pote de ouro

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Ao sair do portão do colégio, reconheci o carro prateado, parado exatamente ao lado da perua. Ele estava de óculos escuros, olhando na minha direção. Minha respiração acelerou, me aproximei da janela.

- Achei que só chegaria no final de semana! - exclamei, sem conseguir conter o largo sorriso.

- Bem vinda ao fuso horário! - ele sorriu, parecia um pouco nervoso, abrindo a porta por dentro para que eu entrasse.

Havia uma rosa no banco, peguei com cuidado, ainda sorrindo.

- É pra você. - ele tirou os óculos e me encarava, um sorriso de lado.

- Obrigada. - sorri, lhe dando um beijo no rosto, ele pigarreou de leve.

- Está livre? - sorriu, convidativo.

- Er... sim. Sim.

Ele ligou o carro e pegamos a saída pra fora do centro.

- E então... quem é aquele seu amigo?

- Ah? Que amigo?

- Ele tinha um piercing na boca, bem rebelde. - disse em tom de deboche.

- É o Fábio. - ri. - Ele queria me pedir desculpas. - ele juntou as sobrancelhas, me olhando rapidamente.

- Desculpas?

- É que... bem... é ele. O menino da festa. O capitão do time de futebol. - eu parecia idiota em estar nervosa.

- Desculpas... entendi. - resmungou mais para si mesmo, parecia morder o lábio por dentro. - E o que você disse?

- Você está com ciúmes? - sorri. Ele franziu a testa, dessa vez me encarando.

- Ciúmes? De forma nenhuma. Ele deveria ter pedido desculpas faz tempo... aliás, ele nem deveria ter feito o que fez. E se você estivesse pior? Mais bêbada? - retrucou, eu não tinha pensado nessa hipótese mas ficar rodeando esse pensamento não me levaria a nada.

- Bom, eu não estava. E não aconteceu nada pior. - respondi, um pouco na defensiva. Eu olhei em volta, estávamos em frente a uma casa enorme, com entrada de vidro onde dava para ver 3 andares. Havia um jardim e um aquário de chão em frente e um deque que rodeava a casa até onde se podia enxergar. - Onde estamos?

- Minha casa. - disse ele, sério, saindo do carro e abrindo minha porta.

- O que? Sua casa? - engoli em seco, ajeitando meu shorts saia. Eu estava de coturno, cabelo solto e uniforme. Bem diferente da última vez que os pais dele me viram. Ele pegou minha mão, sorrindo confiante.

- Meu pai está em casa e quer que você conheça o estúdio. - disse, já me puxando.

A casa parecia ainda maior lá dentro. Havia uma escada grande e de mármore branco, tudo era em tom creme e as cortinas cinza. O pé direito do hall e da sala cabiam outra casa.

Me senti pequena. Olívio deve ter notado que me encolhi, ele envolveu o braço em minha cintura .

- Não fica nervosa. - sussurrou no meu ouvido, eu senti meu pescoço arrepiar.

Nós seguimos a sala e descemos dois lances de escada. Ainda estava tudo iluminado e eu pude ver um enorme estúdio de gravação.

Haviam mais guitarras na parede do que eu já tinha visto na vida. Na cabine de voz tinha bateria, guitarra, um teclado grande e tantos outros instrumentos.

- Uau! Minha nossa! Olha isso, aí meu Deus! - exclamava enquanto meus olhos alcançavam tudo. Tocava Aerosmith no fundo e vi que Paulo, pai de Olívio, estava sentado em uma grossa mesa de madeira lendo um punhado de folhas.

- Oi, pai. Chegamos. - anunciou ele.

Paulo sorriu, levantando de sua mesa e se afastando da enorme papelada. Pegou em minha mão, com um sorriso.

- Que prazer em vê-la, querida. Que prazer! Olívio falou de você a semana inteira, se quer saber... Vem, vem. Sente-se aqui. - ele puxou uma cadeira para que eu me sentasse à sua frente. - Olívio, pegue algo para ela beber, sim?

- Ah, não, obrigada. Não estou com sede, obrigada. - mas Olívio já estava pegando uma jarra de um frigobar ali dentro.

Paulo me contara de quanto amava a música desde jovem e por ter muitos colegas e bom ouvido, começou como agente e conheceu pessoas fantásticas. Disse, também, que pôde ir em um show de Amy Winehouse ainda quando ela não estava ruim e eu pensei o quanto deveria ter sido fantástico e o quanto eles já não tinham tido experiencias incríveis com as quais eu só podia sonhar.

Não que minha família não viajasse ou que tivéssemos uma situação muito difícil.

Papai fazia questão de viajarmos para sua casa, ver meus avós e primos. Já tínhamos ido diversas vezes para Disneyland e essas coisas. Mas me pergunto como deve ser você simplesmente escolher um destino e ir.

Quem disse que dinheiro não resolve problemas, não devia ter dinheiro o suficiente.

Paulo, ao terminar de contar toda sua trajetória ( seus pais e avós também tinha muito dinheiro pois eles possuíam muitas terras e produziam café ), pediu para que eu entrasse no estúdio e me "divertir", disse.

Me pediu, depois, para cantar músicas de cantoras que eu já conhecia e já tinha cantado muitas vezes em aniversários de adolescentes ou festas que ia com Pamela, mas ele pareceu gostar muito de Adele - Set fire to the rain.

- Você é incrível, Rona! - a voz no alto falante de Paulo, que vi sorrindo pelo vidro, fazendo um sinal de "ok". - Bom, tem alguma que você goste e acha que eu deveria escutar?

- Bom... - era estranho ser o centro da atenção, Olívio não tirava os olhos de mim pelo vidro, sentado ao lado de seu pai. - Tem uma divertida, quer ouvir?

- Com certeza.

- Posso pegar seu violão emprestado? - sorri.

- Você também toca!? - exclamou, eles sorriram e falaram algo que eu não escutei, lá fora.- Vá em frente, querida.

Eu toquei e cantei Toxic de uma cantora pop Britney Spears, eu tinha minha própria versão lenta dela e me orgulhava de ter sido a primeira música que consegui adaptar para minha voz e, ela condizia com meu momento e Olívio pareceu entender o recado.

Ao sair da sala, me senti um pouco exposta demais. Paulo estendeu sua mão, em cumprimento.

- O que acha Olivio, o que acha? Não é simplesmente incrível? Onde é que você estava escondida? - ele riu, dando tapinhas no meu ombro. - Tomei a liberdade de gravar enquanto cantava, tudo bem, querida? Vou mostrar para o meu melhor agente e ver o que ele acha que a gente pode encaixar. Já posso te dizer com certeza que eu arrisco um belo contrato! Precisarei marcar uma reunião com seu pai, é claro. Você vai precisar de um empresário também, não se preocupe, não se preocupe. Cuidarei de tudo! - ele falava animado, enquanto ia nos empurrando para a escada, educadamente. - Vão, vão. Entrarei em contato muito em breve, minha querida!

Nós subimos as escadas, em direção ao carro novamente.

- Parece que Cher, Lorde e Amy Winehouse se juntaram e criaram você. - disse Olívio, segurando minha cintura enquanto saíamos da casa dele, que estava tão vazia quando chegamos. Eu senti o rosto corar, sorrindo sem jeito.

Ele abriu a porta pra mim, já estava escurecendo lá fora.

- Então... toxic, uh? - ele tinha um sorriso malicioso com um olhar brilhando. Já estávamos no carro, eu retribui seu sorriso.

- Exagerei?

- Não o bastante... - ele riu, ligando o carro e colocando a mão sobre minha coxa, carinhosamente. - Passo aqui pra te buscar daqui uns quarenta minutos, pode ser? - disse, olhando em seu relógio.

- Onde vamos?

- Comer, é claro. - riu. - Se importa de minha irmã se encontrar com a gente?

- Sua irmã?! - estranhei.

- Relaxa, ela não morde. Bom, não você. Quarenta minutos, ok? - ele passou a mão por trás de meu pescoço, me aproximando e encostando os lábios nos meus. - Te vejo já. - sussurrou, destravando a porta.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora