quando me perdi

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Minha cabeça doía, meu braço direito estava muito pesado, eu senti uma grande dormência no quadril e ouvia um "bip bip bip bip" ao fundo, enquanto abria meus olhos.

Eu estava em um quarto de cortinas brancas, uma televisão grande em uma parede de gesso, meu braço direito estava engessado e eu não conseguia abrir totalmente meu olho esquerdo. Tentei olhar em volta e senti algo em meu pescoço também, não havia dor, somente um grande incômodo. Eu estava com sede.

- Água. - saiu algo como "auá", minha voz estava muito rouca, com a garganta muito seca. Eu vi que havia algo em minha veia do braço esquerdo conectado com uma grande bolsa de líquido em um ferro ao lado da cama.

E então ele apareceu, fazendo meu corpo esquentar, não foi tudo um sonho. Ele sentou do meu lado, parecia extremamente esgotado fisicamente, seu cabelo não estava tão bagunçado quanto eu lembrava, parecia um pouco sujo.

Eu queria tanto abraçá-lo e senti lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto.

- Ei... ei, tá tudo bem. Tá tudo bem. - ele também chorava, limpando as lágrimas do rosto. - Você está bem. Você sabe quem eu sou? - eu acenei positivamente. - Ótimo, ótimo. Evite falar, está bem? Você precisa tomar bastante líquido. - ele me estendeu um copo na boca, me ajudando a tomá-lo. Eu lembro do nosso quarto, de como fiquei feliz depois de dar um abraço em papai e sair do apartamento ao lado dele.

- Por que... - eu tomei mais água, falar arranhava minha garganta. - o que aconteceu? - sussurrei.

- Você não lembra? - seus olhos estavam fundos e ele parecia mais magro, eu olhei para minha mão esquerda e então os meus pés, minhas unhas estavam pintadas de verde, eu não tinha feito aquilo. Eu acenei, negativamente, vendo-o suspirar, preocupado. - Qual a última coisa que você lembra?

Eu dei de ombros, tentando me lembrar de algo além de quando saímos da casa de papai.

- A gente foi buscar nossas coisas no meu pai. - minha voz estava muito rouca, como quem bebe muito e acorda com uma tremenda ressaca.

- Da mudança? - ele levantou as sobrancelhas. Eu comecei a sentir minha cabeça doer.

- Sim... minha cabeça e meu peito estão doendo.

- Eu vou chamar o médico. - ele saiu do quarto, voltando rapidamente com uma médica idosa.

- Olá, querida. Que bom te ver acordada novamente. - novamente? - Eu sou sua neurologista, Dra Alvez. Você está se sentindo bem?

- Um pouco de dor de cabeça.

- Certo... isso é normal, tá? Alguma náusea, ânsia de vômito? - perguntou, eu acenei negativamente com a cabeça, devagar. - Ótimo. Ótimo. Você vai sentir dores de cabeça por um tempo, querida, mas vão passar, está bem? Você se lembra do que aconteceu?

- Não. Nós fomos pegar as caixas no meu pai e saímos. - falei, a doutora olhou para Olívio, como alguém que espera respostas.

- Em março, antes do spring break. - antes do spring break? Há quanto tempo eu estava ali?

- Você se lembra de mim? - ela perguntou, eu senti meu coração acelerar, o que fazia a máquina apitar "bip bip" mais rápido. - Não se preocupe, querida. É natural que você não se lembre... está bem? - eu acenei, sentindo lágrimas rolarem meu rosto novamente.

- Podemos falar? - ela levou Olívio delicadamente para fora do quarto. Eu respirava fundo, tentando não surtar. A dormência em meu quadril estava me incomodando, minha cabeça pesava.

Olívio entrou no quarto, com os olhos baixos e um caminhar desanimado, mas sorriu ao me ver.

- O que aconteceu? - minha voz machucava ao sair. Ele começou a chorar, sentando na poltrona ao meu lado, segurando em minha mão engessada. - O que...? O que foi? - por que ele não estava machucado? - Faz quanto tempo que estou aqui? - ele respirou fundo, limpando o rosto com as costas da mão e sentando ao meu lado, arrumando meu cabelo.

- Você já acordou duas vezes antes. - sua voz estava baixa. - Na primeira vez você não lembrou de mim! - mais lágrimas brotavam em seu rosto, enquanto meu coração batia mais rápido, ele mudou rapidamente, respirando fundo. - Desculpa... eu tive muito medo... muito medo de te perder.

- Eu... Eu estou aqui, Olívio. - sorri, falando baixo e sentindo meu olho esquerdo inchado, segurei em sua mão. - Eu sempre estive. - ele me beijou na bochecha, eu senti suas lágrimas passando em meu rosto.

- Você se lembra de irmos para o apartamento e pegarmos as caixas?

- Isso.

- Certo... isso foi uns dias depois do meu aniversário, certo?

- Sim, na terça feira. - confirmei, ele me olhava, tentando entender algo que eu não sabia.

- Houve um show beneficente.

- E..?

- Você cantou.

- Claro que não, eu não... eu estava... - onde eu estava? Que show?

Ele segurou minha mão.

- Seu pai pediu para te contar porque ele não conseguiria.

- Contar? O que?

- Você foi ao show beneficente, Ron... você cantou pra Pamela e ela tem vídeos, todo mundo tem, estão todos sentindo sua falta. - minha cabeça doía de tentar lembrar, eu simplesmente não conseguia me colocar em nenhum outro lugar que não fosse no corredor do apartamento de meu pai.

- E o que aconteceu, então? - eu tentava associar tudo, tentando lembrar.

- Tinha uma forte substância no seu sangue que disseram ser de um sonífero.

- Eu não uso... juro. Eu não...

- Nos sabemos, meu amor. Nós sabemos. - ele segurava minha mão, acariciando. - Você foi drogada, provavelmente em alguma bebida...

- Mas.. eu não me lembro! Eu não lembro! - ele se deitou ao meu lado, me abraçando.

- Está tudo bem. Está tudo bem. Tente dormir. - ele suspirou, acariciando meu cabelo enquanto minha cabeça estava em seu colo. Ele cheirava àquele quarto, com um misto de sabonete cítrico e, então, eu consegui dormir.

Estava escuro lá fora quando eu acordei, meu braço direito estava sem o gesso, mas eu sentia ainda a mesma dormência no quadril, eu me estiquei na cama. Minhas unhas estavam rosa?

Papai estava na poltrona ao lado da minha cama, teclando algo no celular.

- Aposto que é aquela moça do barco. - eu comecei a tossir bastante, minha garganta seca. Papai deu um pulo da poltrona, entregando água pra mim, ele também parecia exausto, seu cabelo estava mais curto e sua barba também, ele também estava mais magro.

Eu tomei toda a água, respirando fundo em seguida. Ainda havia um "bip bip bip" na sala. Eu sorri para papai, não sentia mais meu olho inchado.

- Nossa... meu olho até melhorou. - suspirei. Falando baixo, Papai sentou na ponta da poltrona, me olhando.

- Eu posso te dar um abraço? - perguntou, me fazendo rir e sentir dor na cabeça.

- Aí... - Eu levei a mão à cabeça. - Claro, vem aqui! - nós nos abraçamos, ele chorava de soluçar. - Parece que todo mundo deu pra chorar agora, né? - ri, quando ele se afastou, limpando o rosto da camisa de manga longa.

- É que é muito bom te ver.

A porta do quarto abriu, mostrando Olívio e Eliza, ambos seguravam pacotes de alumínio e inundou o quarto com um cheiro maravilhoso de comida. Eliza estava com o cabelo castanho, no meio das costas e parecia ter crescido.

- Eliza? - indaguei, ela pulou de susto, quase derrubando seu pacote, entregando para Olívio em seguida e correndo a me abraçar.

- Aí minha nossa! Meu Deus! - ela me encheu de beijos no rosto. - Você está aí mesmo! - ela ria e me beijava - Linda, linda, linda. Obrigada por acordar, obrigada por lembrar de mim! - ela sorriu, segurando minhas mãos. - Eu quem estive pintando sua unha essas semanas. - ela arregalou os olhos, olhando para papai e Olívio.

- Semanas?!?! - exclamei, tossindo muito e bebendo água- Semanas?!

Ela murmurou um "desculpe desculpe" a papai ao se levantar e se afastar.

Olívio se aproximou, ele estava com uma camisa branca e seus jeans escuros com seu all star.

- Onde está a Dra Alvez? Eu quero falar com ela. - anunciei, firme.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora