A todos nesta data, dedico esta carta aos que merecem explicação.
Estou sendo condenada pelos meus erros do passado, e agora os jovens sofrem pelos meus antigos erros. Já está tarde para se concertar algo. Juliano,meu filho, me perdoe por lhe deixar de lado, não fui uma boa mãe, e nunca te apoiei em seus projetos... Talvez por te deixar nas mãos do falecido Carlos, tenha se tornado esta pessoa que hoje se encontra. Que você possa ser um bom marido e pai, muito melhor daqueles que lhe criaram.
Meu caro, a vida é um sopro. És muito curta para se jogar ao vento e ser um mancebo que age imprudentemente. Nesses anos que vem pela frente, seja aprendiz da prudencia, discípulo da razão e filho do amor e da compaixão. Não cometa o erro dos homens, da nossa humanidade que apenas resguarda a própria integridade e despreza a integridade dos teus irmãos. Seja bom e integro. Meu Filho.
Muitas coisas do passado tem que ficar ocultas pois só ao passado pertence. Se os segredos dos mortos os vivos saberão, isso não posso falar com exatidão. Pois neste momento estou entregando minha sanidade e estou em transição pelos dois mundos. Pois o remédio que me deram era um veneno mortal para calar a quem escreve essa carta. E quem tem segredos que com ela mesma irão ser enterrados.
A minha maior façanha, Amaya querida. Força! Pois os monstros estão a solta e os lobos atrás de carne fresca, prontos para se alimentar de almas cheias de esperança, já que para eles não lhe sobrou nenhuma. Você minha querida e miserável. Nasceu com a pior sorte destinada aos mais distintos homens e mulheres. Pele cor de ébano, presa a correntes, porém de espirito livre. Você minha cara, se assim o destino permitir, mudará seu futuro premeditado que os homens haviam escrito debaixo das estrelas. Agarre todas as chances que puder. Meu precioso quartzo negro.
Eu suplico! Aos vivos que vivem e se concertem, aos bons que se mantenham e aos maus que mudem. Suplico que a justiça venha se manifestar a favor dos inocentes. E que o castigo caia sobre a queles que merecem. Eu suplico! Vivam e Lutem...
Com amor, e adeus
Helena Oliveira.
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À FRENTE DE SEU TEMPO
Ficción históricaVamos Voltar. Deste exato momento, até o final do Século XIX. Para ser exata, Março de 1888. Ano da Abolição. Vamos observar, viver, e sentir a vida de Amaya, uma escrava negra que foi agraciada pela vida e condenada pela sua posição social, pelo se...