(a ilustração da capa foi feita por mim)
O chacoalhar do trem embalou Alex até que pegasse em um sono leve e conturbado. Deitada no sujo chão do vagão e usando sua única mochila como travesseiro, encolheu seu corpo o máximo que conseguia para proteger-se da fria brisa que entrava pela janela.
As luzes estavam apagadas, mas a luz da lua entrava por onde pudesse. Tirando o barulho do trem, ouviam-se apenas cochichos quase inaudíveis dos outros passageiros.
Ivan sentiu sono, mas não conseguia dormir. Em todo o caso, passou um dos braços por cima da irmã, para senti-la por perto caso cedesse ao cansaço. Com a cabeça encostada na parede, olhava para fora. Árvores mergulhadas na escuridão dariam calafrios em qualquer um.
Perguntou-se onde estariam e quanto tempo levariam até chegar em Aracê. Nunca, em seus quase dezoito anos, teve a oportunidade de explorar nada além das fronteiras de Amanaci, mesmo que para as cidades vizinhas.
Como podia ter entrado em um trem sem saber ao certo seu destino? Para onde dariam esses trilhos que os afastavam mais e mais dos entes queridos? Sem ao menos saber o que fariam quando chegassem? E de repente, lembrou da resposta estampada no rosto de seus pais. Desespero.
Afastou seus rostos dos pensamentos por um instante, fechou os olhos e tentou adormecer. As preocupações ficariam para o dia seguinte.
○
O trem parou bruscamente e os irmãos acordaram com um susto. Ao redor deles, o murmúrio das outras crianças quebrava o silêncio.
Alex imediatamente se levantou e olhou para fora. Nada. Não conseguia enxergar nada a mais de cinco metros de distância para nenhum dos lados. A não ser pelas sombras que se moviam. Silhuetas humanas. A garota deu um salto para trás, assustada.
— O que foi? - Ivan olhava para o rosto branco da irmã e logo em seguida todos estavam grudados na janela a procura de algo.
— Eu vi alguém. - Disse, dando mais e mais passos para longe da porta.
Ivan se levantou e fez uma concha com as mãos, apoiando-as no vidro para olhar para fora.
— Não tem nada aqui, Alex. - Ao ver a expressão no rosto da irmã, soube que ela não estava convencida.
— Eu vi alguém!
As outras crianças começaram a olhar para eles.
— Sabe, nossa mente nos prega várias peças quando estamos com medo, ainda mais no escuro. Não acho que...
Um som alto não o deixou terminar. Algo como um rojão cortando o ar. Algo como um tiro.
Todos se abaixaram e gritaram, automaticamente. Ivan trocou olhares com a irmã, agora compartilhando de seu mesmo medo.
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Depois da Ruína
AdventureDurante a pandemia de um vírus mortal que assola o mundo, os irmãos Annenberg, Alex e Ivan, deixam a vida como conhecem e mergulham de cabeça no desconhecido. A questão permanece - que destino terá a humanidade depois da ruína? ○ História Original;...