Aonde eu vim parar?...
Sim, eu sou casada com Juliano Oliveira. Até agora o único herdeiro dos Oliveiras. Uma família com a maior fazenda cafeeira da região.
Logo após vem a fazenda de meu pai. Barão...
Mas pra mim isso não importa, casei com Juliano.
Achava que iria ser amada e desejada por meu marido, respeitada. Mas pude ver com os próprios olhos que Juliano não tem nem compaixão a si mesmo.
Agora mesmo ele volta da cidade, sem seus dois Escravos. Com a arma no bolso, cabelos bagunçados, roupas e casaco sujo e rasgado.
Voltou com uma fome de lobo, não se portou diante a mesa e comeu como um pobre coitado. Não me dirigiu nenhuma palavra se quer.
Só se dirigiu aos quartos do fundo da casa, aonde Amaya ficava. E começou a quebrar tudo, tirou os antigos vestidos dela do guarda roupa e cheirou loucamente cada um.
Se aprofundando no mais real perfume dela...
Quando fomos dormir, eu ainda sentia o cheiro de Amaya nós cabelos de Juliano, que estava deitado de face oculta a mim.
Chateada, me sentindo traída. Pensei exatamente em Firmino, como eu queria estar com ele. Me sentindo especial e amada.
A culpa não é de Amaya, e eu tento me convencer sempre disso.
De madrugada desci as escadas e fui para sala principal. Sentei em uma poltrona, e comecei a sonhar acordada com Firmino.
Eu daria tudo pra me livrar de Juliano.
Mas que tipo de vida eu teria separada de Juliano? Não teria vida alguma. Meu pai não me aceitaria de volta. Minha mãe que já está no céu, morreu sendo fiel. Fiel a um homem que a traiu.
Juliano acha que serei como minha mãe? Ele está enganado. Pois eu também tenho truques...
Quando me levanto para subir, ouço um assobio vindo da cozinha.
Quando vou verificar, vejo Firmino, dou um sorriso e vou para perto.
- O que faz aqui? - Digo sorrindo me cobrindo com o roupão de minha camisola.
- Eu... Não consegui dormir. - Sorriu ele ao me ver.
Eu me aproximei dele, e com todo meu cuidado, nas pontas de meus pés lhe dei um beijo doce e calmo.
Parecia um sonho...
E na realidade, era tudo um grande sonho.
Um sonho de amor inocente.
Acordo, e cá estou eu. Dormindo ao lado de um torturador, lunático e talvez... Um assassino.
Á quem eu chamo de Marido, Esposo.
Respiro fundo e me contento.
Repetindo para mim mesma." Sei que nosso sentimento é recíproco Firmino, um dia ele dará frutos, não importa as barreiras sociais... Vamos ser a frente de nosso tempo."
E volto a sonhar com o homem que roubou o meu coração...
Meu jugo não se refere a grilhões, açoites e trabalho braçal ou a ser um Escrava.
Meu jugo está escrito com as letras do destino, consumado com a vontade e os interesses. E meu futuro decretado por apenas ter dito "Sim" no altar.
Por medo da repressão social.
Mas usarei minhas armas para me dar liberdade, liberdade individual.
Para tentar estar por cima de meu carrasco. A quem chamo de Marido.
Ângela Christina De Albuquerque (Oliveira)
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À FRENTE DE SEU TEMPO
Fiction HistoriqueVamos Voltar. Deste exato momento, até o final do Século XIX. Para ser exata, Março de 1888. Ano da Abolição. Vamos observar, viver, e sentir a vida de Amaya, uma escrava negra que foi agraciada pela vida e condenada pela sua posição social, pelo se...