○6. - Duas da Manhã

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(a ilustração do capítulo foi feita por mim)

(a ilustração do capítulo foi feita por mim)

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1h38 da manhã. As luzes lá fora estão completamente apagadas. Silêncio.

Alex já está com as malas arrumadas com todas as suas tralhas. Se despediu de Ava e outros conhecidos do hospital horas antes. Deu um bom abraço nos breves amigos que fez, inclusive em Gabriel, com quem dividiria uma inusitada viagem até Anchorage. E é claro, em Nic. Ele apenas saiu dos aposentos da amiga às 22h20 em ponto, quando seu monitorador começou a apitar, alertando que já deveria ter se recolhido, ou providências seriam tomadas.

- Não quero ir sem você, Nic. - Ela disse, com os braços envoltos no pescoço do amigo.

- Não seja boba, você está tendo a oportunidade dos sonhos de qualquer um! - Mesmo empolgado, sua voz soava triste. - E, além do mais, eu sou rabudo. Vai ver, mês que vem ou o próximo eu já vou estar preparando café no seu novo cafofo.

Ela se lembra da conversa com pesar no coração. Não quer ir embora. Mas ao mesmo tempo quer tanto.

Não conhece vida fora de Amanaci, a pequena cidade da costa em que nascera. Está com o coração saindo pela boca só de pensar em pisar na neve.

1h42 da manhã.

Alex tem uma decisão e tanto para tomar antes de ir. Ela tira o chip do bolso e o roda entre os dedos. As palavras de Ricardo não saem de sua cabeça, e seu olhar logo após seu nome ser sorteado. Como ele sabia o nome dela? Teria o sorteio alguma coisa a ver com a garota correr perigo? Não, isso não é possível. Para isso ele teria que saber que ela seria sorteada. Sabia? Não, claro que não. Ou isso fazia parte do processo? Seria um teste? Se for um teste, ela deve ir ou não?

As perguntas se agitam tanto na cabeça da garota que ela precisa se levantar. Bebe um bom copo de água gelada e olha para o chip em suas mãos. Antes, ela não tinha nada a perder. Agora tem. Mas seu instinto de sobrevivência fala mais alto. Ela encaixa o chip bem nas costas do monitorador.

Nada acontece de imediato, o que a faz questionar se o que quer que ele tenha de fazer já está feito. Mas, no segundo seguinte, as luzes verdes de seu relógio ficam amarelas, com o escrito "inativo" piscando repetidas vezes, e uma contagem regressiva de exatos trinta minutos começa. É agora ou nunca.




Seus pés cobertos apenas por meias não fazem barulho contra o chão frio. Ela não enxergou nada nos primeiros minutos, mas consegue se nortear. Pelas suas contas, da extremidade do setor A até o cruzamento que lhe fora designado no setor D dariam vinte minutos. Quinze, se ela corresse. E foi o que fez.

Uma luz muito fraca circundava o teto do bunker. Era quase imperceptível e simulava a luz da lua. Alex agradeceu mentalmente por ela, pois consegue desviar de postes de luz e empecilhos no caminho. Correndo pelas sombras das tendas, seu coração dispara. Não sabe se porque não tem capacidade respiratória para correr ou porque gostou da sensação de fazer algo errado para variar.

Alex esperava alguma janela aberta, ter que desviar de alguém com insônia e evitar as luzes da casa acesas.

Nada.

O silêncio e o escuro davam medo, como se ela não tivesse mais os sentidos naturais.

Está exausta quando chega ao setor D. Olha para seu monitorador, que já não lhe informa mais as horas, apenas a contagem regressiva.

Ela fez as contas mentalmente. Deveriam ser 1h45 quando tomou coragem para sair de casa. Se seu monitorador informava que já haviam passado dezessete minutos, estava atrasada.

Ela respira fundo e apoia as mãos nos joelhos para descansar brevemente. Setor D, rua 12 com a 20. Era isso? Lá está ela, e nada fora do normal.

Escondida nas sombras, Alex se pergunta se cometeu um grande erro estando ali. Não conseguiria voltar para casa antes de seu monitorador zerar. Leva as mãos à cabeça e respira fundo, batendo os pés descalços no chão. Já que estava ali, esperaria algo. 12 com a 20, está certo. Ou ele falara outra rua? Valeria a pena sair dali para procurar?

Ela olha para o monitorador. Faltam dez minutos. Ela nunca chegaria em casa em dez minutos. Será?

O que estava fazendo ali? Que burrice! Tinha literalmente o mundo a perder agora.

Inicia seu caminho de volta para a tenda, pensando em o quanto fora estúpido sair, mas seus devaneios são interrompidos.

Das sombras, dois braços a envolvem por cima dos ombros. Um cobre sua boca e o outro a puxa para colocá-la contra uma parede.

Alex tenta gritar e se debate como nunca antes fora preciso. Não sabe quem a segura, mas são braços fortes e determinados a puxá-la para longe dali. Em um momento de pânico, com os braços soltos, consegue investir uma cotovelada bem abaixo das costelas de seu raptor, que a solta. Ela não consegue gritar, apenas se concentra em correr de volta para casa. Já está de pé quando uma mão puxa seu tornozelo direito, a levando para o chão em uma queda abrupta. Agora quer gritar, e sente que conseguiria, se a mão do homem não estivesse novamente tapando sua boca, empurrando sua cabeça contra o chão e tentando imobilizá-la. Seus olhos acostumam-se novamente ao escuro e à confusão, só para lhe mostrar a terrível verdade. Não conseguia ver o rosto, mas conhecia aquela máscara. A máscara que os homens que sequestraram as crianças no trem naquele dia fatídico usavam. Uma das mãos do homem vai à frente de seu rosto, com o dedo indicador levantado, pedindo silêncio.

Em um momento de pânico extremo, ela consegue desvencilhar-se e socar lateralmente o rosto do homem. A máscara dura machuca sua mão, mas o mascarado está atordoado. Ela aproveita do momento para chutar-lhe em suas partes baixas, e um último soco desesperado faz sua máscara cair longe.

Não espera para ver sua feição. Já está de pé novamente, ofegante, correndo seu caminho de volta por sua vida, quando o escuta.

— Alex!

Ela para abruptamente. Não por ele saber quem ela era, mas por reconhecer uma voz que não ouvia há tanto tempo. Mesmo mais grave, ela não o confundiria.

— Ivan?




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