29. Gabe
Já era madrugada quando fui para o meu alojamento. Passei em frente a várias portas e fiquei me perguntando se Megan estava atrás de alguma delas. Eu não tinha obtido nada além das frases curtas durante o jogo com os imbecis, mas pela conversa deles ela não estava junto com as outras garotas. Merda.
Ela mal chegou e já estava em apuros. Eu sabia, droga. Eu precisaria agir rápido e ao mesmo tempo, não poderia levantar suspeitas para não prejudicar o restante da operação.
Me joguei na cama e estiquei as mãos para trás da minha cabeça. Eu não iria conseguir dormir. Fui para o chão e comecei a fazer flexões. O jeito seria ficar exausto até desmaiar. Ouvi um barulho no corredor e fiquei em pé. Me aproximei da porta. Alguém tossia enquanto caminhava.
Abri a porta e encarei um garoto. Ele tinha sangue pelo rosto e pela camiseta, a mão em frente a boca também continha sangue, da sua tosse. Ele devia estar com os órgãos internos acabados. Pensei que ele desviaria o olhar, mas continuou me encarando.
— Perdeu alguma coisa aqui? — Perguntei fingindo estar irritado. Eu precisava agir exatamente como os outros babacas que viviam ali.
Ele negou com a cabeça e então continuou andando. Se apoiava na parede com uma mão e com a outra segurava sua barriga.
Eu respirei fundo.
Merda.
Eu estava suspeitando que esse poderia ser Drake.
Até onde eu tinha percebido ele realmente estava do nosso lado, afinal ninguém tinha metido uma bala na minha cabeça até o momento. E se ele estava do nosso lado, eu poderia pensar em um motivo para estar naquele estado. Ele havia protegido Megan.
O garoto parou em uma porta perto do final do corredor e então entrou com um suspiro derrotado.
Voltei para dentro do quarto e me amaldiçoei quando fui até minha mochila e peguei alguns comprimidos para dor e uma garrafa de bebida. Eu não deveria ir até ele. Aquilo poderia me comprometer e eu arriscaria tudo, mas droga, eu não poderia deixa-lo quando ele esteve lá por ela.
Olhei para os lados do corredor antes de sair e então fui até o quarto do garoto. Assim que entrei ele se assustou e tentou se levantar da cama sem conseguir. Ele estava apavorado.
— Não vou machucá-lo. — Falei e ele voltou a encostar a cabeça no travesseiro.
A reação dele me afetou. O garoto tinha ficado aterrorizado quando percebeu que não havia trancado a porta. Fui até seu roupeiro e peguei uma camiseta qualquer. Cheguei perto de sua cama e estendi os comprimidos.
— Vai ajudar com a dor. Engula. — Mantive o jeito estúpido. Mesmo que ele estivesse do nosso lado, eu não poderia revelar quem eu era.
Ele estava me fitando.
— O que é isso?
— Engula a porcaria dos comprimidos. — Murmurei entregando na mão dele.
Ele me observou de soslaio enquanto eu embebia a camiseta dele com a bebida da garrafa, então engoliu os comprimidos. Sentei na beira da cama e estendi a camiseta para limpar o sangue do seu rosto, ele se afastou novamente.
— Eu não tenho todo o tempo do mundo, garoto. Não vou machuca-lo. Estou retribuindo um favor. — Murmurei e me calei.
Ele começou a relaxar, talvez fossem os comprimidos fazendo efeito, mas consegui limpar o sangue do rosto dele antes que ele apagasse completamente. Levantei sua camiseta e franzi a testa quando vi as marcas em seu corpo. Apalpei sua barriga para me certificar de que nenhum órgão estava rompido, depois passei a camiseta com álcool ali também. Era bom que ele estivesse apagado, aquilo iria doer pra caralho acordado, eu sabia bem o que era ter álcool jogado em uma ferida aberta.
— Obrigado por ter cuidado dela. — Murmurei antes de deixar o quarto. — Eu assumo daqui.
Até sábado à noite eu ainda não havia visto Megan. Contudo, descobri onde as outras garotas estavam sendo mantidas, era uma sala grande, com colchões no chão. Havia uma mesa com cocaína. Eles acabavam com a esperança delas, depois deixavam a droga exposta e acessível. A maioria das garotas tinha os narizes cheios do pó.
Era uma merda, mas depois de um tempo elas acabavam usando as drogas como escapatória porque viver a realidade era ainda pior. Eu já tinha visto cenas como aquela antes, mas a raiva sempre tomava conta de mim.
Queria poder acabar com tudo aquilo naquele momento e tirar aquelas garotas dali. Elas me olhavam com desprezo. A grande maioria delas, pelo menos. Algumas já estavam na fase em que tentavam agradar esses malucos para obter alguma vantagem. Outras tinham os olhos vidrados pela cocaína. Duas estavam abraçadas em um canto chorando, mas tentaram se controlar quando me viram entrar na sala.
Eu observei o rosto de cada uma me perguntando se Megan já estava com elas e fiquei frustrado quando percebi que não. Se ela estivesse ali pelo menos saberia que não estava mais sozinha e eu poderia ter um pouco de paz em saber que ela estava bem.
Quando meu turno terminou voltei para a sala onde jogávamos carta. Quando estava passando pelo salão principal vi dois caras descendo as escadas com algumas garotas. Elas tinham marcas vermelhas pelo corpo, os olhos manchados pela maquiagem que escorreu devido às lágrimas. Vestiam pequenas peças de renda. Uma delas estava apenas de calcinha e seus seios expostos machucados.
Eu encarei os dois sem dizer nada.
— Cara, você tinha que ter visto a transmissão de hoje. Os caras estavam empolgados. — Um deles riu.
— Transmissão? — Perguntei fingindo querer saber mais.
— Sim, Hevania e Kosher começaram com transmissões ao vivo pela internet, eles mantem salas privadas na deep web e então vendem os vídeos ao vivo e os compradores podem escolher o que é feito com as gostosinhas aqui. — Ele disse balançando uma das garotas, ela começou a chorar mais forte. — Para com isso, princesa, você estava adorando meu pau na sua bunda até agora pouco.
Como a garota não parou de chorar ele a segurou pelo pescoço fazendo com que ela arregalasse os olhos.
— Você sabe que eles pediram para eu fazer muito mais, não é? Eu fui até gentil. — Ele sorriu com escárnio. — Agora seja boazinha e pare de chorar antes que eu termine o que comecei lá em cima.
Eles passaram por mim levando as garotas para a sala com as outras. Eu fechei os olhos por um instante e respirei fundo. Então voltei a colocar minha máscara de indiferença e fui para a mesa de cartas.
Aquilo estava muito pior do que o departamento tinha conhecimento. E agora eu precisava ver Megan e ter certeza de que ela estava bem.

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A SEAL
RomanceUma noite casual era tudo o que Megan precisava para voltar a dormir bem. Não que ela tivesse pensado nisso quando saiu de casa e foi até o bar. Gabe só queria assistir o jogo do seu time e se preparar para o dia seguinte em sua nova missão. Ele pre...