os fiordes

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Conforme caminhávamos para a montanha onde todo ano esquiávamos, eu ia contando a Olívio absolutamente sobre tudo.

A loja onde meu pai me levava e tinha um cheiro forte de aniz (que depois fui descobrir que era o que colocavam na Aquavit), contei o que era Aquavit e que meu tio e Søren possuíam uma fábrica especializada na bebida e que navios iam e voltavam da Austrália com a bebida só para deixá-la mais gostosa.

Falei sobre o verão, onde há o famoso "sol da meia noite" e quando eu faltava dias na escola pública para virmos até a casa dos meus avós para poder aproveitar.

Contei que minha avó dava aulas de piano quando jovem e meu avô quem fundou a fábrica onde meu tio e Søren trabalhavam hoje.

Ele me escutava com atenção e um leve sorriso, eu notei que estava levemente bronzeado.

- Você está bronzeado!

- É... aproveitei uns dias no sol e na piscina com a Eliza no retiro antes de vir me enterrar na neve. - sorriu, passando a mão no cabelo. Eu queria passar minhas pernas em sua cintura como fazíamos, mas o máximo que eu conseguia com todas aquelas camadas de roupa era tocar no joelho.

- Eu amei a surpresa. - disse, nós já estávamos na fila do teleférico, Stina e Søven vinham logo atrás.

- Ainda não acabou. - anunciou ele, com um sorriso travesso. Eu franzi a testa.

- Eliza não está dentro de sua mala, está?

- Não! - ele riu, enquanto subíamos todos no teleférico.

- Eu amo esse lugar. - suspirou Stina, quando estávamos quase no topo. Havia o mar por baixo, a ponte separando as duas cidades, as montanhas e as árvores. Tudo estava coberto de branco, como um grande lenço fino e gelado, em alguns pontos lá embaixo algumas luzes já estavam acesas.

Ao chegarmos, a montanha onde esquiávamos estava fechada para manutenção e era bem perto de onde saía ônibus de passeio para visita aos fiordes de Tromsø.

Nós subimos, animados. Olívio comentava sobre certos detalhes, empolgado; "isso aqui é incrível!" ou um "meu Deus, como aqui está frio!"

Ao chegarmos, nós nos separamos do grupo de turistas espanhóis, Søven conhecia a área e nós sabíamos a hora de partida do ônibus.

Nós estávamos no topo da colina, onde dava em frente aos fiordes, cobertos de gelo, com um mar ao meio e um céu muito azul.

Olívio respirou fundo, fechando os olhos, quando os abriu, olhou direto pra mim, os olhos muito escuros.

- Eu te amo. - disse ele, sério.

- Eu te amo, prykk!

- Eu que te amo! - caçoaram Stina e Søven, nos abraçando. Eu ri.

Quando nos soltaram, eles se afastaram. Stina queria tirar fotos para suas redes sociais.

- O que é prykk? - perguntou Olívio.

- Prima. - ri.

Nós estávamos sozinho, naquela imensidão branca e azul.

- Seus olhos estão lindos. Quase consigo me enxergar neles. - disse, arrumando minha touca e me olhando. Ele tocou meu nariz com a ponta de sua luva. - E está toda vermelha. - sorriu.

- Estou sem piscina aqui, somente por isso. - eu encaixei meus braços por baixo de sua jaqueta, lhe abraçando pela cintura e apoiando minha cabeça em seu peito. Seu coração batia, calmo. Eu só podia escutar o vento, as batidas de seu coração.

É curioso a forma como nossos corações encontram um lar em outros corações também. Ele me soltou, com um olhar um pouco nervoso.

- Que foi? - perguntei, colocando as mãos nos meus bolsos.

- Por favor, por favor, não ache piegas. - pediu, enquanto tirava a mão do bolso interno de seu casaco.

- O que? Achar piegas o que?

Ele abriu a palma da mão, com uma caixinha branca perolada. Meu coração parou por um momento.

- Eu gostaria de oficializar, oficialmente. - ele sorriu nervoso. Parecia tão sem jeito quanto eu. Eu não conseguia falar nada além de olhar dele para a caixinha. Ele a abriu, eram dois anéis prateados. Uma muito grossa, com algumas escritas por cima e outra mais fina, havia escrito nela também. Ele retirou a menor, colocando em meu anelar direito.

- Eu carrego seu coração... - li, girando a aliança. Eu peguei a mais grossa, lendo antes de colocar no dedo dele.

- Eu o carrego no meu coração. - disse ele.

Era isso. Exatamente isso que eu sentia sempre que estava com ele.

- E.E Commings. - sorri, lhe abraçando e olhando aquele anel lindo novamente. - Eu amei, Olívio. De verdade. Obrigada. - a prata brilhava naquela neve e céu azul, reluzindo em minha pele pálida. Eu coloquei a luva novamente, as pontas de meus dedos estavam perdendo a sensibilidade. Olívio riu, fazendo o mesmo.

Stina e Søven voltaram, cantando uma música numa língua que eu não entendia. Acho que eles estavam tomando Aquavit esse tempo todo no caminho. 

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora