Meu nome é Rona

hiato

Algumas semanas se passaram desde o final de semana em que estive na casa de Olívio.

Ele já tinha me mandado diversas mensagens e algumas músicas, fazendo meu coração acelerar ou perder o ritmo cada vez que minha tela mostrava uma notificação sua, mas eu me afastara.

Foi fácil ocupar a mente durante esse período, Samanta e as meninas tinham marcado treinos duas vezes na semana passada e essa, o que significa que eu ainda estava no colégio com elas, ensaiando o hino e alguma coreografia.

Elas me fizeram ficar no meio, eu era a menor da equipe e era a que sabia cantar, então eu sempre iniciava os hinos.

Os meninos também treinavam nos mesmos dias, o que era bem suspeito, já que Samanta namorava um dos meninos da equipe de futebol e, agora, Pamela também namorava Henrique.

Ela andava cautelosa em comentar sobre seu relacionamento, temendo que algo que dissesse me afetasse em relação ao Olívio.

A verdade era que eu sentia falta dele e, de alguma forma, esperava que aparecesse na frente da escola para me buscar.

Mas isso não aconteceu. Mesmo mandando as mensagens, alguma coisa parecia que ele não era cem porcento sincero comigo.

Talvez ele ainda gostasse da garota da viagem.

No final do treino, Fabio, Felipe e Pamela já estavam fora do ginásio, me esperando. Fábio parecia bem diferente de quando estávamos na festa aquele dia, muito mais interessante desde que começamos a conversar por mensagem. Ele também costumava ficar nos treinos da equipe de torcida para me acompanhar. Ele deixou Pamela e Felipe primeiro, parando no drive tru para comprarmos milkshake.

- Mas, sério, você se encaixou perfeitamente. - ele riu, quando falávamos do abismo enorme que separava a Rona do ano passado com a desse ano.

- Não sem passar muita vergonha antes. - ri, ele segurava minha mão enquanto tomávamos o milkshake.

- Eu posso te levar pra comer qualquer dia desses? - perguntou ele, sério. Eu sorri, era bom estar com Fábio... ele parecia alguém com quem eu podia falar sobre qualquer coisa. Ele havia parado de fumar, então seu perfume, que lembrava muito o cheiro do mar, ficava mais presente.

- Eu vou adorar. - sorri.

Ao virarmos a esquina de meu condomínio, meu estômago afundou; o carro prateado estava em frente ao prédio, de frente para o carro de Fábio.

- Tchau, patricinha! - debochou Fábio, rindo sem notar o carro que estava parado ali. Eu fiz uma careta, mostrando o dedo do meio. Ele riu, arrancou a partida, virando rápido a esquina. Pude ver Olívio acompanhar o carro com o olhar pelo retrovisor. Sua barba estava maior, mas perfeitamente cortada, eu o ouvi destravar as portas e abaixar a janela de meu lado.

- Pode dar uma volta? - sua voz estava estranha, como quem acaba de acordar. Acenti, entrando no carro, estava com um forte cheiro de menta e, o que agora eu reconhecia, maconha.

- Você estava fumando? - perguntei, logo ao sentar. Ele deu de ombros, ligando o carro.

Nós ficamos em silencio o caminho inteiro. Notei que tinha latinha de refrigerante jogada no banco de trás e algumas embalagens de fritas vazias.

Ele parou o carro no mesmo lugar que me levou da primeira vez, próximo a sorveteria. As janelas estavam abertas e o ar condicionado ligado, o cheiro parecia ter sumido. Ele desligou o carro, tirando o cinto e virando pra mim, engoli em seco.

- Me desculpa... - ele disse.

- Pelo que?

- Eu não sei! Eu não sei porque fiz você ir embora. Eu nunca faço nada certo mas eu tava tentando, juro que estava. - ele estava bêbado àquela hora da tarde? - Onde você tava? Eu fiquei te esperando, achei que você chegaria mais cedo.. mas você já tá saindo com aquele moleque.

- Que? Ele não é um moleque

- Mas te beijou a força.

- Mas não me deu droga.- retruquei, fazendo-o se calar, seu olhar negro pareceu pegar fogo. - Hoje teve treino da equipe e o Fábio me dá carona... não que eu te deva satisfação, não é? - justifiquei. Ele juntou as sobrancelhas, me olhando.

- Você é tão linda... você é tão incrível. Vamos sair? Pra onde você quer ir? Me fala, qualquer lugar. Eu te levo! - ele segurou minha mão, estava um pouco gelado.

- Ah, então é isso que você faz? Leva as garotas com quem você sai pra onde elas quiserem? E depois? Você faz o que? - ele pareceu confuso por uns instantes.

- Eliza! Eu sabia! Eu sabia que era por isso que você ficou brava. Olha, eu não tava numa fase legal, sabe? Eu vivia bêbado e...

- Você está bêbado agora. - interrompi. - Olha, você não tem que me dar satisfação de nada. Eu não sou nada sua. - ele soltou minha mão, se endireitando no banco e me olhando.

- Você é sim. - disse, firmemente.

- Olha, se você lembrou de vir aqui agora nesse momento enquanto está bêbado, acho melhor você ir pra sua casa. Tudo bem?

- Posso te ver amanhã? Estarei melhor. Eu te pego na sua casa.

- Tá. Eu chego da escola às...

- Duas e meia, eu sei. - me interrompeu, pegando em minha mão de novo.

- Vamos, estou cansada e realmente preciso terminar o trabalho de amanhã. - suspirei, endireitando-me no banco.

"Olivio apareceu na porta da minha casa hoje, bêbado! E disse que vem aqui amanhã" mandei pra Pamela após o jantar, quando já estava deitada.

"Que? Olha, eu preciso falar antes que você faça besteira; O Fábio está A P A I X O N A D O por você."

"Tá doida?!"

"Juro, ele só fala de como sua voz é maravilhosa e como você parece estar se dando bem mesmo nunca tendo estudado lá antes. Como você é gentil e dedicada e blábláblá" disse, mandando a figurinha de uma alguém revirando os olhos.

"Eu gosto dele agora... mas não sei se nesse sentido." Fábio era lindo, com seus olhos castanho meio mel, por ter parado de fumar dizendo que "faz mal para a saúde" mesmo eu sabendo que foi por minha causa, seu jeito de quem parece passar por coisas sem querer preocupar ninguém... como o Olívio. Pare. Pense nisso. Pelo menos ele não é barra pesada como Olívio e a "gangue" dele..."

Eu tinha contado para Pamela tudo que tinha acontecido quando dormi na casa dele e saímos juntos. Sobre Eliza e Henrique. A maconha, as bebidas, tudo.

"Amanhã é sexta, não esqueça as minhas xuxinhas vermelhas! Beijinhos"