem saber o que dizer naquele momento e ficou aliviada quando o garçom trouxe os seus pedidos, pois teriam uma distração.
A garota logo pegou na asa de sua caneca e a trouxe para o canto da mesa, mais próxima de si.
“Eu não tenho muito tempo, meu pai disse que viria me buscar em uma hora, e ele é bem pontual.” Jiwoo falou, mudando de assunto e soltando um risinho nervoso ao se lembrar de Donghae.
“Seu pai é meio rígido, mas que bom que ele te deixou vir aqui hoje.” Myungjun comentou, e tomou um gole de seu chocolate branco, ficando com um fofo “bigodinho” logo após, o que fez Jiwoo rir e depois alertá-lo do ocorrido, que ele limpou com um guardanapo de papel.
Após experimentar o biscoito de nata, ele elogiou a guloseima para a garota.
“Eu adorei esse lugar.” Myungjun comentou. “A comida e a bebida são muito gostosas, o ambiente é aconchegante.” Ele completou.
“Você pode dar 5 estrelas na avaliação do Google.” Jiwoo brincou e dos dois riram.
“Bom, mas o melhor elemento não está em avaliação: sua companhia.” Ele disse com um pouco mais de confiança e sério, fazendo Jiwoo rir e corar violentamente, por não estar esperando por aquilo. “Não existem estrelas suficientes em todo o universo pra eu te avaliar no meu coração.”
Aquilo foi meio brega, Jiwoo reconhecia, mas era fofo também, e ela nem conseguia pensar em algo coerente para dizer para o garoto, apenas ria de nervoso e sentia seu rosto queimando tanto, que ela parecia que ia começar a evaporar a qualquer instante.
“Isso foi cafona, pode dizer.” O garoto brincou e riu também, e depois mudou de assunto, ao notar que talvez suas palavras naquele tom pudessem estar deixando Jiwoo desconfortável, e isso era a última coisa que ele queria.
Ele começou a falar sobre filmes e enquanto eles comiam os biscoitos e tomavam suas bebidas, o assunto viajou, indo para músicas, onde Jiwoo possuía um conhecimento mais vasto que o garoto e se empolgou ao começar a falar sobre suas cantoras favoritas, sua habilidade no piano e seu grande amor pelo canto.
“Aposto que você tem uma voz linda.” Ele disse. “Gostaria de te ouvir cantando algum dia desses.” Completou, com o olhar encantado sobre a menina. “Você poderia gravar um áudio e me mandar no celular.”
“Eu acho que fico tímida pra cantar pra alguém assim, desculpa.” Ela respondeu, sincera, mas lembrando-se que tinha cantado pra Sooyoung mais de uma vez.
Jiwoo entrou em alerta e passou a se policiar no mesmo instante para bloquear seus pensamentos. Não queria pensar em Sooyoung naquele momento.
“Tudo bem...” Myungjun falou, com um desânimo visível, mas que ele inutilmente tentou esconder. Notando aquilo, Jiwoo se sentiu mal por estar colocando para baixo um garoto que estava sendo tão gentil com ela.
“Bom, você pode me ver cantando na igreja.” Disse, surpreendendo o rapaz. “Quer dizer, se você não se importar, sei que segue outra religião, então espero que isso não seja ofensivo.”
“Não acho ofensivo de forma alguma, pelo contrário, acho muito bacana de sua parte me convidar pra sua igreja, mesmo eu sendo budista.” Ele disse de forma sincera, pois sabia que a esfera religiosa era extremamente importante na vida da garota.
“Se você quiser, pode fazer uma visita, nós recebemos todas as pessoas e eu ficaria bastante feliz se você fosse lá um dia.” Jiwoo disse com certa animação.
“Então, pode me esperar, que eu vou, sim.” O rapaz confirmou, sorrindo.
“Bom ver que você é aberto a experiências.” Jiwoo comentou, sentindo-se aliviado por ver como o rapaz havia sido gentil com seu convite.
“Tolerância é um dos ensinamentos de Buda que precisa ser levado adiante.” Myungjun disse. “Há uma história, que eu já ouvi muitas vezes durante nossas reuniões, que fala que Buda estava junto de seus discípulos, quando um homem estrangeiro chegou e cuspiu no rosto do mestre. Seus discípulos ficaram irritados e, Ananda, o mais próximo de Sidarta, pediu para que pudesse castigar fisicamente esse homem, mas ele negou e ainda agradeceu ao agressor, perguntando o que mais ele gostaria de fazer.” O rapaz contou, enquanto Jiwoo ouvia atentamente as suas palavras, não conseguindo deixar de notar semelhanças com a passagem bíblica onde Jesus, após ser agredido, não revidou, apenas ofereceu a outra face. “O homem ficou comovido com aquela reação, pois nunca havia encontrado alguém como Sidarta, e no outro dia ele apareceu apenas para agradecer ao mestre.”
“Isso é muito semelhante à forma como Jesus lidava com as pessoas e conseguia fazer com que elas o admirassem, sem precisar usar nada além de seus exemplos e palavras.” Jiwoo comentou e o rapaz assentiu.
“Ambos eram grandes mestres.” O rapaz disse e ela assentiu, concordando com aquela afirmação.
Os dois continuaram a conversar animados, enquanto comiam biscoitos e tomavam suas bebidas, e assim, o curto tempo que tinham para aquele encontro, passou muito mais rápido do que se imaginava, e Jiwoo, que outrora estava tão nervosa e com medo de se sentir uma completa estranha, se via bastante confortável ao lado de Myungjun, que estava provando ser, realmente, um bom rapaz.
“Jiwoo, posso te fazer um pedido?” O rapaz questionou, e a jovem assentiu. “Eu posso segurar sua mão?”
Aquela pergunta pegou Jiwoo de surpresa, e ela corou violentamente e sentiu até o ar faltar por alguns poucos segundos.
Ela estava tão nervosa, que se não controlasse seus instintos, teria saído dali correndo, como uma criança boba mesmo, mas, felizmente se conteve, respirou fundo e como resposta, estendeu suas duas mãos sobre a mesa.
Myungjun corou também, porém, de forma mais leve e sorriu, ainda custando a acreditar que aquilo tudo estava acontecendo mesmo e não era tudo parte de um sonho. Um sonho muito bom, do qual ele não gostaria de acordar nunca mais.
Ele segurou as mãos de Jiwoo com carinho e cuidado, queria deixá-la o mais confortável possível, e por alguns instantes, nenhum deles conseguiu falar nada, apenas sentiam o calor de suas mãos em total silêncio.
“Queria que você pudesse ouvir o meu coração agora, ele está tão acelerado.” Myungjun comentou, fazendo Jiwoo sorrir tímida e guardar para si que ele não era o único com os batimentos acelerados ali. “Ele sempre fica assim quando estou perto de você.”
“Eu não sei nem o que falar pra você agora.” Confessou, sincera, pois estava tão confusa e perdida e não queria dizer algo que estragasse o momento ou chateasse Myungjun.
“Diz que vamos nos encontrar assim mais vezes.” Ele pediu, com toda a coragem que conseguiu encontrar.
“Tudo bem.” Ela concordou, e o rapaz abriu um sorriso ainda mais largo e seus olhos até brilharam.
“Eu não sei exatamente o quê ou como explicar, mas toda vez eu olho pra você, que existe algo muito especial em você. Você é uma garota única, Jiwoo, e eu fico muito feliz por poder estar dividindo com alguém assim.” Myungjun disse, e passou a língua pelos lábios, enquanto fixou os olhos na boca da menina.
Nada mais precisava ser dito, sentia que aquele momento todo estava sendo construído para que terminasse em um beijo. Era óbvio o quanto Myungjyn gostava dela e provavelmente, nutria o desejo de provar de seus lábios, mas Jiwoo não se sentia muito segura pra dar esse passo, pelo menos por enquanto.
“Eu acho que o meu pai já deve ter chegado.” Jiwoo disse, numa tentativa de fuga, soltando as mãos de Myungjun e quebrando totalmente o clima romântico entre eles.
“Eu vou pedir a conta.” O rapaz disse e chamou o garçom, que trouxe a conta, e Myungjun a pagou inteiramente.
“Quanto deu a minha parte, Myungjun?” Jiwoo questionou o rapaz, enquanto eles deixavam o local.
“Na próxima você paga e aí ficamos quites, o que acha?” Ele perguntou e sorriu. “Assim, eu posso ter a certeza de que vamos sair de novo.”
Jiwoo corou com aquelas palavras, mas sorriu e concordou.
Como o esperado, quando os dois jovens chegaram do lado de fora da sorveteria, Donghae ainda não tinha chegado. Já estava ficando de noite e os ventos mais fortes e frios.
“Meu pai não chegou ainda, mas daqui a pouco ele deve estar aí.” Ela comentou, sentindo-se um tanto patética por ficar claro que ela só quis do interior por certo medo do que poderia acontecer lá naquela mesa.
“Eu fico de companhia até ele chegar, a menos que isso não vá te incomodar, é claro.” Myungjun sugeriu.
“Não vai me incomodar de forma alguma, só acho que não tem necessidade. Já está frio e você precisa descansar.” Ela respondeu, e o rapaz deu um risinho.
“Eu nunca me canso da sua companhia, Jiwoo. Com você o tempo voa. Essa última hora pareceu um minuto pra mim.” Ele disse sorrindo, e a garota abriu um sorriso tímido abaixando a cabeça.
Nesse instante, o carro de Donghae virou a esquina e estacionou na calçada, bem em frente ao casal de adolescentes.
Jiwoo olhou para Myungjun e se despediu sem qualquer contato físico sob o olhar de seu pai.
Ao entrar no veículo, Donghae estava sério, enquanto mantinha seus olhos fixos no espelho lateral do carro, observando Myungjun, que estava indo embora com as mãos no bolso.
Após um período curto de tempo, seus olhos se voltaram para a filha, que tinha a cabeça baixa, olhando para a barra de chocolate que ganhara do rapaz.
Donghae ficou pensando no que deveria dizer, e se lamentando mentalmente pela falta de uma mãe para Jiwoo, nesse que era o momento mais crítico que ele passava com a filha. Uma mãe teria muito mais tato para falar desses assuntos com uma filha do que um travado como ele.
Levou o punho fechado até a boca e forçou um pigarro para chamar a atenção de Jiwoo, e funcionou, já que a garota olhou para ele.
“Foi tudo bem?” Ele perguntou de forma meio receosa.
“Sim, foi.” Ela respondeu direta e não estendendo o assunto.
Donghae ligou o carro e dirigiu por alguns metros em total silêncio por alguns minutos.
“Esse moleque é muito feio pra você, Jiwoo.” Ele soltou após aquele período, pegando a garota de surpresa e fazendo-a rir da sinceridade do homem, apesar de discordar, porque Myungjun era um verdadeiro gatinho.
E no final o próprio Donghae começou a rir do próprio comentário. Mas ele realmente tinha achado o rapaz feio.

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You're my sunshine
FanfictionHa Sooyoung é uma jovem de gênio forte e vinda de uma família problemática que quer viver apenas fazendo o que ama: tocar guitarra Sua vida, no entanto, vira de pernas pro ar quando sua mãe se casa com o reverendo Kim, e ela passa a conviver diariam...