O dia amanheceu com Juliano procurando confusão, já na mesa do café demonstrava mudanças de comportamentos. Mas é claro que Ângela percebeu:
- Por que chamou Santana para conversar em seu escritório? - Indagou Ângela colocando Juliano "Contra a parede".
- Meus assuntos não lhe dizem respeito, principalmente dos meus clientes... - Disse ele de forma curta e grossa, mas ao final ele dá um sorriso irônico.
- Santana? Seu cliente? Impossível! - Dizia ela levantando as mãos ao céu.
Juliano se levanta, sorri e olha profundamente para ela:
- Vá cuidar dos assuntos que te pertence, Ângela... - Ele sorriu e beijou a sua testa.
E saiu com o sorriso falso que mantinha em seu rosto.
°•∆•°
- Juliano? Quer te receber na casa dele? - Dizia Amaya sentada enquanto amamentava seu filho.
- Sim, eu não sei o que ele quer, mas vou dar um voto de confiança. - Disse Santana enquanto arrumava as mangas de seu casaco e a gola de sua camisa.
Amaya e Santana estavam na sala de estar da casa de ambos. Ela estava com o seu filho no colo, e bem vestida, com um lindo e leve vestido salmão com fitas brancas de cetim fazendo parte de suas tranças, iguais a que sua mãe fazia quando Amaya era pequena. Santana estava bem vestido elegantemente, com roupas de qualidade, apenas seu chapéu da guarda que fora substituído por uma cartola elegante, e sua muleta que não era charme, já que ele é manco.
Depois de Santana ter se afastado do exército brasileiro após a República ser instaurada. Ele decide seguir o rumo, começando a produzir café, ele e todos aqueles a quem se tornou patrão.
- Não vá! Eu não confio nele! Santana, me escuta! - Dizia Amaya aflita ao ver Santana se aproximar da porta.
- Eu também não confio nele. Mas... Quem sabe? Ele pode ter mudado. - Disse Santana olhando para Amaya.
Ele foi caminhando até ela, lhe deu um beijo na testa e acariciou seu rosto, e ela o mesmo.
Ele deu um beijo em Joãozinho, que ainda de olhos fechados ainda mamava aconchegado nos braços de Amaya:- Eu ainda volto antes de escurecer, pra ficar com você e o pequeno João. - Disse ele sorrindo e saindo pela porta.
°•∆•°
Juliano olhava novamente para a janela de seu escritório esperando pela chegada de Santana:
- Senhor? - Chamou o empregado de Juliano.
- Sim?- Disse Juliano se movendo em direção a porta.
- O Senhor Santana já chegou. - Anunciou o empregado enquanto Santana entrava pela porta do escritório.
- Ótimo. - Disse Juliano trancando a mandíbula.
A porta atrás de Santana se fechou.
Juliano estava muito bem vestido, com um paletó escuro e com roupas puxadas paro vermelho, lembrando as roupas que Carlos, seu pai, usava quando era vivo,era elegante:
- Sente-se, como vai a produção do café? - Dizia Juliano apontando para a cadeira a frente de sua mesa de escritório.
- Bem. - Disse Santana se sentando.
- Vinho? - Ofereceu Juliano.
- Sim, por favor. - Pediu Santana gentilmente.
- Como anda seu filho? - Indagou Juliano enchendo a taça de vinho.
- Bem, tem muita saúde e vigor. - Respondeu Santana sorrindo.
- Que bom, nasceu com saúde e força... - Disse Juliano enchendo impaciente a taça.
- Ele é igualzinho a mãe dele. - Sortiu Santana involuntariamente.
Nesse momento, Juliano que estendeu a taça cheia de vinho, aperta ela fazendo quebra-lá em sua mão ao ouvir Santana falando "mãe":
- Me Desculpe. - Disse Juliano limpando sua mão cheia de vidro. Sem parecer se importar com o ferimento. - Vamos ao que interessa.
Santana se ajeita na cadeira ao ver tal situação:
- Você me chamou aqui, com certeza tem a ver com interesses não compatíveis. - Disse Santana olhando fixamente Juliano.
- Que bom que compartilhamos do mesmo pensamento. - Riu Juliano ironicamente.
Juliano abre uma gaveta se sua mesa de escritório, tira uma luva e tenta bate-la no rosto de Santana que a segura na hora exata:
- Não é segredo. Eu sempre pensei nela, eu a quero. Jurei pelo solo que está abaixo aos meus pés que seu sangue pela terra seria derramado. Eu te desafio para um duelo, por todos os dias na cadeia, por ter dado abrigo para meus dois escravos fujões, por ter tirado Amaya de mim, por ajudar o quilombo, por ser filho do maior inimigo de meu pai. - Disse Juliano mostrando sua verdadeira face.
- Eu aceito. - Respondeu Santana seco e sério.
Juliano riu cinicamente.
Santana só se levantou esperando o dia e a hora.
- Dia 28 deste mesmo mês. Às 10H00.
Santana apenas assentiu e se retirou.
°•∆•°
- VOCÊ O QUÊ? - Gritou Amaya ao saber da notícia.
- Calma Amaya. Eu posso explicar... - Disse Santana preocupado.
- EU NÃO POSSO CRIAR O NOSSO FILHO SOZINHA! SANTANA O QUE TE DEU NA CABEÇA?! ISSO É CONTRA LEI! - Falava ela eufórica.
- Eu também não sei! Eu... Eu estou cansado dele perseguir a nós! - Disse Santana se levantando. - Amaya...
Amaya balançou a mão pedindo para que ele não falasse nada:
- Eu agi pela raiva, pelo medo, ele disse que jurou que o sangue ia ser derramado na terra, eu imediatamente tomei uma decisão pelo medo... Eu não pensei direito. - Falou Santana totalmente arrependido.
- Não importa se ele jurou! Era só você se levantar e sair! - Dizia Amaya frustrada com voz chorosa, se sentando na cadeira.
- Como? Você sabe que ele faz de tudo para cumprir aquilo que ele jura!... - Afirmou Santana se aproximando de Amaya.
- EU TE DISSE PARA NÃO IR! EU TE AVISEI!
Amaya colocou a mão na boca e em sua cabeça, e em um ato de proteção abraçou ela mesma, com lágrimas escorrendo dos olhos. Santana se aproximou e tocou no braço de Amaya:
- Amaya, eu... - A frase de Santana foi logo interrompida por Amaya que se levanta bruscamente.
- Olha... Me deixa sozinha agora. - Disse ela pausadamente e logo saiu do ambiente.
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À FRENTE DE SEU TEMPO
Fiction HistoriqueVamos Voltar. Deste exato momento, até o final do Século XIX. Para ser exata, Março de 1888. Ano da Abolição. Vamos observar, viver, e sentir a vida de Amaya, uma escrava negra que foi agraciada pela vida e condenada pela sua posição social, pelo se...