○37. - Bambuzal

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(ilustração - Lídia)


Lídia leva as mãos ao coração ouvindo o relato do menino Vítor.

— Miguel? - Ela precisa confirmar.

Ivan nem esperou o garoto entrar para dobrar o mais rápido possível a planta do bunker, percebendo que algo estava errado. Levi o ajuda do outro lado.

Do lado de fora, começam a escutar o caos crescente.

— Temos que dar o fora daqui. - Ivan coloca a mochila com os arquivos da mãe nas costas e pega a mão de Júlia, a puxando para a saída, esperando que os outros os sigam.

Júlia está pasma. Toda a esperança dela estava em descansarem naquele pacífico lugar antes de terem que enfrentar a morte, mas ela veio ao encontro deles. Não estão prontos para lidar com os soldados agora. Corre atrás de Ivan pelo extenso corredor. Espera que as crianças tenham ganhado minutos valiosos para eles.

Lídia não move um dedo. A afeição que criara por Miguel é como a de uma mãe, uma irmã. Maia a tira do estado de transe pegando em sua mão, o desespero em seus olhos. Não podem ficar ali.

— Vamos atrás de Miguel, eu prometo, mas temos que sair daqui! - Ela confirma com a cabeça e deixa a garota toma-la em direção à saída. Eduardo segue a sobrinha.

Naomi toma uma atitude. Engatilha o rifle, antes jogado junto com as armas e mochilas no canto da sala, e o joga para Rafael, que a escuta com atenção.

— Tire todos daqui. Não importa pra onde. Alex e Nicolas também. Deixem o walk talk em mãos. Vamos logo atrás.

— O que vai fazer?

Ela puxa a própria arma.

— Atrasá-los.

— Ficou louca?!

— Vai! - Ela grita com Rafa, que não hesita um segundo a mais. Suas ordens estão dadas. Alex e Nicolas o seguem sem questionar, ambos mantendo-se sempre lado a lado.

Os que sobram na sala se entreolham, as próprias armas em mãos.

— Como vamos fazer isso? - Lucas pergunta. Eles estão em óbvia desvantagem em relação ao território. A luz do dia não os protegerá e não sabem quantos são os que vem por aí.

— Ainda não faço ideia. - Ela engatilha o próprio rifle. O som da arma a causa um bom arrepio, uma necessidade de puxar o gatilho. - Só precisamos tirar todos daqui antes de dar merda.

— Eles vão vir direto pra sede, vamos dar o fora e dar um jeito de cercá-los. - Levi propõe, já saindo da saleta. O familiar som de tiros e gritos ao longe inicia-se. O tempo está correndo.

x

Rafael sai do casarão da sede observando com a respiração ofegante as pessoas subirem o morro, do lago até o restante do sítio. As árvores os abrigarão logo.

O som dos tiros aproxima-se deles, e tudo o que precisa fazer é seguir na direção oposta com todos que conseguir em seu encalço, mas os gritos de súplica pela vida o faz querer correr diretamente na direção do perigo, vingando todo o seu povo. Vingando Murilo.

Alex e Nicolas seguem logo atrás. Alex saca a arma da bainha da calça - já lhe fora útil antes, mesmo que por sorte. Ela vê o estado de Rafael e decifra seus pensamentos. Agarra seu antebraço e o puxa na direção contrária, passando a mensagem que gostaria - precisam sair dali. Os amigos os atrasariam, mas sem Rafael eles afundariam naquela imensidão da floresta perdidos até o pior os encontrar.

Depois da RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora