TRINTA E UM

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Lalisa Manoban Pov.

A semana passa em um borrão de longas horas de muita ocupação. Nos dias úteis, Roseanne e eu trabalhamos muito no escritório, os modelos perfeitos de liderança eficiente. Mas nós nos paqueramos e beijamos a cada oportunidade, e aproveitamos com muito carinho as nossas noites juntas. Pela primeira vez em muito tempo, a P&M não é a única coisa acontecendo na minha vida, tem algo a mais.

Escuto uma batida familiar na porta do meu escritório aberta, e eu olho pra cima do meu computador.  Roseanne se inclina contra o batente da porta.

Ei, gatinha. Você tá com fome?

— Isso é uma indireta, ou você está falando sobre fome de comida mesmo? — Eu respondo com uma sobrancelha levantada. Se ela me perguntar se eu quero uma bela e grande salsicha, eu juro por Deus...

— Vou aceitar o que eu conseguir. —  Roseanne ri. — Mas não, eu queria saber se você não quer sair pra almoçar mais cedo. Eu queria perguntar a sua opinião profissional sobre algumas coisas.

Eu considero. Por um lado, estou no meio de uma coisa. Por outro lado, também estou ficando com fome. Eu verifico o meu relógio. Com certeza, é hora do almoço. E nós falaremos de negócios, enquanto comemos...

Por que não? Decidindo que esse relatório pode esperar pra ser feito outra hora, eu empurro minha cadeira pra trás e levanto.

— Eu posso ir agora mesmo, se você já tiver pronta. Na verdade, tenho algumas coisas que eu queria perguntar também.

Pegamos o elevador até o lobby. O clima está agradável, então decidimos caminhar até um pequeno, mas ainda elegante, sushi bar cerca de uma quadra do escritório. Todo o caminho até lá tentamos arrumar alguma desculpa pra nos tocarmos – as costas das mãos se encostam, quadris "acidentalmente" esbarram, cutucões no ombro brincalhão, apertos afetuosos rápidos em torno da cintura.

A recepcionista nos senta em uma mesa aconchegante pra dois, longe da agitação da janela.

Assim que recebemos nossas bebidas, eu pergunto a Roseanne:

— Então você queria me perguntar alguma coisa?

Ela acena sua mão.

— Vai você primeiro.

— Bem — Eu começo, encostando em minha cadeira — Tô um pouco preocupada com o retiro desse ano. — Normalmente, a cada inverno nós vamos a um lugar tropical, e sempre convidamos os executivos de nossos clientes mais valiosos. Tudo parte da manutenção de imagem do serviço personalizado e de luxo da P&M. — Eu só não acho que podemos pagar por isso agora. E mesmo se pudermos, isso vai deixar as coisas muito apertadas...

Espero que Roseanne se oponha. Ou pelo menos faça uma insinuação sobre como ela gosta de lidar com "coisas apertadas". Eventos como esse são sempre ótimas oportunidades de fazer networking. E, se nos desviarmos da nossa rotina habitual, os clientes podem ficar desconfiados sobre as nossas finanças. A última coisa que precisamos é de uma repetição do pânico da Red Dog Optics do último mês.

Mas Roseanne me surpreende quando responde:

— Então vamos cancelar esse ano. Nossos funcionários vão entender, e nós podemos encontrar alguma outra maneira de agradar nossos clientes.

Eu pisco, o chá gelado para no meio do caminho pra minha boca.

— Isso é exatamente o que eu tava pensando. Você leu minha mente.

Desde que nos aproximamos até agora eu já vi o seu sorriso travesso um milhão de vezes, mas ainda envia um formigamento sutil na minha espinha quando ela ronrona:

Imperfect Love (chaelisa gp)Onde histórias criam vida. Descubra agora