entorpecentes

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Eliza tinha ganho um carro em seu aniversário de debutante. Lá em casa, todos dividíamos o mesmo carro, mas quem mais usava era papai pois precisava para trabalhar. Eu não me importava.

Nós chegamos rápido até o bairro de Henrique, havia uma música alta e quando entramos na casa tinham duas garotas se beijando no sofá, as quais reconheci pela foto que Olívio me mandou uma vez. Eliza pegou minha mão, tremula, a caminho do quarto.

Eu abri a porta, Henrique estava sem camiseta e tinha uma mulher sentada na cama a sua frente, só de sutiã e calcinha, meus olhos varreram o quarto e não encontrei Olívio.

Eliza entrou no quarto, batendo a porta atrás dela, eu pude ouvir alguns gritos enquanto passava no corredor atrás de outro quarto.

Abri a última porta, o quarto estava escuro, com uma cortina blackout preta, meu coração acelerado, não queria encontrar Olívio ali com outra pessoa. Eu acendi a luz.

Olívio estava deitado, só de meia, cueca e calca jeans e colocou o travesseiro por cima da cabeça.

- Vai embora, já falei que quero dormir. - resmungou. Peguei sua camisa jogada no chão e atirei nele.

- Não vou embora. - ele atirou o travesseiro pra trás, sentando-se. Seus olhos ainda se acostumando com a luz.

- Rona... Rona, Rona... - ele se estendeu na cama, me puxando pelo braço, beijando minha mão e subindo pelo braço, me fazendo arrepiar. - Que sonho... vem aqui. - ele me puxou para seu lado da cama, agora beijando meu pescoço.

Eu sentia muita falta de seus lábios nos meus, do seu toque...

- Olívio, não. Chega. - interrompi-o. - Levante. Vamos embora.

- Embora? - ele ainda segurava minha mão, olhando atentamente para elas. - Pra onde? - ele me olhou, seu hálito de álcool ardeu meu nariz, me fazendo tossir.

- Embora. Levanta.

Ele se vestiu, a contragosto, resmungando coisas que não conseguia entender.

Do outro lado do corredor, pude ouvir Eliza quebrando coisas e gritando "SAI DAQUI! SAI".

Eu abri a porta, apoiando Olívio em mim e puxando Eliza, que gritava e chorava na sala, enquanto Henrique estava jogado na cama de seu quarto.

- Eu vou com o carro dele, tá? Estou logo atrás de você. - avisei, Eliza soluçava.

Olívio dormia no carro a caminho da casa dele, seu carro tinha o mesmo cheiro de antes; seu perfume e seu chiclete de menta.

O que ele estava fazendo ali?

Ao chegarmos em casa, Eliza parecia melhor, me ajudou a tirar Olivio do carro e levá-lo para seu quarto. Ainda não estava tão tarde e os pais deles não estavam ali.

- Vem aqui... vem. - ele me puxou ao coloca-lo na cama.

- Eliza, liga o chuveiro no frio. Precisamos dar um banho nele.

- Um banho?!

- Acredita, vai melhorar. Meu irmão já ficou bebado desse jeito na formatura do colégio. - sorri, tentando amenizar o clima.

- Eu não acho que é só álcool, Ro.. - Ela me olhava preocupada, mas correu para o banheiro da suíte do quarto de Olívio, a qual eu nunca tinha entrado. O quarto era cinza claro, sem cortinas, apenas janelas que, fechadas, não entrava luz.

Uma porta que mostrava o closet estava aberta, tudo muito organizado lá dentro. Tinha alguns celulares jogados em uma mesa de canto e um notebook aberto, aparentemente sem bateria.

Eu o deixei apenas de cueca e Eliza e eu o colocamos embaixo do chuveiro, o que surtiu um efeito imediato.

- CARALHO! - exclamou ele ao entrar em contato com a água. Eliza abafou uma risada. Ele olhou assustado para nós, tentando reconhecer onde estava.

Quando ele estava desperto, deixei ele e Eliza no banheiro, até ele terminar o banho.

Ouvi ele vomitando no vaso enquanto Eliza o tranquilizava. Ouvi, também, diversas vezes o meu nome.

Ao sair, ele estava usando uma camiseta do "The Strokes" e uma calça jeans clara. Eliza o acariciava até senta-lo na cama.

- Eu estou melhor. Estou melhor. - repetiu ele, dando um beijo na mão de sua irmã, ela nos entreolhou, ainda um pouco magoada.

- Eu... vou deixá-los sozinhos um pouco, tá? - disse, saindo do quarto e eu não sabia se deveria continuar ali.

- Então... - suspirei, Olívio desviava o olhar quando eu o encarava. - O que está acontecendo?

- Nada. Não está acontecendo nada.

- Você me deu um bolo há um tempo atrás. - lembrei. Ele me olhou.

- Eu não achei que você queria me ver..

- E não quero... não queria. - respondi. Ele abaixou o olhar. - Não daquele jeito. Não assim. Esse não é você.

- É. Sim, é. - ele me olhou, se aproximando de onde eu estava sentada. - É por isso que nunca nada dá certo. Eu nunca consegui fazer as coisas direito e não vou fazer a gente também.

- E você acha que fazendo o que você está fazendo agora vai resolver? Você parece um grande menino mimado, Olívio! Você tem tudo!

- Eu não tenho tudo, Rona. Já viu como ele me trata? Meu pai me trata como seu eu fosse seu sócio ou coisa parecida. Minha mãe dificilmente está em casa, sempre preocupada com uma cirurgia nova ou uma viagem ali.

- E isso é o fim do mundo pra você?! Eu não tenho mãe, dificilmente vejo meu pai porque ele trabalha 11 horas por dia e, muitas vezes, aos finais de semana também. E você não aguenta passar por isso?! - exclamei, indignada.

- O seu pai ama você, Rona. Duas vezes mais, até. Sua amiga ama você.. - ele deu de ombros. - Meus pais só pensam em dinheiro, Rona. Sempre foi Eliza e eu.

Eu não sabia o que dizer, era mais fácil julgar a realidade dele do que me colocar no lugar para imaginar o que ele sentia. Ele tinha razão, meu pai me amava mais que tudo. Pamela e meu irmão.... E agora Fábio.

É nas coisas simples que a gente encontra a felicidade.

- E sua irma está aqui. Eu estou aqui. - falei, sentindo meu olho encher de água.

Ele estava sentado bem ao meu lado, seus braços envolveram minha cintura, seu cabelo estava molhado, arrepiando meu pescoço enquanto nos abraçávamos.

- Prometa-me que você não vai mais fazer isso. - pedi, ainda o abraçando.

- Prometo.

- E me prometa que vai cuidar de sua irmã. O Henrique não é pra ela. - ele soltou do abraço, seu rosto muito próximo do meu, seu hálito doce fazendo meu estômago gelar.

- Prometo... - o ar de sua boca batia na minha enquanto ele falou. - Por que está namorando ele? - eu parei de respirar. Ele me encarava, esperando a resposta.

- Não estamos namorando, mas... ele.. - eu não queria falar sobre ele, ali naquele momento, Fábio não fazia sentido. Era como se uma Rona totalmente diferente estivesse com ele. - Ele é diferente do que você pensa.

- Ele não é um drogado, velho e mimado? - eu o encarei, em silencio. Seu oceano negro me encarando de volta.

- Vou avisar a Eliza que vou dormir aqui com ela. - eu levantei, suspirando.

- Desculpe. - ele me segurou pela mão, se levantando. - Me desculpe. Eu não tenho direito de ficar todo esse tempo longe e ainda exigir algo de você... eu sei disso. Mas... por favor. Eu quero estar com você. Eu posso ser seu amigo, eu posso ser o que você quiser. - sua voz embargada e os olhos cheios de água. Ele me puxou para um abraço e eu senti o que eu deveria sentir com Fábio. O que provavelmente Pamela sentia com Felipe. Olívio era meu e eu era dele.

O que eu ia fazer?

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora