o gueto

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A casa de Henrique era simples, como as casas dali. Havia muitas casas no mesmo bloco e os jardins eram abandonados e amarelados.

Reconheci o cheiro de sua casa pelo cheiro que tinha no carro de Olívio aquela vez, um cheiro doce mas um pouco ardido.

Ele devia morar sozinho, havia algumas latinhas de cerveja espalhadas no balcão de sua cozinha e no sofá, mas achei a casa até arrumada para um homem que mora sozinho. Claro, eu só tinha o quarto do meu irmão para comparar.

Eliza segurava minha mão enquanto Henrique ia na frente e Olivio nos seguia atrás.

- Vem, vamos preparar alguma coisa. - disse ela, me puxando para a cozinha.

Ela pegou algumas bebidas e gelo, misturando com energéticos algumas e com refrigerante outras.

- Isso fica bom? - ri, encostada no balcão. Ela estendeu um copo pra mim, tinha um cheiro doce e um gosto muito bom.

- Whisky, energético e essência. - sorriu, se gabando. - Esse é seu. Vamos.

Eles estavam em um quarto, havia uma enorme cama king bagunçada com algumas roupas e puffs grandes espalhados, me sentei ao lado de Olívio, terminando minha bebida, enquanto ouvíamos Pear Jam e Eliza montava o tabuleiro do Banco Imobiliário.

- Aquele cara da banda de antes de ontem não para de encher o saco. Você devia ligar pra ele, Olívio. - reclamou Eliza depois, entrando no quarto com mais bebida.

- O cara sabe que não vai mais rolar. O dono do clube tá furioso porque quebraram o corrimão da escada. - Olívio deu de ombros.

- Os caras extrapolam demais às vezes. - ela concluiu, dando um selinho em Henrique.

Nós jogávamos banco imobiliário, enquanto eu começava a achar graça nos bonequinhos de cabeças grandes e como o dinheiro que a gente ganhava ao completar uma partida poderia ser de verdade.

Vi que Henrique segurava um pequeno cigarro, estendendo para Eliza em troca de sua bebida. O cheiro era bem forte.

- Você fuma maconha? - ela estendeu pra mim.

- Não. - respondi, balançando negativamente a cabeça. Ela olhou espantada para Olívio, caindo na gargalhada depois.

- Cara... tinha maconha aí! - ela riu apontando meu copo. Olívio levantou, nervoso.

- Caralho, Eliza! - ele pegou o copo de mim, vendo-o vazio.

- Como eu ia adivinhar que você arranjou uma garota limpa? - ela riu, dando de ombros. - Relaxa, tá? A brisa vai ser leve, juro. Foram umas 5 gotas, sei lá... - riu, dando de ombros e sentando no colo de Henrique, que deu risada. Eu estava perdida, contando meus dados novamente: "vá para a prisão".

- Quantos você tomou? - perguntou ele, preocupado, me encarando.

- Três? Acho que três... cinco.- ri.

Olivio ficou sentado comigo no mesmo pufe, com a cabeça inclinada em meu ombro. O perfume de seu cabelo e de seu corpo eram perfeitos.

Eliza voltou com mais bebidas, Olivio bebia ainda mais rápido que eu, o que era normal pra alguém que sempre tinha festas e reuniões com bandas.

Me assegurei de não tomar nenhuma outra bebida com a "essência" de Eliza, mas o cheiro do quarto estava me deixando um pouco diferente, eu parecia mais leve. Eu peguei meu celular, mandando uma mensagem para Fábio "acho que sei o que estava usando na festa LMFAO"

- Não é engraçado como as coisas acontecem? - divaguei, com a cabeça encostada na parede e olhos fechados. Tudo parecia estar em completo silencio.

- O que? - ouvi Olivio. - Rona? - Olivio estava bem próximo, vi seus olhos bem pretos em frente aos meus quando abri. - Está se sentindo bem?

- Ótima! - sorri, entrelaçando meus braços por trás de seu pescoço e lhe beijando. - Minha nossa! Deve estar super tarde. - ri, pegando o celular, Fábio tinha respondido, eu tinha esquecido da mensagem!

"Q? Está fazendo coisas ilegais, dona? >.< " eu gargalhei, a Rona da festa não saudaria a Rona de hoje.

- O que foi? - indagou Olivio, preocupado. Eu ri, mostrando meu celular. Ele levantou as sobrancelhas. - Você não pode ficar falando que tá sob efeitos para outras pessoas! - eu gargalhei.

- Desculpe... tem razão.

- Quem é "cabeça do crime"? - perguntou, me fazendo gargalhar de novo, eu tinha mudado o contato de Fábio.

- Você é muito engraçado!

- O que acha de Eliza ligar para seu pai? - ele passou a mão no cabelo, pra trás, parecia morder o lábio.

- Você não é uma boa influencia... - ri, encarando aquele par de olhos imitando um oceano negro.

- Assim ela pergunta se você pode passar a noite em casa. Seu pai não vai gostar em ver você chegar assim... - ele fingiu não me ouvir.

- E passar a noite na sua casa?! - eu levantei, ficando tonta. - Ixi.

Olivio me levantou, me segurando pela cintura. Ouvi ele dizer algo para Eliza como "ligar para o pai dela e pedir pra ela dormir em casa, que estávamos assistindo filme "ou sei lá". "

Ele me levou para fora da casa, onde o ar fresco parecia acariciar meu rosto, dançando com meu cabelo. Eu ergui o rosto para o céu, respirando fundo.

- Tantas estrelas, né... E elas ainda estão lá. As pessoas falam que elas já morreram, mas a verdade é que qualquer corpo celeste que a gente consiga ver a olho nu, está perto demais para ter morrido. Sabia? Sabia disso? - expliquei, empolgada. Olivio riu de leve.

- Não, eu não sabia... Vem, vamos sentar no carro. - ele abriu a porta para mim, me acomodando no banco.

Nós ficamos em silencio alguns minutos, enquanto eu olhava o céu e pensava em diversas coisas ao mesmo tempo.

Onde Pamela estava agora? Com Felipe? O que era "limpa" que a Eliza quis dizer? Por que Olivio parecia tão preocupado? E desde quando Fábio era tão engraçado?

Eu desviei o olhar da janela, lhe encarando. Ele retribuiu o olhar, preocupado.

- Está tudo bem? Está sentindo vontade de vomi.. -eu o interrompi, lhe beijando novamente. Tudo girava ao nosso redor, mas a pele dele estava muito mais intensa, sua barba deslizando por baixo de minha mão e seus lábios junto dos meus enquanto nossas linguas se encontravam, em uma única sintonia.

Eu estava por cima dele, com minhas pernas abraçando sua cintura, sua respiração estava ofegante e seu hálito de whisky parecia arder.

- Ro.. Rona.. Rona, espera. - ele se afastou um pouco, ainda entrelaçado entre minhas pernas e com as mãos em minha cintura.

- O que? Você não me quer? - franzi a testa, soltando minhas mãos de seu rosto.

- Eu quero. - ele apertou minha cintura. - Como eu quero. Mas você mal me conhece... E você tá alterada, não quero que seja assim...

- A Pamela tinha razão! Se você estivesse afim já teria feito algo!

Eu sentei de volta em meu banco, bufando. Eu não queria parecer uma criança birrenta ou mimada, mas parecia que minha cabeça e meu corpo não estavam conversando.

E enquanto pensava no papel de idiota que eu estava fazendo e tudo que queria falar, acabei adormecendo com a cabeça na janela do carro.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora