(um) Cotidiano

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  Aurora

- então são duas batatas e um hambúrguer sem salada pra mesa 5 ?

-isso !!- afirmo impaciente com a quantidade
de clientes que estão no Coffe Silvas , o dia está frio , normalmente não tem movimento.- Matheu...tá chegando mais gente , não demora por favor.

- Vou o mais rápido possível Aura- antes dele terminar a frase saio da cozinha para atender os clientes que acabaram de passar pela porta, fazendo o sininho da entrada cantarolar.

Arrumo minha touquinha conferindo se todos os fios de cabelo estão em seu devido lugar, retiro meu bloquinho de papel do bolso do avental, respiro :  1
                                                                  2
                                                                  3
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VAMOS LÁ

- Olá Dona Amélia, a senhora vai querer o de sempre ? - Dou o meu melhor sorriso , sinceramente dona Amélia é a melhor cliente daqui .

- Vou sim minha menina.

- Então vai ser um suco de laranja sem gelo e  um pedaço de torta,certo ?!

- Certo!- confirma com um sorriso que faz meu coração derreter.

Volto para cozinha entregando mais uma comanda para Matheu e pegando os pedidos que já estão prontos.

- O Sr. Café sem açúcar  chegou!! - Beatrice diz arqueando as sobracenlhas  através  da janelinha que liga o balcão a cozinha.

- Merda ! Atende ele pra mim?? - Um beicinho surge em meus lábios, na intenção de fazer Bea sentir pena de mim.

- Não, hoje é meu dia de operadora e  o seu de garçonete- Canta vitoria de sua função  diária-  Para de reclamar que ele  é um gato e sempre dá gorjeta.

- Não gosto dele, ele nem olha pro nosso rosto, e é bem arrogante.

- Vocês podem trabalhar mais e conversar menos- Matheu me entrega mais uma bandeija cheias e Bea faz uma careta repetindo sua frase em uma  imitação infatil.

Deixo os dois de lado e vou ao encontro do Sr. Café sem açúcar (apelidado carinhosamente por Beatrice ), Ele está sentado em uma mesa próxima a porta, oque faz a luz do sol tocar seus cabelos criando um brilho perfeito.

- O que o senhor vai querer? - pergunto em um tom seco.

-Café - Diz enquanto digita freneticamente em seu celular - sem açúcar.

- Algo mais?

- Não,  apenas isto.

- são R$ 2,50. - Ele arranca da carteira uma nota de 50 reais, direcionando ela para mim.

- Pode ficar com o restante.

- Não... eu não preciso, já trago o troco pro Sr.- afirmo seria e me arrependo no mesmo instante , acho que é a primeira vez que ele me olha e sua expressão não é das melhores, mas não baixo a guarda e o encaro de volta sem exitar.

Seus olhos são em um tom de azul profundo , sinto que podia me afogar ali .

-Então quer dizer que eu não posso deixar uma gorjeta pelo seu ótimo atendimento?!

- Eu nem te dei "Bom dia " , como que o Sr. Diz ser um ótimo atendimento?! - O sarcasmo em sua voz faz meu sangue ferver.

- Você é nova aqui?- Pergunta ,voltando sua atenção ao celular.

- Não senhor.

- Não me lembro de você.

- Sou garçonete aqui a mais de um ano , o Sr. não se lembra de mim porque  nunca se deu o trabalho de parar de olhar o celular quando entra aqui.- afirmo e me afasto da mesa praticamente correndo.

Não quero esperar para ver sua reação, entro na cozinha e me encosto atrás da porta.

Merda. Merda .Merda tô fudida ... vou ser demitida com certeza,  ele vai fazer uma reclamação e eu vou ter de vender chip no centro da cidade, certeza .

Mas eu sou uma asna...

- O que vc disse pro sr. Café ? - Bea pergunta e eu apenas nego com a cabeça- Foi a primeira vez que vi ele sorrir.

- Oque ??

- Ele começou a sorrir assim que você saiu correndo.

Enrolo o máximo que posso para sair da cozinha, convenço Bea a ser garçonete o resto do dia em troca de um cupcake.

Movimento estava intenso, me esqueço rapidamente do ocorrido e me concentro em apenas cobrar o valor correto dos clientes.

Assim que fachamos as portas dou uma limpeza rápida nas mesas, encontro um guardanapo escrito na mesa do Sr. Café: 

Desculpe se te ofendi de alguma              forma, não era minha intenção

Prometo que dá próxima vez irei fazer questão de te olhar nos olhos.

Apropósito você é linda.
                                                 Adam A.

Deixo um sorriso escapar ao ler o bilhetinho,sei que não deveria me render tão fácil assim, mas já estou grata por ele não ter reclamado de mim , pro chefe...

-Aura,é... você tá livre hoje pra gente fazer um negócio?- Matheu me tira dos meus pensamentos de gratidão, o encaro sem entender o que ele disse - ham, com um negócio eu quero dizer sair... e não aquela outra coisa, tipo um cinema sei lá; merda...estraguei tudo né?!

- Não que isso... Desculpa mais hoje não dá eu tenho que ir trabalhar na neon demons, deixa pra próxima- Fico na ponta dos pés para alcançar sua bochecha deixando ali uma marquinha do meu batom vermelho, que se iguala imediatamente com a pele de Matheu que nem consegue me olhar.

- Ok , então está marcado, quando você quiser é  só me avisar. - concordo com a cabeça pego minha bolsa no armário e saio de lá o mais rápido possível .

  

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Bjim espero que gostem

Desejos  proibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora