livre

2 0 0
                                    

Eu acordei na manhã seguinte com as vozes da Dra Alvez, meu pai e Olívio.
Eliza não estava mais ali, o quarto tinha um forte cheiro de café, que eu inspirei fundo.
- Bom dia, meu amor. - papai estava com seu coque, uma camiseta branca e um jeans surrado com sua velha bota marrom, ele se aproximou de mim, deixando um copo de café ao meu lado da cama e dando um beijo em minha cabeça. 
Olívio também se aproximou, sentando novamente ao meu lado da cama, ele estava com sua camisa velha dos Misfits, seu jeans preto e o all star, ele beijou as costas da minha mão, colocando o anel que reconheci que era o de mamãe, que papai tinha nos dado no aniversário de Olívio, eu lembrei da festa e flashes rápidos passavam em minha cabeça, me deixando meio zonza. Ele sorriu, me dando um selinho, enquanto Dra Alvez ainda falava com meu pai.
- E é importante que ela passe daqui um ano ou se sentir algo diferente, está bem? Não a deixe esquecer. - disse ela, entregando uns papéis a papai. - Está liberada de sua prisão, querida. - ela sorriu, olhando pra mim. - Adorei o que fez no cabelo. - ela acenou, se retirando do quarto em seguida.
Papai e Olívio estavam parados um de cada lado da cama, papai com as mãos na cintura, pensativo. Olívio me olhava, parecia estar mais descansado.
- O que estão esperando? Quero ir embora! - exclamei, levantando da cama tão rápido quanto uma senhora de 150 anos.
Ao sairmos, eu parei novamente em frente ao espelho do corredor, próximo ao elevador. Meu cabelo liso, escorrendo por pouco abaixo de meus ombros, meu jeans e camiseta que agora ficavam um pouco largos mas cobriam as pequenas cicatrizes, exceto por meu pescoço. Eu ainda estava pálida, com os olhos um pouco fundos. Ao meu lado, Olívio, mais alto que eu, até um pouco mais corado do que o dia anterior.
A sensação do vento no rosto, mesmo sem você lembrar quanto tempo você não o sente... é impagável.
O carro de Olívio já estava em frente à saída do hospital, papai abriu a porta da frente, me ajudando a entrar.
Eles pareciam apreensivos quando começamos a sair do hospital.
- Se quiser parar... não tem problema. Tá? - papai afagou meus ombros.
- Parar? Por que? - indaguei, Olívio olhou para papai pelo retrovisor interno.
- Caso... caso você lembre de algo.
- Não se preocupem. Está tudo bem. - eu encostei a cabeça no banco, sentindo o vento quente que trazia maio.
Nós deixamos papai em casa, que deixou os papéis com Olívio e nos fez prometer que ligaríamos ao chegar.
- Eu fiz dezoito anos. - anunciei, contendo um sorriso. Olívio me olhou rapidamente, sorrindo mas cansado.
- Sim, você fez.
- Eu já posso beber em alguns países. - ri.
- Certamente... - ele segurou minha mão, acariciando-a.
- Como estão as coisas? Me conte absolutamente tudo. - eu queria saber tudo que tinha perdido enquanto... dormia.
- Bom. Eliza teve algum episódio e apareceu com os cabelos pintados e roupas diferentes.
- Eu notei! Ela parece muito mais...
- Adulta? Sim. - ele riu. - A maior é que ela e mamãe estão ajudando a treinar o rapaz que meu pai contratou. Então... bom, você conhece minha irmã, pode imaginar como está o cara. - eu ri, batendo em seu braço de leve.
- E Pamela? Como está Pamela?
- Bom... - ele suspirou - parece que ela e Felipe se mudam assim que acabar o semestre, provavelmente a bebe vai nascer em setem...
- A bebe? É uma menina?! - exclamei, ela seria uma mãe incrível. Já podia imaginar Pamela arrumando o cabelo, as roupas... - Meu celular... onde est... - Eu abri o porta luvas e foi como uma enxurrada de água me jogasse pra trás.
Ouvi uma buzina muito forte, tudo voando para o painel, tudo parecia em câmera lenta. Eu avançava pra frente enquanto tentava me proteger com o braço, meu corpo pesava, eu senti o lado direito de minha cabeça bater... foi ao mesmo tempo da freada? Tinha um gosto metálico na minha boca.
- Rona! Rona!! - Olívio me balançava de leve, seu hálito de chiclete no meu rosto, eu levantei assustada, checando minha cabeça onde havia batido. Nós estávamos parados em algum acostamento. - Está tudo bem? Você está bem? - ele pegou a garrafa de água, me estendendo.
- Eu... - estava atordoada, tomei a água, tentando assimilar os flashes que passaram na minha frente. - Ele jogou meu celular pela janela, ele voou e... eu bati no painel mas voltei com o impacto e bati a cabeça em algum lugar. Eu lembro de uma buzina também.
- Sim, foi alguém passando na outra mão. Foi a moça que ajudou a lhe socorrer. - ele segurava minha mão, firme. Eu senti minha respiração acelerar.
- E Fábio... ele tinha um olhar... - seu olhar era frio, não era igual ao que o Fábio era. Lembro de ele ter gritado algo e jogado meu celular fora, fiquei com medo de me bater, meu corpo todo pesava. - Ele fez... eu achei que ele... - eu abracei Olívio, que me confortou. - eu pensei que ele fosse meu amigo...
- Você não precisa pensar em nada disso agora. - ele ainda me abraçava, acariciando minha nuca. - Se quiser, posso ir com você para procurarmos uma terapeuta e...
- Não. Eu não quero. Está tudo bem. - interrompi, firme e respirando fundo. - O que aconteceu, aconteceu. Posso mandar uma mensagem para Pamela?
- Claro. Sim. - ele estendeu seu celular pra mim, ligando o carro novamente, nos já estávamos perto de nosso apartamento.
"Ei. Estou bem e acordada. Indo para casa, finalmente. Vou te visitar assim que possível. Parabéns pela bebê, estou muito feliz por vocês. Saudades, Ron."
Ao chegarmos no apartamento, eu fiquei bastante ansiosa e empolgada. Eu não lembrava de vivermos juntos, Olívio e eu.
- E então... eu já brigo com você por deixar suas coisas espalhadas? - perguntei, assim que pedimos o elevador. Ele deu uma risada alta.
- Que? Claro que não. Eu sou muito organizado. E ainda não tivemos tempo para brigas... estamos sempre ocupados fazendo outras coisas. - nós entramos no elevador.
- Outras coisas? - ele me entreolhou, rindo de leve.
- Isso também. - respondeu, eu o beijei no pescoço, colocando-o em minha frente enquanto encostei na parede do elevador. - Ron... nos estamos no...
- Sim. Estamos.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora