○49. - Epílogo

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 A luz do sol aquece o corpo de Júlia. Ajoelhada no pequeno cemitério que criaram para as perdas, encontra a cruz que simboliza o amor de sua vida. Mesmo depois de tanto tempo, o coração ainda aperta todas as vezes em que vai falar com Ivan.

— Oi, querido. Hoje é seu aniversário. - Ela sorri em meio às lágrimas. - Já fazem dois anos, e eu não sei como aguentei tanto tempo sem você. Quer dizer, - ela limpa as lágrimas. - você me deixou com algo pelo qual viver.

"Ele se parece mais com você todos os dias. Seus olhos, seu sorriso... Ele adora a praia, sabia? Alex me ajudou a construir uma cabana com os pés na areia, assim como você queria".

Ela para de tentar esconder a dor. Aquela data a despedaça, mas ao mesmo tempo faz questão de conversar com ele todos os anos.

Mas a dor sempre é coberta por gratidão.

No chão, dois gravetos entrelaçam-se em uma cruz. O nome de Ivan escrito em baixo com pedras. Ela deixa uma flor que colhera ao lado da cruz e enxuga as lágrimas.

— Estamos bem. - Ela conclui.

Quando o filho nasceu, pensou em batizá-lo com o nome do homem que amava, mas só conseguia pensar em quanto aquilo seria doloroso.

Alex fez seu parto. Ver o filho chorando nos braços da cunhada a despertou um sentimento materno delicioso.

Ela decidiu colocar o nome do homem que se sacrificara para salvar a todos eles. O outro irmão da amiga.

— Eu e Nicolas estamos bem. Com saudades.

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Deitado na areia, Levi observa as ondas quebrando na orla. Maia passeia lado a lado com Lídia, as duas conversando animadamente como todo fim de tarde.

Ao longe, vê Diego, Lucas, Cauã e Rafael nadando até o horizonte, até não alcançarem os pés no chão.

Olha para Naomi, deitada ao seu lado, de bruços.

Sorri ao vê-la em paz. Automaticamente passa os dedos pela cicatriz em seu braço. A garota abre os olhos e sorri sonolentamente.

— Vamos dar um mergulho mais tarde? - O loiro pergunta, virando-se de bruços, assim como ela.

— Podemos ir agora.

— Não, mais tarde.

— Por quê?

Ele sorri maliciosamente.

— Pra gente nadar pelados.

Naomi o empurra, rindo. Não sabe como construíram aquela relação, mas nunca esteve tão feliz ao lado de alguém. Os dois se beijam, em êxtase com a companhia.

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Aos domingos, Alex brinca com o pequeno Nic no mar, ensinando-o a pegar onda.

Naquele fim de tarde, ela deixara o sobrinho ao seu lado construindo castelos de areia enquanto apreciava o mar e o sol se pondo no horizonte.

Reflete sobre sua vida.

Olha de um lado para o outro, observando a família que aquele universo insano a trouxera.

Sente as perdas todos os dias, mas vê como cada um dos mortos deram a vida para que eles pudessem estar ali naquele momento.

Já haviam se passado dois anos. Os muros ainda estavam os isolando do mundo, mas pararam de se importar com o tempo. Ninguém nunca veio procurá-los.

Ela olha para o pequeno Nic brincando ao seu lado direito, o sangue de um irmão e o nome do outro.

Olha para o outro lado e vê o ombro tatuado. O círculo bem desenhado por Maia antes de tudo aquilo.

Sorri com a lembrança.

Nascer, morrer, renascer.

Ela finalmente entende.

Deixa o sol se pôr no horizonte com um sorriso no rosto e as lembranças calorosas no peito.


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Considerações Finais da Autora

Bom, queridos, eu desidratei até aqui hahaha

Obrigada se chegaram até aqui comigo. Eu amei esse projeto e coloquei todo o meu amor em cima disso.

Provavelmente não me conhecem. Bem, meu nome é Ana. Eu tenho uma tatuagem no ombro esquerdo, um círculo, que me lembra do ciclo da vida, nascer, morrer, renascer. E agora, me lembra a Alex, o Ivan, todas essas pessoinhas aí que eu criei.

Se você chegou aqui, fez parte desse trajeto comigo. Quem sabe eu não levo isso aqui pra frente e um dia publico? Vocês vão estar na primeira página de agradecimentos.

Só tenho a agradecer.

Nos vemos em breve.

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Depois da RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora