Você esta doente?

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Assim que desci os degraus da aeronave, algo em mim se acendeu. Agora minha decisão parecia concreta, estava realmente acontecendo. Uma pontada em meu coração e um vento gelado, me fizeram estremecer. Diversas pessoas durante os últimos meses haviam tentando mudar minha mente, mas não haviam conseguido. Eu estava em Moscou, estava do outro lado do globo.

Caminhamos em passos apressados e um homem de terno apontou para a câmera, Ryan me olhou e indicou com a cabeça para me afastar. Respirei fundo me sentindo excluída e um grande flash iluminou aquela noite gelada, os homens pareciam tranquilos, já eu não conseguia parar de tremer.

Voltei ao lado de Ryan e podia ouvir algumas pessoas animadas com a volta de Nikita, obviamente meu precário entendimento da língua local não me permitia entender muitas palavras. Entramos num carro luxuoso e preto, me abracei e pude ver as movimentações ao meu redor.

Malas eram colocadas em alguns carros, outras eram postas no que eu estava. O motorista parecia focado em olhar para frente e Ryan abria uma garrafinha de água. Percebi tarde de mais que Nikita já havia entrado em outro carro.

Continuei passando minhas mãos pelos meus braços, eu precisaria de dois daqueles casacos para me aquecer, no mínimo.

– Cuba sempre foi quente uh? - perguntou baixo e sorriu de lado - Você logo se acostuma com a rigidez desse inverno.

Pela minha leitura na revista o inverno estava apenas começando. Estremeci novamente e me encolhi contra a porta, eu não via a hora de chegar na residência oficial. Respirei fundo e guardei todas as minhas perguntas sobre o paradeiro de Nikita em meu íntimo, ninguém sabia sobre nós, logo era normal sua ausência.

O carro entrou em movimento e eu apertava meus dedos contra o casaco, por estar à noite não pude ver muitas paisagens. Mas as que eu vi, estariam registradas na minha mente para sempre. Ao contrário da Havana, Moscou possuía anos há mais de história e sua arquitetura refletia exatamente isso. Sabia que no começo do século a família Romanov foram os últimos de sua dinastia, porém a cidade não havia perdido sua majestade.

Passei tanto tempo olhando para fora da janelas que mal me dei conta do frio, percebia crianças brincando e outros adultos trabalhando. Luzes que iluminavam construções enormes e carros por todos os lados. A cidade parecia viva diante de meus olhos, gostaria de fazer parte de algo assim algum dia.

Entramos por algumas ruas estreitas e mal iluminadas, antes que eu pudesse ter medo via as luzes iluminando a cidade outra vez. E o caminho se estendeu assim, deixando a cidade para trás, fazendo caminhos confusos. Acho que nunca poderia se quer decorar aquele caminho, ainda bem que possuíam vários motoristas.

Se antes a residência oficial cubana me deixava encantada, a soviética me deixou sem fôlego. Uma fachada grande e esplendorosa se exibia diante de meus olhos, a frente da casa parecia ter um quilometro. O jardim bem cuidado, algumas flores resistindo ao frio e uma fonte ao meio.

Grandes portas foram abertas e pude ver varias pessoas saindo para receber o primeiro ministro. As pessoas usavam roupas de gala e as mulheres usavam joias que quando refletidas na luz, pareciam te cegar.

Sai do carro com ajuda de senhor Ryan e agradeci com um aceno. Ofereceu seu braço outra vez e aceitei de bom grado, estava intimidada com todo aquele luxo. Olhos passavam por nós vez ou outra e o homem ao meu lado me apresentava para algumas pessoas, eu cumprimentava todas elas com um aceno ou com um aperto de mãos.

A verdade era que todas minhas aulas pareciam ter sido dissolvidas pelo meu nervosismo. Tudo que podia ouvir era o nome Svetlana varias vezes e minhas bochechas coravam. Voltei a sentir frio e apertei a mão de Ryan, sibilei frio com os lábios e ele acenou discretamente.

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