fofoca

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A semana de ação de graças em casa foi ótimo. Eu consegui descansar e encontrei com Olívio todos os dias.

Na quinta feira do feriado, ele me chamou para acompanhá-lo para comprar coisas do apartamento. Como roupa de banho, talheres, essas coisas. E eu pude escolher absolutamente tudo!

- A Eliza não está achando suspeito? A gente saindo todo dia e ficando algumas horas fora? - indaguei, enquanto colocávamos as sacolas dentro do carro.

- Ela acha que estamos na sua casa. - respondeu.

- Meu irmão está passando os dias de folga na Aline. Você... sei lá, você não quer jantar em casa hoje? - perguntei, fechando o porta malas, ele tinha um sorriso leve no rosto.

- Vai ser miojo? - ele fez uma careta.

- Claro que sim.

- Meu prato preferido. Então, eu vou!

O apartamento tinha muito a nossa personalidade. Tinha coisas relacionadas ao que eu gostava e ao que ele gostava. Colocamos pôsteres emoldurados de nossas bandas preferidas na parede com pé direito alto da sala, por exemplo.

No quarto, Olívio me deixou pendurar um varal de luzes sob a cama, onde deveríamos colocar fotos nossas penduradas.

Nossa despensa da cozinha não era muito saudável, pelo menos por enquanto, havia muito salgadinho, manteiga de amendoim e bolachas. Mas, a gente ainda não sabia quando iríamos pra lá, certo?

Mandei mensagem para papai, se eu podia levar uma visita para jantar à noite.

"É claro! Estou fazendo meu famoso risotto de frutos do mar."

"Eu nunca conheci seu risoto de frutos do mar lol"

"Você deve ser a única"

Ao chegarmos ainda de tarde na minha casa, o carro de Fábio estava parado ali. Olívio me entreolhou, eu dei de ombros.

- Não se preocupa, tá? A gente se vê à noite? - sorri, lhe dando beijos no rosto e na boca.

- Fica de olho, tá? Sei que ele ainda é seu amigo e pode ser um cara legal mas... ele não deveria ficar sondando, meio estranho. - ele encarava o carro.

- Ei. Eu também sou estranha. - ri, puxando minha bolsa velha do banco de trás.

- Você é perfeita. - disse, segurando meu rosto entre suas mãos e me beijando. - Em duas horas estou aqui, acha que está bom?

- Não se atrase.

- Eu não me atraso. - bufou, revirando os olhos.

Eu saí do carro, já em direção ao carro de Fábio. Ouvi quando ele destrancou a porta.

- Olá! - disse, antes mesmo de fechar a porta ao entrar.

- E aí?

- E aí? - repeti, rindo. - Estava ajudando Olívio arrumar algumas coisas. Tá tudo bem? - eu notei que Olívio ainda não tinha saído com o carro.

- Você sabia que ele usa drogas? - eu sabia de quem ele estava falando.

- Quem? - ele me olhou, sério.

- Ele. Olívio. - ele indicou com a cabeça o carro de Olívio, ainda parado ali, suas mãos estavam no volante.

- Sabia. E ele não usa mais. - respondi, ele riu sarcástico.

- Ele e um amiguinho dele VENDE para algumas pessoas do nosso colégio e os colégios particulares da região, você sabia disso também? - eu fiquei em silêncio.

- Quem te disse isso? - minha voz falhou, Olívio nunca tinha me dito nada sobre isso. Mas nunca duvidei de Henrique.

- A Samanta, eu já vi os três juntos.

- A Samanta? Ela também usa drogas, é isso? - ele bateu de leve no volante.

- Não é possível que seja tão ingênua, Rona. Você sabia que tem fotos da irmã dele pelada em vários telefones de caras do time?

- Eu não acho que isso seja algo que eu queira saber ou que me importe, Fábio. - retruquei. - E isso também não deveria te importar, afinal você está ficando com a irmã dele, não está? - Meu celular vibrou.

"Tá tudo bem aí?" era Olívio, não dava para vê-lo ali daquela distância.

"Sim!"

- Eu gosto de você, Rona. - disse Fábio, olhando pra frente.

- Eu também gosto de você, Fábio. Mas não entendo por que vo...

- Eu estou dizendo que eu ainda gosto de você. - ele olhou fixo pra mim. - Você nunca foi grossa comigo, você me ouve, você é a única pessoa que eu tenho

- Fábio, eu nã...

- Deixa eu terminar, tá?

- Desculpe.

- Eu não quero ver você acompanhada de pessoas assim. A família dele vai ficar com você por perto só até você dar grana pra eles. Os shows, lembra? É o início, Rona. E aí você vai ver, cara! Eles vão te abandonar. Essa gente sempre faz esse tipo de coisa...

- Essa "gente"? Fábio, Eliza é minha amiga! Olivio é... - eu parei, pensando. - Esquece isso, tá legal? Eu já sou bem grandinha e sei cuidar de mim.

- Não é o que parece.

- Desculpa? Como é?

- Qual é? Todo mundo sacou que vocês saíram pra transar no sábado na casa deles. Você não percebe mas eles já estão mudando você! - eu senti meu rosto arder e olhei pra baixo. - Você não era assim quando estava comigo.

- Fábio. Eu não vou discutir com você sobre o que eu faço da minha vida. Você é meu amigo e eu sou sua amiga. Nós somos amigos agora. E por mais que eu goste de você, você tem que respeitar, tá legal? - disse, firme olhando para ele.

Nós ficamos em silêncio alguns instantes.

- Ele não vai sair dali, não? - disse, apontando com o queixo o carro de Olívio, que ainda estava ali.

- Ele não confia muito em você.

- Há!

- Devo te lembrar que foi ele quem me buscou naquela noite da festa.

- Então por minha causa que ele foi te buscar?

- Deve ser.

- Você não vê que ele tem que ficar te vigiando? - ele aumentou um pouco o tom de voz, eu respirei fundo. Talvez tinha muito mais de meu pai em mim do que eu supunha.

- Eu vou sair do carro agora. Tem algo mais que você queira me dizer ou insultar? - disse, ríspida. Ele olhava sério, pra frente, sem me encarar. - Ok. Obrigada por sua visita. - eu saí do carro. Acenando para Olívio em seguida e entrando no apartamento.

Os dois saíram em disparada, um para cada canto.

Enquanto subia, tentava colocar em palavras aquilo que estava me consumindo e tinha escutado há pouco.

"Você quer me contar algo sobre vender drogas para adolescentes?" mandei para Olívio, fechando a porta de casa.

Meu nome é RonaOnde histórias criam vida. Descubra agora