(ilustração - Júlia)
Ivan tomba sobre Júlia, os dois joelhos dobram, e ela o abraça. Os dois vão ao chão juntos. A dor no peito da loira é tamanha que nem mesmo sabe se vai conseguir respirar novamente. Espera que as balas tenham a atravessado também, mas a dor é diferente. Vêm de dentro.
Ela grita com o garoto ensanguentado em seus braços. Um grito que nunca imaginou sair de seus lábios. Não liga para o homem que aponta a arma para sua cabeça. Ele está há um instante de puxar o gatilho quando seu próprio crânio explode. Atrás dele, Alex empunha a arma com as mãos trêmulas.
— Alex? – A voz de Júlia falha.
As duas trocam um olhar pesaroso antes de o retornarem à Ivan. Seus corações despedaçados.
Júlia se senta no chão e, aos prantos, vira Ivan para ela com certa dificuldade e cuidado, o apoiando no braço e deixando sua cabeça sobre o ombro. O sangue quente que sai dos ferimentos em suas costas banham a roupa da garota.
Alex se mantém estática por um segundo, até finalmente tomar alguma providência e correr em direção aos dois. Ela se ajoelha devagar ao lado de Júlia, que não segura os gritos de dor que cortam a sala gelada. Ivan a puxa para mais perto, olhando dentro de seus olhos embaçados.
— Pare com isso. – Ele diz. Ivan não havia imaginado a morte assim. Imaginava que sentiria medo, mas a vida que viveu foi boa. Por causa dela. Deixara seu legado. – Esse é o melhor jeito de ir embora.
Ele seca as lágrimas de Júlia, que não consegue pronunciar uma só palavra, engasgada com tudo o que nunca disse.
— Protegendo a mulher que eu amo, nos braços dela.
Júlia lhe dá um beijo molhado, segurando os soluços por um segundo.
— Cuide dele. – Ele pega a mão de Júlia e a coloca sobre a barriga da garota, entrelaçando os dedos com os dela. – Vou estar sempre com vocês.
— Não posso... – Ela se esforça para falar. – Não sem você.
Ele deixa uma lágrima solitária escorrer. Alex a seca. Os olhos espantados, a boca semiaberta, mas a verdadeira reação ainda não chega para ela. Sente apenas como se um buraco a engolisse.
O irmão a olha e pega sua mão, apertando com a força que lhe resta. Faz seu último pedido.
— Cuide dela, tá bom?
Alex leva a mão à boca, contendo o sentimento. Ela promete com o olhar.
A mão de Ivan se afrouxa devagar da sua. Seu corpo pesa sobre o de Júlia, e ele lhe lança mais um profundo olhar, antes da vida fugir de seu corpo como água escorrendo por entre os dedos da garota.
Alex olha do imóvel irmão para Júlia, que desmorona em cima do corpo sem vida do homem que amou. Não sabe como reagir. A atmosfera inteira ao seu redor parece estar em silêncio, parada no tempo. Mais uma vez, sente como se tudo fosse o pior pesadelo de sua vida. Que aquela dor a acordaria de um sonho perturbado em seu colchão no setor A com o bip irritante do monitorador às 6:10. Mas não consegue acordar.
Um toque em seu ombro a tira do estado de transe. Ela olha por cima do próprio ombro. Diego a puxa pelo braço em direção à porta com tanta força que chega a machucar, arrancando antes a arma de Ivan e o walk talk preso em sua calça. Ela quase se esquece da guerra que estão travando. Pega a própria arma do chão e a guarda no lugar. Deixa que o amigo a guie para fora do casarão.
Braços fortes envolvem Júlia pela cintura, a tirando do chão. A tirando de perto do corpo do namorado.
A garota se debate, mas não consegue se livrar. Levi a segura com força, resistindo contra qualquer ofensiva da parte dela, ignorando a dor no corpo recentemente ferido. Segura os próprios sentimentos para senti-los mais tarde. Eles têm que sair de lá agora, e ele sabe. Júlia sabe, mas não consegue se importar.
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Depois da Ruína
AdventureDurante a pandemia de um vírus mortal que assola o mundo, os irmãos Annenberg, Alex e Ivan, deixam a vida como conhecem e mergulham de cabeça no desconhecido. A questão permanece - que destino terá a humanidade depois da ruína? ○ História Original;...