o primeiro dia do resto das nossas vidas

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O colégio era enorme.

Havia dois pequenos prédios, que a Pamela explicou que se tratavam do ensino médio e ensino fundamental.

Eu pude ver o campo de tênis, de basquete e futebol e Pamela contou que as piscinas ficavam no subsolo, junto da quadra coberta, que era onde a equipe de líderes treinava ou usava no inverno. Mas onde morávamos, nunca nevava, então dificilmente a quadra era usada para jogos.

- Que? Aqui tem equipe de líder de torcida? - perguntei indignada. Que realidade ela vivia?

- Calma, não é o que você está pensando. Aqui elas só se juntam pra torcer mesmo, mas é bacana e acaba sendo uma atividade legal e que dá nota extra em algumas matérias. Seria legal a gente participar.

- Eu? Com meus dois pés esquerdos? To fora, obrigada. - ela riu, me dando uma cotovelada de leve.

- Você está uma tremenda gata, Rona Kerstin! Vamos nos alistar para esse exército da baixa auto estima e mostrar pra elas como se faz. O que me diz? - ela entrelaçou o braço dela com o meu, guiando o caminho até a sala e eu já sabia que eu estava perdida nessa discussão.

As janelas eram fechadas, toda a área tinha ar condicionado.

Muitos alunos vieram cumprimentar Pamela, animados. Ela me apresentou a cada um deles, aparentemente eu era a única nova na sala, o que causou um tremendo alvoroço.

As meninas foram simpáticas e nos convidaram pra almoçar com elas, enquanto a maior parte dos meninos (notei que muitos namoravam algumas das meninas da sala) importunavam Pamela para que ela passasse recados para mim ou me perguntavam sobre minhas redes sociais e se podiam me adicionar.

Era bom me sentir assim, como se fosse fácil fazer amizade ou as pessoas se interessar por mim.

Na verdade, onde eu estudava até então, tinha duas amigas até um pouco antes do final do ano, em que elas resolveram espalhar para toda a escola que eu tinha perdido a virgindade no banheiro, sendo que meu período tinha adiantado e eu não estava prevenida.

Eu fiquei duas semanas em casa, morrendo de vergonha de voltar para a escola. Até que, quando meu pai conseguiu me convencer, ninguém mais lembrava da história e muito menos da Ronda Kerstin.

Pamela diz que elas sempre tiveram inveja de mim, porque tenho olhos claros, cabelos longos e pretos, uma voz encantadora e sou muito inteligente.

Minha opinião é que se você for muito legal e não souber se defender na escola, você vira comida.

No intervalo nós estamos autorizados a usar o celular e o mais legal de tudo é que a escola possui internet de graça! Pamela riu várias vezes das minhas reações.

- Parece que você saiu de uma caverna, menina! - disse, uma das vezes.

Meu celular vibrou, era 11:40hr e a aula terminaria às 14hr.

Tinha uma mensagem de meu pai, outra de meu irmão do grupo "Família" e a última de um número desconhecido, junto de uma chamada não atendida.

"Assim que puder me conte tudo! Espero que esteja sendo um primeiro dia memorável!", meu pai mandou, fazendo-me sorrir.

"Você pegou o cabo do note de novo? Onde que está? Responde!", meu irmão. Grosso!

"Oi. Pode salvar meu numero?", número desconhecido.

Pamela falava alguma coisa com uma das meninas, Samanta eu acho, sobre a equipe de líderes de torcida.

"Oi, desculpe. Quem é?", mandei e não demorou segundos até que me respondesse, fazendo meu coração gelar um instante.

"A carona de ontem. Podemos nos encontrar hoje?", eu estava um pouco ofegante, escrevendo e apagando a mensagem.

"Claro! Eu estudo no Santa Branca da Misericórdia, saio somente às 14hr, mas depois estou livre! Qual melhor horário?" eu não conseguia definir se estava nervosa pela pessoa com quem eu estava conversando ou se era realmente com a oportunidade que estava próxima.

Demorou alguns minutos para me responder e eu já estava a caminho da sala quando recebi de Olívio um "ok".

- Nós vamos nos juntar com a equipe de líderes na quarta, certo? Não esquece! Caso o Paulo queira te encontrar esse dia para conversarem, marque a noite. - Pamela cochichou enquanto o professor de inglês se apresentava para a turma e pegava o nome da classe inteira.

- Acho que os encontrarei hoje. Olívio me mandou uma mensagem confirmando!- sorri, empolgada. Pamela cerrou os olhos, me analisando.

- Eu não gostei desse cara. E ele é muito velho.

- Ele é quase da idade do meu irmão! - retruquei, ela suspirou.

Pamela tinha um crush por meu irmão desde quando conseguimos nos lembrar e partiu o coração dela quando meu irmão começou a namorar a Aline.

As últimas aulas passaram depressa, eu não via a hora de ligar o celular e ver se tinha notificação de Olívio para saber que horas eu os encontraria.

- Nada. Ele não mandou nada. Acha que desistiram? - resmunguei, enquanto descíamos as escadas. Pamela passou o braço por meu ombro.

- Ninguém num raio de 300km tem a sua voz e é tão linda quanto você. O Paulo não vai "desistir" de você, Ron. - será que Pamela sabia o que representava um raio de 300km?

Pamela pegava a perua para voltar pra casa, que era um pouco mais longe. Como eu morava mais perto do centro, eu voltaria para casa a pé.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora