○35. - Nascer, Morrer, Renascer

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(a ilustração do capítulo é de autoria minha - Ivan)


A luz do dia começa a surgir no horizonte. Alex nem pregara os olhos à noite, e suas carregadas olheiras deixam isso evidente. Nem Nicolas. A emoção que ambos sentem ao ver o outro - parcialmente - inteiro é de encher o peito.

Sentados junto ao grupo que dorme pesado, acomodam-se próximos o suficiente para conversar sem acordar ninguém.

Os olhos de Alex estão carregados de remorso. Aproveita ter o porto seguro novamente ao seu lado para chorar toda a dor do peito, como sempre fez.

— O que foi? - Nicolas a acolhe nos braços, passando as mãos nas costas da garota como se consolasse uma criança. A puxa para mais perto.

— Não acredito que fizeram isso com você por minha causa. - Ela seca as lágrimas. Está melhorando em contê-las.

— Ah, para com isso. Foi um prazer.

— Cala a boca.

— É sério! Eu não apanharia assim por mais ninguém. - Ele consegue arrancar um sorriso da amiga. - E eu meio que não estaria aqui também.

— Às vezes eu acho que talvez as pessoas do bunker estejam mais seguras. - Ela puxa seus cabelos para trás, amarrando em um nó acima da cabeça. Precisa cortá-los.

— Talvez, mas a que custo? Estão todas com os dias contados, não estão?

Atrás deles, Eduardo delicadamente acorda um por um, oferecendo um pouco de água e um ombro amigo.

— Estou feliz que esteja aqui. Apesar do custo. - Ela diz. Pela primeira vez em dias se sente ela mesma, completa.

— Eu também, não importa o custo. - Ele dá um beijo na testa de Alex, como costumava fazer. - Estão levantando acampamento. Vamos ajudar?

Ela concorda. Mais um dia de jornada se inicia.




Em incansáveis turnos, os soldados do governo rondam todos os trilhos de trem possíveis à procura dos fugitivos. Escaparam por entre seus dedos como água.

A humilhação e raiva que sentem é justificável, ainda mais porque toda a culpa recairá sobre eles. Amélia não perdoaria, e o general sabe.

Prestes a perder a paciência, a noite quase findando, o general recebe um chamado no rádio. A voz do subordinado diz as palavras que fazem seu dia.

O trem havia sido encontrado durante a madrugada próximo à costa leste, em um trilho em obras inacabadas.

O general sorri de modo maldoso.

Sabem por onde começar.




— Sabe pra onde está indo? - Júlia pergunta a Rafael, que anda na frente do grupo, agora maior e unido.

— Bom, faz um ano já. Eu estou calculando com base onde eu acho que ficava o abrigo. Isso não é muito reconfortante, é?

Júlia ri.

— Confio em você.

— É, isso também não.

Eles continuam andando lado a lado, em silêncio.

Depois da RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora