eu sou a Rona

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Eu deveria começar dizendo quem eu sou, algo sobre minha vida e algum evento dramático para que você tenha alguma simpatia por mim.

Mas a verdade é: eu não sou ninguém muito interessante, minha vida é bem pacata e a maior parte do tempo eu não tenho noção do que estou fazendo e, provavelmente, deixo muito outras pessoas decidirem as coisas por mim.

E é por isso que agora estou completamente arrependida de entrar no último ano do ensino médio com a Pamela, nessa escola de gente rica que se sente mal entendida.

Ok, não vá achando que eu sou riquinha. não sou.

Acontece que o pai da Pamela é dono do society da cidade e, resumindo: a Pamela tem muito dinheiro e o pai dela conseguiu uma bolsa 100% pra mim - até terminar o ensino médio- , ou seja, só mais um ano. A pegadinha? Não reprovar em nenhuma matéria. Sim, exatamente!

Você já conhece a Pamela, ela é minha irmã, praticamente.

Nos conhecemos no 2º ano quando ela se mudou da Espanha pra cá, estudamos somente o 2º ano fundamental juntas, depois ela foi para outra escola - de gente rica -, mas sempre me chamava pra ir dormir na casa dela.

Ela sempre foi a menina mais alta da turma, com seus cabelos acobreados e olhos castanhos e a boca carnuda, ela é toda cheia de sarda mas a gente não pode comentar nada porque ela não gosta.

Me chamo Rona, tenho um corpo completamente normal - tirando meu peito que resolveu EXPLODIR essas férias -, meu cabelo é tão preto que as vezes parece azul e eu gosto de usar ele preso, embora a Pamela adore o quão comprido ele é. Eu deixei ele chegar na cintura essas férias, a Pamela implorou. Tenho olhos muito azuis - parece às vezes que tem pintas marrons -, o que é bem ruim se você morar numa cidade ensolarada como a minha, pois minha vista dói.

Eu canto desde os 10 anos. A Pamela - sempre - diz que vou ser famosa, "tipo a Amy Winehouse.", ela diz. Mas eu não quero estar morta antes dos 30 ou fazer tatuagens e eu gosto de pensar nisso tudo como um "hobby" e não algo que eu precise fazer para o resto da vida, sem contar que sempre dá uma grana legal nas férias.

Aliás, meu irmão mais velho, Varg, é tatuador, ele manda muito bem e disse que já posso fazer algumas se eu quiser mas... bem, simplesmente não.

Eu não tenho mãe, quer dizer, eu já tive. Mas ela morreu em um acidente de carro quando eu tinha 3 anos então eu não me lembro dela, mas nós somos bem iguais, sua boca parecia um coração e o lábio inferior era cheio, como os meus... ela se chamava Rebeka.

Meu pai, Haakon, ele veio de Tromsø - perdidos da Geografia: fica na Noruega -, eles se conheceram quando a mamãe foi fazer intercâmbio, acabaram se casando e papai se apaixonou pelo clima daqui (pois é, eu sei!) e cá estamos nós.

Meu pai está na fase de deixar a barba crescer para combinar com o cabelo, como ele sempre diz. A barba é uma mistura de loiro e ruivo bem forte. Acho que quando meu pai era jovem era muito bonito, de verdade. Meu irmão parece com meu pai, até o humor meio esquisito e instável.

Esse ano papai diz que tenho que me empenhar mais no canto e procurar alguns eventos para que as pessoas saibam quem eu sou, isso é, se for isso mesmo que eu quero para minha vida. (Lembra que eu falei do "hobby"? Nunca contei exatamente isso para meu pai, e, as vezes faço mais isso por ele)

Ele diz que mamãe queria que eu fizesse oceanografia, já pesquisei e parece bem complexo para quem não é tão excepcional na escola e tem medo de água.

De qualquer forma, Pamela conversou com seu pai e hoje a noite (último dia do descanso antes das aulas! Alô, outono!) vou cantar no clube deles, vai ter uma festa de debutante (de gente rica) e a banda gostou do meu estilo.

Boa sorte, Rona.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora