• Capítulo 9: Velho Hábito. •

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Depois da nossa breve conversa, Namjoon se retirou do quarto, me deixando novamente sozinha com meus pensamentos. Se passaram algumas horas, até que ouço um alvoroço no corredor, me aproximo da porta com cuidado, escutando o que estava acontecendo no lado de fora.

NJ: Yoongi, Você precisa Descansar!

YG: CADÊ AQUELA VADIA?! - Senti a fúria em sua voz, e aquilo fez com que meu corpo estremecesse.

HK: Yoongi se acalma, por favor.

YG: CADÊ ELA?! SN! QUANDO EU TE ACHAR EU JURO QUE TE MATO!

Eu já estava acostumada com sua frequentes ameaças de morte, mas aquela realmente fez eu me sentir indefesa, ele poderia me atacar a qualquer minuto, e aquilo me deixou um tanto perturbada. Eu me deito novamente na cama e começo a chorar, a cada lágrima que caia eu me sentia mais fraca, mas eu não conseguia parar... Eu chorava cada vez mais alto,  o que eu mais desejava naquele momento era ter minha mãe ao meu lado, para me consolar e me dizer o que fazer e como agir, mais então eu comecei a refletir sobre o que aconteceu nas últimas semanas...

SN: E-Eles sabiam... S-Sabiam que iriam procurar por eles... E-E mesmo assim me deixaram pra morrer...

Uma raiva incontrolável tomou conta de mim, mais algo ainda era maior que essa raiva... A tristeza, e o sentimento de abandono...

SN: E-Eles me abandonaram... - as lágrimas caiam rapidamente.

Aquela sensação estava me esmagando por dentro, eu precisava me aliviar daquele sentimento de alguma forma, por isso eu fui até o banheiro aos prantos e me tranquei lá dentro, comecei a vasculhar cada centímetro daquele banheiro por algo que eu não via a muito tempo... Uma lâmina. Aquela cena me trouxe lembranças dolorosas sobre o meu passado.

Flashback ON

Pai: VOCÊ É UMA INÚTIL MESMO! DEVERIA SER COMO SUA IRMÃ!! - ele disse deferindo um tapa no meu rosto.

Aquelas palavras me feriam cada vez mais, meu próprio pai me dizendo coisas assim, minha mãe, apenas observava do canto da sala vendo meu pai me batendo e me humilhando, eu não conseguia fazer nada além de chorar, quando as palavras e tapas cessaram, eu corri para meu quarto e lá me tranquei. Peguei uma pequena lâmina e comecei a fazer pequenos cortes, minhas lágrimas caiam sobre as feridas recém abertas, fazendo que as mesmas ardessem, me fazendo chorar mais ainda, os cortes que eu fazia estavam cada vez mais profundos, aquela dor... Me fazia esquecer do que eu sentia por dentro...

Flashback OFF

Aquelas lembranças, fizeram eu me sentir pior ainda, com um desejo ainda maior de me ferir, em umas das gavetas, encontrei uma lâmina de gilete, era exatamente daquilo que eu precisava, eu me sentei no chão, encostada na banheira, arregacei as mangas do meu moletom, revelando antigas cicatrizes, eu então comecei a abrir novamente essas feridas, a dor física que eu sentia, não era nada  comparada com a dor emocional.

SN: E-Eu sou um lixo... - disse entre gemidos de dor, eu sabia que aquilo era verdade, meus próprios pais me deixaram para morrer, pelas mãos de assassinos sanguinários.

Os cortes, cada vez mais profundos, começaram a sagrar manchando minhas roupas, eu não me importava com aquilo, era apenas um detalhe. O sangue saia livremente do meu corpo pelos cortes feitos, eu sabia que aquilo não me ajudaria, mais aquilo já havia se tornado um vício, daqueles que você não consegue fugir....

Depois de um tempo, eu me senti satisfeita, me levantei da pequena poça de sangue, e fui em direção a pia, me olhei no espelho, eu não me reconhecia, eu não tinha mas motivos para sorrir, eu não era mais aquela garotinha feliz, agora eu era apenas uma pessoa que se automutilava, para esquecer a dor que os outros me causavam. Eu lavei meus braços e enchi a banheira, entrei na mesma, tentando deixar minhas preocupações e pensamentos suicidas naquela água, mas eu não conseguia, a cada momento, eu pensava em como o mundo seria melhor sem mim...

Mergulhei pela última vez naquela água, e então sai de lá, me sequei e fui novamente para frente do espelho agora embaçado, limpei um pouco e me encarei por uma última vez e sai do banheiro, fui para o closet, e lá encontrei minhas malas, peguei um conjunto de moletom e vesti, as mangas longas escondiam os cortes recém feitos, sai do closet e fui até a varanda, sentei em uma pequena poltrona e fiquei observando o céu estrelado.

Leves batidas na porta me despertaram de meus devaneios.

??: SN..? Posso entrar?

Não me dei ao trabalho de responder e muito menos de me virar para saber quem estava lá. Logo a porta é aberta, ouço passos viro em minha direção e sinto uma mão em meu ombro.

JK: Eii o que você está fazendo aqui..? No escuro.

SN:... - Se eu respondesse, ou ao menos tentasse, eu iria desabar em lágrimas, e eu não podia demonstrar fraqueza, não a um de meus sequestradores.

JK: SN...? Você tá bem?

SN:... - Não conseguia nem olhar em seus olhos.

JK: Você quer conversar?

SN:... - seu tom parecia preocupado, mais eu não conseguia acreditar que ele estava realmente preocupava comigo.

JK: SN! FALA COMIGO...!

SN: ... - pela primeira vez eu o olhei nos olhos, as lágrimas já caiam descontroladamente.

Em um ato rápido ele me abraça, e então eu desabo em lágrimas, seu abraço me transmitia segurança e conforto, duas coisas que eu não sentia a muito tempo. Ele não disse nada, apenas me abraçou, aquilo era tudo o que eu precisava naquele momento, aos poucos, eu parei de chorar, quando a última lágrima caiu, ele desfez o abraço e olhou dentro dos meus olhos.

JK: O que foi?

SN: E-eu não quero falar sobre isso - tentei esconder meus olhos inchados de tanto chorar, mais não deu muito certo.

JK: Não vou te forçar a nada, mas quero que saiba q se vc precisar eu vou estar aqui pra te ouvir - aquelas eram as palavras que eu precisava ouvir naquele momento.

Eu o dei um abraço rápido e o agradeci, eu não estava pronta pra me abrir e conversar sobre aquele assunto, que até então era muito delicado. Mas saber que alguém estava lá para me ouvir me fez sentir um pouco melhor. Quem diria que eu teria mais apoio de um dos meus sequestradores do que com a minha própria família...
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Gente, eu escrevi esse capítulo pensando sobre a Campanha Setembro amarelo, pra quem não sabe Setembro Amarelo é o mês internacional da valorização a vida e prevenção ao suicídio, por isso eu peço que vocês tenham empatia e perguntem ao amigo que está desanimado, que chora sem motivos se está tudo bem, por que as vezes a pessoa está passando por algo muito grave na sua frente e você não percebe... E as vezes você só percebe isso quando perde aquela pessoa 😢😞
Se você for uma dessas pessoas e pensa em se suicidar, ligue no 188 esse número é do Centro de Valorização da Vida, lá eles vão te escutar, pode parecer pouco mais as vezes é tudo o que você precisa...

· 𝙶𝚊𝚗𝚐𝚜𝚝𝚎𝚛 - 𝙱𝚃𝚂 ·Onde histórias criam vida. Descubra agora