Basta Justin, explique-se

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Aquele maldito aparelho ainda fazia seus barulhos monótonos, minhas folhas estavam espalhadas pela cama e minha neta dormia calmamente na poltrona de acompanhante. Sentia pena da minha menina ter que ficar em uma sala de hospital com uma velha como eu.

Fico imaginando se Nikita estivesse aqui, o que me diria e o que faria para me animar. Os médicos não tinham mais esperanças, eu estivesse ouvindo os cochichos e infelizmente eu iria partir.

Pelo menos vou reencontrar meu amor...

Abri um sorriso fraco, pisquei meus olhos e podia jurar que via Justin, o primeiro ministro da união de pé, próximo a porta e sorrindo do mesmo jeito provocador. Durante nossos anos casados pude decifrar cada pedacinho seu, cada expressão, cada olhar.

Respirei fundo e senti uma dor no peito, mesmo após sua morte eu não tinha conseguido parar de amá-lo. Todos os dias eu acordava com a sensação de perda, demorei meses para poder dormir em nosso quarto. Seu cheiro estava em todo lugar, era como se fosse um lembrete constante de que ele não mais ali.

Tentei me ajustar na cama sem fazer barulho, respirei com dificuldade e ouvi um celular vibrando, até hoje não conseguia entender essa tecnologia. Fiz uma careta, se eu pudesse me levantar desligaria aquilo.

Reuni minhas folhas na ordem correta, estava chegando em um ponto que mais doeu. Nikita não me amara de início, eu havia me entregado para um aproveitador que acabou caindo na sua própria armadilha. Demorei tempos pra perdoa-lo, mas o quando o fiz descobri que não tinha vivido o amor até ali, me casar com Justin havia sido a melhor decisão da minha vida.

Uma lágrima solitária rolou pelo meu rosto, antes jovem, agora enrugado.

Abracei os papéis contra meu peito e podia jurar que estava em meu quarto na residência oficial soviética. O que antes havia me deslumbrado, me causava enjoou so de lembrar quantas lágrimas derramei ali.

Sequei minhas lágrimas, lembrar de nossa história doía, mas se for para partir dessa vida, queria ler ao menos uma última vez.









VIVIAN CASTRO







– Como estou Natasha? - me virei para a mulher que estava com cara de tédio.

– Vocês já não passaram desse ponto? Já não conquistou ele? - bufei - Qual é? Só estão fingindo para os outros.

– Quero estar bonita mesmo assim. - falei com um pouquinho de raiva - Qual o problema?

– Problema nenhum. - deu de ombros - Aliás, o que acha de conversamos apenas em russo? Você está indo bem nas aulas.

Levantei minhas sobrancelhas, Natasha nunca havia me elogiado.

– Obrigada. - sorri minimamente - Ainda não estou confiante em falar abertamente.

– Se nunca começar, nunca será confiante. - revirei os olhos - Não te ensinaram boas maneiras em Cuba uh?

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