(a ilustração da capa é de minha autoria - Rafael)
— Eu não sei nada sobre vocês.
Diego, parcialmente recuperado depois de uma noite de sono, decide quebrar o silêncio enquanto Alex gentilmente limpa seu ferimento.
— O quê? - Maia, com o rosto ainda amassado e os cabelos desgrenhados, pergunta deitada no sofá.
— É claro que sabe, cara. - Murilo corta com uma faca uma maçã que achou na pilha de alimentos da saleta.
— Não, não sei do passado de nenhum de vocês.
O passado. Ninguém gosta de tocar nesse assunto.
— Por que essa agora? - Rafael ainda se recupera da noite anterior, mais abalado do que achou que estaria.
— Logo antes de eu ser baleado, eu... Me dei conta que nunca falamos sobre isso. E vocês são a única família que me restou. Eu quase morri ontem, e eu não quero correr o risco de novo sem saber quem são as pessoas que eu amo.
— Awn.— Maia se senta no sofá, espreguiçando-se com um bocejo. - Você ama a gente.
Ela faz uma expressão fofa com o rosto, que desperta risadas em todos.
— É, não vou dizer de novo. Mas sério, o que você fazia antes?
— Bom, - Maia abraça a perna e encara o teto, pensativa. - Eu tinha meus doze aninhos, fiz aniversário de quarentena, foi uma bosta.
Os outros se entretém com a história.
— Eu, minha mãe e meu padrasto morávamos perto do porto. Meu pai deixou a gente assim que eu nasci. Minha mãe estava grávida durante a quarentena, ia nascer dois meses depois. Mas as coisas não melhoraram, como podem ver. - Maia tenta sorrir, mas sai apenas um sorriso triste.
— Me conta algo feliz. - Diego insiste.
— Tá, deixa eu pensar. - Ela coça a nuca. - Eu era uma ótima bailarina.
— Sério? - Rafael pergunta, rindo incrédulo.
— É claro! Por que é difícil de acreditar?
— Você é... Sabe? A Maia. Meio ogra.
— Uma coisa não exclui a outra, eu dançava bem pra caralho. Às vezes, quando bate a saudade, eu ainda danço escondida no pomar. E eu nunca contei isso pra ninguém. É isso.
Ela consegue arrancar risadas e sorrisos de todos.
— Ok, minha vez. - Diz Murilo, com a boca cheia de maçã farinhenta.
— Nossa vez. - Rafael se aconchega no lugar. O papo o entretendo.
— A gente não nasceu grudado, criatura. Só porque você tem a mesma cara que eu, não significa que a gente tinha a mesma vida.
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Depois da Ruína
AdventureDurante a pandemia de um vírus mortal que assola o mundo, os irmãos Annenberg, Alex e Ivan, deixam a vida como conhecem e mergulham de cabeça no desconhecido. A questão permanece - que destino terá a humanidade depois da ruína? ○ História Original;...