Meu Lobo

Capítulo 13

Amim já estava sentado na mesa em seu lugar de sempre. Ele olhou para mim e sorriu, eu corei.

-Minha Rainha, fico feliz por vocês dois. Desde pequenos seus pais ansiavam por vocês ficarem juntos, tenho certeza que eles estão felizes agora.

Meus olhos se encheram de lágrimas assim como os de Amim. Eu corri para abraçá-lo.

-Obrigada Amim.

Ele me abraçou e acariciou meus cabelos

-Ei, é só eu virar as costas um minuto que já tem algum macho agarrando a minha fêmea?

-Vá se acostumando pequeno lobo, sua rainha é bem requerida por muitos.

Alec rosnou fazendo Amim dar um tapa em sua cabeça.

-Não rosne para mim filhote. Agora vamos almoçar.

-Ai! Eu não sou mais um filhote Amim – Alec resmungou passando a mão na cabeça.

-Pra mim você sempre vai ser.

Esses dois eram como pai e filho. Amim adotou Alec quando ele tinha 2 anos, logo após seus pais falecerem em uma guerra contra outros de sua espécie. Alec era um dos únicos de sua espécie que não tinha irmãos. E como Amim morava com a gente meus pais o acolheu também e acabou tratando Alec como seu próprio filho, o que nos fez crescer juntos. Isso aconteceu logo quando eu e Gulliver nascemos.

Meus pais contavam que Alec dormia em sua forma de lobo embaixo do meu berço, e que sempre que tentavam tirá-lo para colocá-lo em sua própria cama ele rosnava. Até que depois de um tempo ele começou a dormir na parte de cima quando eu já havia trocado o berço pela cama. Minha mãe falava que não entendia como Alec conseguia dormir comigo já que eu dormia praticamente em cima dele sempre, isso quando Gulliver não estava no meio e não dava para diferenciar quem era quem pois dormíamos um em cima do outro.

-Amim, você descobriu alguma coisa com os Argaliotes?

-Não Alec, estive lá mais cedo, mas eles se assustaram com o que está acontecendo e me falaram que irão investigar em seus livros e tudo mais. Nem mesmo o ancião sabe algo sobre isso.

-Pode ser que não seja nada, ou talvez que meu corpo esteja sentindo falta do meu irmão. Todos sabem que é bem raro minha espécie ter filhos gêmeos, e quando temos compartilhamos nossa alma.

-Eu pensei nisso Minha Rainha, mas mesmo assim não se sabe sobre um dos gêmeos ser afetado desse jeito.

-Certo, quando os Argaliotes derem notícias você nos avisa Amim, agora vamos comer que estou faminto.

-Como sempre filhote.

Nós almoçamos calmamente e eu fui para o jardim pois Alec e Amim tinham ido resolver algumas coisas em outro mundo, dando a desculpa que eu precisava descansar devido ao meu segundo desmaio ontem. Ninguém merece, esses dois se uniam contra mim sempre.

Eu estava no jardim quando escutei um barulho, minha cabeça começou a doer. Uma voz soou forte, meu nome foi chamado. Gulliver, era a voz do meu irmão. Eu me foquei em sentir sua presença e sai correndo, mas meu corpo me levou para o subsolo onde ficava a porta que trancava Gulliver, tentei abri-la mas eu já sabia que ela não iria se mover, não era o dia de eu visitar meu irmão.

-Irmão - eu gritei, mas ninguém respondeu.

Eu me sentei encostada na porta e as lágrimas escorreram. Porque eu escutei a voz dele se ainda não é a hora dele acordar. Tudo que eu mais queria era que meu irmão acordasse, mas ninguém sabia quando isso iria acontecer.

Eu preciso fazer alguma coisa, sei que não é normal o que está acontecendo comigo. Não posso ficar sentada chorando igual quando tudo aconteceu. Foi aí que tive a brilhante ideia de ir para o mundo sombrio e procurar o lugar do meu sonho do último desmaio. Eu iria agora e voltaria antes que aqueles dois voltassem e me dessem um xingo daqueles.

Cheguei ao mundo sombrio e comecei a tossir devido ao ar seco daquele lugar. Tudo era horrível aqui, não dava para se ver muito longe pois a densa neblina e a escuridão avermelhada daquele lugar não permitiam. Eu foquei minha visão me fazendo enxergar mais longe. Não era esse o lugar, então fechei meus olhos e me forcei a focar naquele sonho, quando os abri novamente eu pude ver a árvore seca e seus galhos pontiagudos parecendo garras. Me aproximei mais e encostei na árvore.

-Aaah – eu gritei caindo de joelhos agarrando minha cabeça.

Uma dor terrível me atingiu, eu comecei a tremer e um barulho que eu não conseguia distinguir ficava mais alto na minha cabeça.

-Alteza – pude escutar uma voz me chamando em meio ao barulho. Branco, penas brancas, uma figura humana eu consegui distinguir um pouco.

-Nos leve de volta alteza – a voz chegou a mim de novo, mas eu apaguei.

Calor, vozes gritavam, algo cobria meus olhos. Eu tentei me mexer mas escutei um rosnado e o calor passou. Tirei o que estava tampando meus olhos e vi Amim em pé ao meu lado e um lobo negro do meu outro lado.

-Minha rainha?

-Estou bem Amim e Alec – eu me sentei com calma.

Eu estava na minha cama, o que tinha acontecido? Comecei a me lembrar do mundo sombrio.

-Como eu cheguei aqui?

-Minha Rainha, o guerreiro Nathaniel te trouxe.

Eu levantei a cabeça e pude ver alguém vestido de prata, branco e vermelho da cabeça aos pés, seus olhos verdes me olhavam assustados, ele era alto e suas asas brancas e vermelhas brilhavam, eram lindas, pareciam muito macias, eu queria tocá-las.

Alec rosnou ao meu lado e eu percebi que tinha levantado a mão tentando alcançar aquela criatura que estava do outro lado do quarto. Eu agarrei os pelos do pescoço de Alec e comecei a acariciar sua cabeça.

-O que aconteceu? Quem é você?

-Vossa alteza, meu nome é Nathaniel, sou um guerreiro da espécie dos alados. Escutei um grito no mundo sombrio e te encontrei em meio a algo que formava uma barreira em volta de você. Parecia uma árvore, mas seus galhos pareciam garras pontiagudas que tentavam te atingir, eu pedi para que você nos trouxesse de volta e você conseguiu antes de desmaiar.

Quando ele falou notei que o vermelho que eu pensava ser de suas roupas era sangue. Ele tinha múltiplos cortes ao longo de todo corpo e suas asas estavam bem machucadas.