Na mesma semana em que chegamos em casa, Varg anunciou que ia se mudar com Aline para o interior, onde ela fazia residência num hospital e Varg tinha conseguido uma boa proposta de trabalho.
Papai ficou tão animado que fez um bolo de despedida e lhe deu alguns conselhos, como: trabalhe, faça as coisas dentro de casa, seja feliz.
Olívio lhe presenteou com roupas de cama e panelas, que fez Aline exclamar de felicidade.
Na escola, logo no primeiro dia, muitas pessoas já recebiam o retorno das faculdades em que se aplicaram, o que começou a me deixar muito ansiosa e estressada.
- Vai dar tudo certo, você sabe. Se tivesse escolhido alguma faculdade por aqui talvez já tivesse recebido sua resposta. - tranquilizou Pamela um dia quando saiamos da escola. - Você tem um tempo hoje? - perguntou em um tom baixo, nos afastando de Felipe e Fábio.
- Sim. - Eu estava mesmo me perguntando quando é que ela iria resolver falar sobre a mensagem que me mandou quando estava em meus avós.
- Certo. Vamos dar uma volta, então. - disse, cruzando o braço no meu. Ela parecia um pouco mais agitada que o normal e Felipe nunca a largava.
Nós quatro fomos ao shopping, estava bem frio, embora não nevasse, então decidimos ir para um lugar fechado.
- Está bem. - suspirou ela, ao sentarmos na Starbucks com nossos cafés e cappuccinos fervendo. Felipe tinha um semblante um pouco preocupado.
- O que? - indagou Fábio, tomando seu café em um gole.
- Estou gravida. - anunciou ela, Felipe respirou fundo. Eu a olhava, esperando ela rir alto e dizer que era uma brincadeira estupida.
- Voce está brincando. - eu disse, tomando um pouco do meu café, minha garganta ficara seca. Pamela morde o lábio inferior, me olhando como me olhava quando usava o esmalte de sua mãe e acabava derrubando no computador ou em algum lugar que não devia. - Não está? - ela balançou a cabeça, em negativa.
- Estou grávida. - repetiu, seus olhos se enchendo de água. Eu olhei Felipe, ainda preocupado. - Eu queria compartilhar antes com você, com vocês dois, na verdade. Mas soubemos um pouco antes da viagem. E eu não queria atrap...
- O que vocês vão fazer? - interrompi, colocando meu copo na mesa. Pamela sempre quis ser apresentadora de televisão, quando éramos pequenas ela dizia que teria seu próprio programa sobre animais selvagens. Estudou teatro desde muito pequena e sempre esteve envolvida com arte na escola. Ela também não parecia saber responder minha pergunta. - Vocês vão ter o bebê?
- É claro! - exclamou Felipe, enfim.
- Cara... - Fábio parecia em choque, balançando a cabeça pra lá e pra cá enquanto olhava pra Felipe. - cara...
- Eu ainda tenho chance de uma bolsa, gente. Tá legal? Nada vai mudar. - disse ele, segurando na mão de Pamela.
- Tudo vai mudar. Eu sei que dinheiro não é o problema pra vocês, mas... onde vocês vão morar? Mel... e seu intercambio? E a tv? - ela chacoalhou a mão.
- Bobagem! Eu consigo esperar algum tempo. Os pais de Felipe já sabem, eles não gostaram da ideia ma...
- Consigo imaginar porquê. - disse, ela me repreendeu com o olhar.
- Desculpe se meu sonho e minha vida de repente mudaram, Rona. Isso não significa que eu esteja menos feliz. - disse, segurando a mão de Felipe. - Eu queria que vocês fossem os primeiros a saber. - bufou.
- Mas a faculdade é 400km daqui... - disse Fábio, olhando para seu copo.
- Eu sei, cara. Mas a Pamela vai comigo. Meus pais vão ajudar... nós vamos falar com os pais dela esse final de semana. - eu lembrei da mãe de Pamela, sempre muito severa e a colocava sempre de castigo.
Será que meus avós se sentiram desse jeito quando descobriram que mamãe estava grávida? Claro que eles não estavam ainda no último ano do colégio, tentando decidir o que fariam pelo resto da vida. Também não saberia dizer, meus avós maternos já tinham falecido bem antes de eu nascer.
- Eu estarei aqui. Para o que precisar, pelo menos. - suspirei, respirando fundo.
- Vocês estão felizes? - perguntou Fabio, Pamela e Felipe se entreolharam, sorrindo em um misto de nervoso, ansiedade e pura alegria.
- Sim! - responderam juntos. Fábio sorriu, apertando o ombro de Felipe.
- Então vai ficar tudo bem, cara! - disse ele.
Eu gostaria de pensar dessa forma. Mas acho que vendo meu pai nos criar sozinhos, me fez ver que, as vezes, só a felicidade não é o suficiente. Às vezes você vai brigar, as vezes você pode não saber o que fazer, as vezes acidentes acontecem, as vezes você pode não ter um bom conselho.
Ao sairmos do shopping, Fábio deixou Pamela e Felipe na casa dela e me ofereceu carona. Tinha avisado Olívio que não conseguiria ir em sua casa hoje devido ao encontro com Pamela, então aceitei a carona.
Estava um silêncio desconfortável. Fábio experienciava uma vida de alguém quando os pais não dão certo e eu, sabia o que era ter somente um dos pais e parecia que nenhum de nós dois queríamos atrapalhar o que nossos amigos estavam sentindo.
- Vai ficar tudo bem. - disse Fábio, quando estávamos perto de meu apartamento. - Felipe não é um cara escroto. Pam é super legal. Eles se dão muito bem juntos, vai dar tudo certo... - repetiu, tentando convencer a nós dois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu nome é Rona
RomanceEla, de classe média alta que vai ter sua vida mudada após o início do seu último ano no ensino médio. Com novas amizades, novas oportunidades e descobertas sobre ela mesma pela frente.... Em qual estrada ela vai parar?