Lurdes

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Ao entrar em casa, meu pai me esperava no sofá da sala, junto de Tíbia, nossa gata que sempre que podia fugia pelo corredor e adentrava nos apartamentos vizinhos em busca de alguém para adotar.

Ambos dormiam enquanto algum seriado passava na televisão. Eu toquei no ombro de meu pai para que ele acordasse e fosse para o quarto.

Nós fomos deitar, meu irmão não estava no quarto, o que só podia significar que ele estava na casa da sua namorada ou na casa de Mateus, seu amigo da faculdade.

Embora meu irmão fosse tatuador, meu pai sempre exigiu que fizéssemos alguma faculdade. Meu irmão decidiu fazer engenharia da computação, o que é meio nerd e agora estava fazendo seu mba na área.

Na manhã seguinte acordei antes do celular tocar. Me arrumei e fiz questão de ajeitar o cabelo para o primeiro dia de aula numa escola nova, o que significava amigos novos e oportunidades de me reinventar.

Lurdes - a senhora, que hoje tinha cabelos grisalhos, usava sempre sapatinhos pretos e roupas claras e que está conosco há 9 anos, cuidando da casa, de nós e ainda me levava para aula de canto quando eu era menor - estava arrumando a mesa para o café da manhã.

- Oi, querida! Está animada? - o sorriso de Lurdes sempre iluminava o ambiente, ela estava sempre de bom humor e parecia pronta para nos abraçar, quando eu era mais nova, eu desejava muito que ela se tornasse minha mãe. Até descobrir que ela é quase 25 anos mais velha que papai e que... bem, isso não aconteceria.

Eu contei tudo para ela, inclusive de Olivio que me deu carona. Claro que não disse que me senti nervosa ou envergonhada em frente dele ou quantos anos ele tinha ou que seu carro tinha cheiro de whisky porque poderia sugerir outras coisas, mas ela parecia muito atenta e animada.

- Eu sempre achei você talentosa, querida. Tenho certeza que esse senhor também notou e te dará a oportunidade que merece! Agora, coma. Pamela deve interfonar já, já! Fico até preocupada com vocês duas estudando juntas! - exclamou, colocando o dedo na têmpora como faz quando está pensativa.

Lurdes tinha razão, Pamela interfonou 5x seguidas.

Eu engoli o resto do café da manha, apanhando minhas coisas e jogando a mochila nas costas. Dei um beijo em Lurdes e uma olhada no espelho antes de sair; o colégio usava shorts saia de uniforme e uma camiseta polo num tom de vermelho barro na gola e manga e o restante branco, eu estava com um rabo de cavalo alto com cachos nas pontas e a boca rosada.

Suspirei e sai, esperançosa para meu primeiro dia de aula do segundo ano no ensino medio.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora