o dinheiro importa

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Na véspera de Ano Novo estávamos todos na varanda da casa. As luzes de enfeite da cidade inteira estavam acesas.

Vovó tinha preparado uma torta de morangos, de laranja e baunilha e muitas trufas de licor. Havia vinho quente, Aquavit e vodka. E, muito peixe.

Era ótimo que Olívio não se importava com nossos pratos típicos e ainda se interessava em aprender. Ele se daria muito bem em gastronomia.

Ele estava dormindo no mesmo quarto de papai e Varg, o que de alguma forma, me deixava mais ansiosa que nunca para podermos nos mudar.

- Acho que estou zonzo de tanto aquavit que seu avô e seu pai me deram... - anunciou Olívio depois do jantar, com a voz um pouco embargada, me fazendo rir.

- Eu disse pra você recusar educadamente!

- Acho que seu avô começou a me xingar, tive que aceitar! - nós estávamos sentados na varanda, no grande balanço de madeira e lã.

"Ei. Feliz ano novo!" era Fábio.

"Falta uma hora! lol"

"Você vai ver o primeiro dia do ano antes de mim."

"Voltamos no tempo Marty?" - ri, fazendo referência ao filme De volta para o futuro.

"lol!!!"

"Como estão as coisas por aí?"

"De boa" ele enviou um gif de um bebê chorando.

- É a Pamela? - perguntou Olívio, com a cabeça apoiada no banco e apenas um olho aberto para mim e o celular.

- Fábio. - respondi, ele se endireitou no balanço. - Ele se confundiu com o fuso horário.

- Claro... - respondeu ele, em um resmungo. Eu lhe dei um beijo no rosto. - Acho que tenho muito ciúmes dele.

- Não deveria. - ri. Ele me olhou, franzindo a testa. - Não ficou claro que eu gosto de homens mais velhos? - dei de ombros, ele riu alto.

- Uma deusa forte e poderosa atraída por um cara mais velho com um futuro duvidoso pela frente.

- Você deveria investir em gastronomia, sabe. O que? Não me olhe assim. Você cozinha muito bem e é algo que vejo que você gosta.

- Meu pai nunca deixaria que eu largasse os negócios dele para virar cozinheiro. - suspirou ele, olhando para as montanhas, pensativo.

- Isso não deveria importar.

- Isso não daria dinheiro.

- E você precisa viver com a quantidade de dinheiro que tem hoje? Digo, você não viveria feliz com menos? - pensei no meu futuro. Professora e cantora nas horas vagas. Eu nunca teria uma condição financeira igual a de sua família. Ele me deu um beijo.

- Se eu viver com você, eu serei feliz de qualquer jeito. Mas quero poder te dar uma vida boa, se você um dia decidir ficar comigo pra sempre. - ele riu de leve.

- Então você tem que decidir o que quer, eu acho. Se preocupar com o que você precisa mais do que teria a oferecer, talvez... eu aprendi com meu pai que não se precisa de muito pra se sentir transbordado. - suspirei, deixando o celular de lado, diversas mensagens de Fábio chegavam. Olívio ficou em silêncio alguns segundos, olhando novamente para o horizonte cheio de branco e luzes.

Antes do jantar, nós fomos ver o fenômeno da aurora bureal, o que, posso dizer com toda certeza, sempre arranca meu fôlego e vi arrancar o de Olívio também.

São coisas indescritíveis que todo ser humano deve vivenciar e nós ficamos horas por ali.

Meu primo, tio, papai e Varg compraram muitos fogos de artifício e, no momento da virada de ano, todos nós nos juntamos para observar. Era um costume do vilarejo e muitas outras famílias também faziam o mesmo.

O céu muito escuro, se iluminando com luzes barulhentas e perfeitas, que fazem nossos olhos brilhar e o coração bater em um ritmo acelerado conforme elas estouram.

Nós nos abraçamos, comemorando a chegada de um novo ano com - adivinha? - aquavit.

Papai abraçara Olívio pelo ombro, também um pouco embriagado, eles cantavam alto "Wind of changes".

De fato, seria um ano de mais mudanças.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora