20h, não tinha mais nenhum pé de morador na rua, e eu já tava armada. Meu tornozelo já estava melhor, embora eu não pudesse pular laje por um bom tempinho – mas eu ainda vou competir com o Geré! Ficamos todos mais que atentos, e 22h começamos a escutar os primeiros tiros. O Rogério passou radinho pra geral avisando que tavam tentando subir – era a polícia – e começou a correria. Como sempre, eu fico sempre com o Geré, e a gente foi atirando em todos os policiais que vimos na nossa frente. Quando o confronto tava na pior hora, eu me perdi do Geré, e porra, ele não atendia o radinho! Eu fiquei muito nervosa, mas tentei me acalmar, já que conhecia todas as vielas e todos os moradores. Entrei numa viela que vai pra uma laje com caixa d'água, com a ideia de me esconder, já que se eu ficar atrás dela, ninguém do chão me vê, e se eu ficar na frente ou do lado dela, eu mato só com dois tiro na cabeça! Mas eu só queria entrar na viela mesmo, porque não consegui: tinha um PM. Ele me puxou pra dentro da viela, e como ela tinha um portão de pouco menos de 1m de largura, ele fechou e me colocou contra a parede. Ele tinha mais ou menos a idade do meu pai, só que meu pai é bonito e não é gordo, cheio de cabelo!
– XXX: Como é teu nome, bonitinha? – Disse com o cano da glock na minha bochecha
– Roberta: Roberta – Respondi fria
– XXX: E tu é o que do Alemão?
– Roberta: Moradora.
– XXX: Moradora? E por que tu tá com um fúzil e uma pistola? – Disse depois que soltou o fúzil dele, que tava na bandoleira e ficou atravessado no peito dele, e começou a passar a mão na minha barriga, indo pra baixo
– Roberta: Porque eu sou uma moradora com privilégios.
– XXX: Tu é o que do Geré? – Disse com a mão dentro da minha calcinha
Eu não comecei a gritar nem reagi pra ele não me matar nem me levar de refém, né, gente?!, tem que ser esperta! Quando eu percebi que ele tava se excitando, oque não demorou muito, eu tirei um 38 da parte de trás do meu short – ele não tinha se ligado que eu tava com uma terceira arma, já que a minha .40 ele pegou. Dei uma coronhada na cabeça dele e ele caiu no chão. Dei dois tiros no meio da testa dele, peguei todas as armas que ele tava, o radinho dele, e botei em mim. Tava parecendo a mulher da guerra: 2 fúzis atravessado no peito, um revólver 38, uma glock e uma ponto quarenta, sem falar de um monte de munição que eu tava! Comecei a ligar pro Rogério de novo pelo radinho e depois de muito tempo ele atendeu.– Início de ligação –
– Geré: ONDE QUE TU TÁ, CARALHO?!? – Gritou estressado
– Roberta: Tô na viela da tia Ninha dos salgados! Aquela com o portão cinza estreitinho, que dá pra uma laje com caixa d'água!
– Geré: Beleza, beleza, tô colando aí! Cuidado, Roberta!
– Fim de ligação –
Ele desligou na minha cara e eu fiquei na laje, olhando com cuidado pra ver se vinha policial e os que aparecia, eu passava o dedo, mas tinham poucos. Logo o Geré chegou e fechou o portão quando entrou. Ele riu quando viu o policial morto, estirado no chão.
– Geré: Tá uma sanguináriazinha tu, viu? – Disse sorrindo, me abraçando
– Roberta: Tô mesmo, mas num é hora de esfregamento, não! – Disse e tirei as mãos dele de mim – Tem muito ainda?
– Geré: Não, mas tem uns sozinhos, em dupla... Bora, Roberta, bora! – Disse e saiu da viela me puxando pela mão
A gente começou a subir as escadarias e os policiais que vimos, eu matava, sem o Rogério mandar. Chegamos na boca do FB e tinha um monte de soldado. O Pelé disse que tava na tranquilidade, que num tinha mais nenhum subindo, mas que iam ficar na posição até o sol raiar, porque, pelo que o RGR achou, tinha muito pouco policial pra uma tentativa de invasão. 1h30 fomos pra casa e ficamos acordados até às 3h, mas não teve mais nada. Dormimos no sofá, com as armas em cima da gente.
Acordei 6h com meu despertador tocando. Como eu não ia pro colégio, desliguei-o e fiquei deitada do lado do RGR, fazendo cafuné no cabelo dele. Logo parei, e ele sorriu.
– Roberta: Pensei que tu tivesse dormindo...!
– Geré: Eu tava, mas tu tá ligada que num durmo com claridade, com barulho, com gente na minha frente e com gente relando em mim.
– Roberta: Nossa! Nem se essa "gente" for eu?!?
– Geré: Não. Ainda não. Quem sabe um dia, quando tu for a mãe dos meus pivetes, eu passe a me acostumar... – Disse e sorriu
– Roberta: Isso é chantagem emocional, sabia?
– Geré: Tô pouco me fudendo – Disse rindoEle levantou do sofá com a bandoleira do fúzil no ombro e foi pra cozinha, enquanto batia radinho pro Pelé e pro Naldo. Ambos estavam dormindo, mas atenderam e disseram que tava limpeza, mas que três soldados nossos foram feridos de leve e um foi morto, mas o número de policial morto...!
– Roberta: Tu acha que ainda tem mais alguma coisa? – Disse indo pra cozinha
– Geré: Sei lá, véi. Eu num espero nada, mas geral tá ligado que se botar a cara, nóis faz voltar de ré ou manda logo pro inferno – Disse e deu uma colherada no danone
– Roberta: Você tem medo de morrer, Rogério? – Perguntei depois de uns segundos, na frente dele
– Geré: Não! Morreu, enterra. Por quê?
– Roberta: Nada – Disse dando de ombros
– Geré: E tu, tem?
– Roberta: Tenho, né? Eu antes quero viajar muuuito, ter filhos, fazer faculdade, essas coisas.
– Geré: Quer fazer faculdade de quê?
– Roberta: Arquitetura. Amo desde pivetinha! O meu quarto, lá no condomínio, fui eu quem planejou os móveis. Se tu quiser, um dia eu te mostro – Ele não respondeu – E tu, já pensou em fazer faculdade?
– Geré: Tá loca?!? – Disse rindo e eu o encarei e levantei uma sobrancelha – Já pensei em fazer administração, pra controlar aqui.
– Roberta: Por que não faz?
– Geré: Tenho preguiça de estudar. Num sei como eu terminei o colégio...! – Disse vasculhando a geladeira
Eu ri e fiquei sentada. Ele sentou do meu lado com uma travessa de pavê e eu o encarei, mas sabendo como ele é bem rapidinho pra comer, peguei uma colher, sentei do lado dele e comecei a comer também, e ele começou a comer mais rápido e a encher mais a colher, e eu, claro, fiz a mesma coisa! Em menos de 5min, a travessa, que tava na metade, ficou vazia. Ficamos no 3º andar, que é só a laje, olhando o Alemão.
– Roberta: Tu nasceu aqui? – Ele assentiu com a cabeça – Já pensou em sair daqui? – Ele negou com a cabeça – Se tu pudesse morar em outro canto, escolheria qual?
– Geré: Eu num queria morar em nenhum outro canto. Eu tenho tudo aqui, vou pra outro canto pra quê?– Roberta: Faz sentido – Disse rindo, depois de uns segundos – Eu queria morar na Holanda, Alemanha ou França.
– Geré: Se tu sumir, já sei onde vou te achar – Disse cínico
– Roberta: Agora vou ter que arrumar novas rotas! – Disse rindo
– Geré: Tu me ama, vai sair daqui por quê? – Perguntou ainda cínico, na minha frente, me colocando contra a grade da sacada
– Roberta: Vai que tu tem tuas crises e vem bater em mim...! Meu pai nunca bateu em mim, e olha que eu dava motivo quando era pequenininha! Nos primeiros meses que eu ficava na casa dele, depois que ele e minha mãe se separava, eu fazia greve de fome, eu não tomava banho, não falava nada, não saia do quarto. Meus filhos que não venham de chantagem pro meu lado.
– Geré: Nossos filhos vão ser um terror – Disse rindo
– Roberta: Vão mesmo, principalmente as meninas – Disse e ri
A gente ficou conversando. Era bem cedinho, então não tinha tanto movimento no morro ainda.
– Marjorie narrando –
Como sempre, acordei às 6h. Tomei banho, me troquei, comi alguma coisa e meu pai me deixou no colégio. Eram 6h50 e eu fui pra sala, porque estava com dor de cabeça. Já tinha chegado a Manu, meu bebêzinho, e eu fiquei abraçada nela. Quando ouvi a voz de sonsa da Thainá, eu levantei. A Robertinha não bateu na cara dela, mas eu vou bater!
– Marjorie: Chegou a cobra – Disse alto, pra ela ouvir mesmo
– Thainá: Ai, Marjorie, não enche, hoje eu tô sem paciência pra ouvir você de indiretazinha! – Disse sentando no lugar dela
– Marjorie: "Indiretazinha"? Eu joguei indireta aonde?, porque assim que você entrou na sala, eu falei, então ficou bem óbvio que foi pra você!
– Thainá: Tá, Marjorie, tá! Cala boca!
– Marjorie: Ah, eu calo sim!
Eu tava com tanta raiva do que ela fez com a Robertinha que só isso foi suficiente pra meu ódio subir. Levantei da carteira, avancei na carteira dela, puxei ela pelos cabelos e comecei a encher a cara dela de tapa. Como não tinha muita gente na sala e não tinha nenhum professor, eu bati tanto nela que minha mão tava até formigando! Só parei quando joguei ela no chão, e geral que tava na sala começou a gritar, chamar a Thainá de cobra, sonsa, fingida, etc. Eu até queria cuspir na cara dela, já que ela tava no chão mesmo, mas esse estágio aí é com a Robertinha. Sentei na minha carteira, ao lado da Manu, e a Thainá levantou do chão chorando, com a mão na barriga – eu dei dois chutes nela.
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Do Asfalto pra Vida - 1/ Temporada ✨
FanfictionÉ incrível como a vida tem a capacidade de juntar e "desjuntar" as pessoas, né? Logo eu, que sempre odiei certas pessoas, hoje sou tão amiga delas, e vice-versa. Eu posso dizer uma coisa: nunca digam ter certeza de algo, como eu dizia até um ano atr...