16- Camaleão

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Oi

Tchau

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Camaleões tem a capacidade de olhar para duas direções diferentes ao mesmo tempo. Lauren Jauregui estava convencida de que era um Camaleão, pois só tinha um corpo, um cérebro e um coração, mas tinha dois olhos, não só os reais, tinha dois olhos hipotéticos com a capacidade de olhar em duas direções diferentes.

Seu celular estava pressionado firmemente na orelha, escutando o barulho da ligação enquanto seu pai não atendia. Estava tão confusa com os próprios sentimentos e até com as atitudes que vinha tomando, de forma que chegou a conclusão que precisava de ajuda, de ajuda das grandes dessa vez, mais eficiente que Dinah.

E mesmo que o habitual fosse procurar o colo da mamãe em momentos vulneráveis, em sua casa era diferente, seu pai era a pessoa dos sentimentos. Não que sua mãe não tivesse bons conselhos, a mulher era provavelmente a pessoa mais esperta e madura que conhecia. Mas quando sentia-se daquela forma tão perdida, precisava do pai, pois ele tinha um cérebro semelhante ao seu e uma quantidade bem maior de inteligência e experiência.

Miguel tinha um coração desses enormes, gigantescos. Tinha impressão que cabia todo o amor do mundo ali, e o mais importante, tinha empatia como ninguém no universo. Diziam que era muito parecido com sua avó, mesmo não sendo filho biológico dela. E realmente era assim, lembrava-se bem de como os olhos castanhos da senhorinha eram os mais sábios e amorosos que viu na vida, se ainda estivesse viva daria todas as respostas que precisava com uma de suas metáforas incríveis. E aquilo tinha passado com sucesso para seu pai.

-Amore mio?

Miguel era metade italiano, pelo lado de seu avô. Pensando bem, a coisa toda sobre ser tão passional fazia sentido.

-Padre...

-Ohh.

Escutou o som admirado do outro lado. E era aquilo, bastava uma palavra sua, as vezes, como naquele caso, em um tom ligeiramente distinto, para que soubesse exatamente o que sentia. Não tinha ideia de como o homem fazia aquilo, algo sobre paternidade, algo sobre seu próprio jeito tão transparente.

-Você finalmente encontrou o amor, pequena?

A ilustradora se mexeu desconfortável, falando daquela forma parecia tão mais intenso do que quando apenas passava por sua cabeça. Dizer em voz alto fazia com que fosse real de uma forma assustadora.

-Amor eu não sei... mas acho que estou apaixonada, profundamente.

Nem precisou ouvir para saber que o pai ria largo. Costumavam falar sobre aquilo por muito tempo, principalmente em noites frias em que se sentavam para conversar. Lauren conhecia o amor, já havia visto na forma mais pura e intensa. Ainda tinha na mente a forma como suas avós se olhavam, era substancial, haviam passado por muito para ficarem juntas e aquilo parecia ter feito a intensidade dos sentimentos serem potencializados, mesmo depois de décadas.

Também havia visto em seus pais, de forma mais amena, um amor tranquilo. Não haviam passado por grandes turbulências, apenas se amaram, do primeiro minuto e provavelmente até o último. Portanto sabia que o amor existia, sempre soube, sempre sonhou com o momento que encontraria algo semelhante a aquilo para si. Mas não achava que seria daquela forma.

-Não sorria ainda, é muito complicado.

-Sempre é querida, mesmo quando não é realmente complicado, o jeito que sentimos, o jeito que mexe lá dentro revirando tudo, faz com que seja.

Sorriu, adorava ouvir seu pai. Adorava como passava-lhe os sentimentos até pelo tom de voz, e como nunca tinha vergonha de ser intenso, falava sobre o que sentia livremente, sem medo dos possíveis julgamentos.

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