○38. - Casarão

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(ilustração - Maia)


Aos prantos, Lídia ampara o garoto ferido. Miguel, cobrindo o sangue que insiste em jorrar de seu pescoço, olha desesperadamente para a ruiva que não tem reação a não ser apertar suas mãos contra as dele, tentando estancar o sangue, forçando a vista a focar através das lágrimas.

Maia já está com a arma nas mãos de volta, enquanto Nicolas e Alex só permanecem parados, forçando a vista à procura do atirador.

Ivan aparece um segundo depois, ofegante.

Maia abaixa a guarda e puxa o amigo para um abraço, agradecendo-o, o sangue do homem escorrendo por entre os pés de ambos.

Alex se abaixa ao lado de Lídia e Miguel.

— O que eu faço? – A voz da ruiva tenta se manter controlada, mas denota ansiedade e medo.

Alex retira as mãos de Lídia do pescoço do garoto, depois as dele, devagar.

Observa a situação do ferimento. No canto esquerdo de seu pescoço a faca penetrara o suficiente para provocar um sangramento excessivo, mas o corte não será fatal se conseguirem estancá-lo.

Nicolas coloca a garotinha no chão, que protesta. Lídia está lá para ela, um rosto conhecido.

Nic rasga a manga da blusa, deixando o braço exposto, e estende o retalho para Alex. A garota nem o olha quando o pega entre as mãos, concentrada no garoto. Amarra o trapo no pescoço de Miguel, somente apertado o suficiente para estancar o sangue provisoriamente.

— Merda. – Ela diz.

— O que foi? – Nic pergunta.

— Deixei a mochila com os primeiros socorros na casa. – Ela cerra as sobrancelhas, frustrada. – Se eu não cuidar disso, vai infeccionar.

— Não dá pra voltar. – Ivan diz, com pesar. – Agora não dá. Vamos limpar de outro jeito, ainda temos água.

— Isso vai infeccionar. Não temos uma gaze limpa, um soro pra desinfetar...

Lídia está com o coração na mão, pensativa.

— Eu vou.

— Sem chance. – Maia a repreende.

— Não vou deixar ele morrer se eu posso fazer alguma coisa pra ajudar.

— Ele não vai morrer. Não é, Alex?

A garota olha de uma para outra. Não pode prometer nada.

— Não precisamos ir até lá. – Ivan pronuncia-se na conversa. – Se tudo der certo, vamos pegar tudo o que precisamos do bunker. Eles vão ter os melhores medicamentos.

Alex se lembra do hospital onde trabalhava com Ava. Com certeza o garoto teria os melhores cuidados lá.

— Têm razão. – Ela tranquiliza a ruiva.

Miguel se comunica com ela, fazendo os sinais com as mãos. Abre um sorriso fraco.

"Vou ficar bem".

Lídia respira fundo e tenta sorrir de volta.

— Ok, vamos dar o fora daqui.

X

Como uma batalha por território, os cinco – Diego, Levi, Naomi, Cauã e Gael – escondem-se estrategicamente pelo campo, como uma barreira contra os inimigos. A munição não é contida. Raiva sai de cada um dos canos das armas.

Naomi, estratégica como sempre, olha por entre as janelas do casarão, parando de alçar fogo. Não estão mais lá. Eram poucos, talvez pouco mais que os cinco ali, mas ela sabe que mais virão. Pega o walk talk e chama incessantemente pela outra linha.

Depois da RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora