Irmãos

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Dick estava observando Damian de longe. O garoto estava sentado na grama do jardim se revezando em arremessar uma bolinha para Titus, o cão, e acariciar os pelos do pequeno Pennyworth, o gato.

A situação em que todos se encontravam era estranhamente satisfatória: Damian era uma criança normal pela primeira vez e a mansão Wayne era apenas isso, uma mansão. Não falavam sobre vidas secretas, crimes, investigações e muito menos comentavam sobre o quão ruim Gotham poderia ficar se continuassem a negligenciando, porque Gotham não era o centro de tudo naquele instante.

— Você não costuma ser tão distraído... — Jason comentou quando já estava ao lado de Richard. Ele mantinha o olhar em Ace que, após dar as boas-vindas, foi correndo brincar com Damian também.

— Só estava pensando como é estranho ser tudo normal nessa família.

— Realmente aceitou essa coisa de perda de memória?

— Não tem o que aceitar... — o mais velho suspirou, em parte decepcionado por Jason já ter bebido pela manhã — Amnésia acompanhada de muito estresse pós-traumático, ansiedade e pancadas fortes demais na cabeça, ou uma mistura de tudo isso.

— Que seja! — O outro revirou os olhos — E vai simplesmente aceitar, sem nem ao menos achar suspeito ele ter essas crises de sei lá o quê quando houve falar do próprio passado, sobre ser um Robin?

— Se você tivesse visto...

— Vocês deveriam ter notado que pode ser alguma coisa na cabeça dele, tipo um chip implantado pelo Gorila Grodd! Ou alguém clonou o pirralho e colocou essa versão no lugar! Retalho Humano, ele é um cara estranho! — Para Jason, aceitar qualquer absurdo com um vilão agindo ao fundo era muito mais fácil do que simplesmente a realidade: a mente de Damian desistiu.

— Todd...

— Não são só o Coringa e o Bane que fazem essas porras doentias! E convenhamos que é bem fácil odiar o Damian!

— Todd! — O mais velho o acertou com um leve soco no braço — Para de falar esse tipo de coisa, ele pode ouvir!

Jason não revidou o golpe, apenas parou de falar por alguns segundos e olhou para a criança sentada na grama. Agora, os cães tentavam competir pela bolinha arremessada enquanto o pequeno gato era acariciado.

— Foi você mesmo quem disse que ele não está escutando direito...

— Então você leu todas as mensagens e resolveu ignorar elas até ser conveniente? — Dick novamente o acertou com um soco no braço, que foi revidado por um simples empurrão — Por que não veio logo?

— Porque ele sofreu uma lavagem cerebral, achei melhor esperar ele voltar ao normal.

— Ele só perdeu as memórias...

— Não, Dick! Se ele tivesse perdido as memórias, estaria sendo o mesmo fedelho mimado e irritadinho que briga com todo mundo. Eu ainda não ouvi o clássico "tt" e ele nem veio até aqui para saber quem é o cara estranho que invadiu a mansão, coisa que faria nem que fosse pulando num pé só...

— Já disse que ele perdeu a memória!

— Ninguém consegue esquecer o quão pé no saco ele é!

— Mas ele esqueceu! — Richard vociferou, deixando transparecer que a paciência estava lhe faltando — Ele esqueceu de tudo, de todos e até mesmo dele, droga!

Jason não respondeu, ou melhor, resmungou alguns xingamentos enquanto caminhava até Damian. Dick não foi atrás, preferiu ter esperança de que gritar a situação atual colocasse um pouco de juízo na cabeça dele.

— Damian... — ele chamou, se abaixando ao lado do rapazinho.

— ... Sim?

— Você pode até pensar que vai me enganar, mas eu não sou otário igual o Dick ou o B.

— E-Eu... — Angustiado e tímido, o mais novo se esforçou para encarar Todd nos olhos — Eu não estou mentindo, queria estar, mas eu não me lembro de nada. E-E... Eu... — Ele parou de falar e colocou a mão sobre a orelha e apertou. O zumbido era constante, mas a dor surgia sempre nas piores horas.

— Para logo com esse joguinho, Damian! Você quer atenção de todo mundo se fazendo de vítima, mas esquece que todo mundo nessa merda se preocupa com você! Ou você pensa que...! — antes que Todd completasse, foi atingido por um soco na mandíbula. Depois de se desequilibrar e quase cair sentado, ele se levantou e revidou o soco. Dick desviou, o que não impediu dos dois começarem uma briga em meio à xingamentos e ameaças.

Damian não notou o que estava acontecendo literalmente ao lado dele: o zumbido no lado esquerdo estava mais alto, no lado direito ele já não ouvia nada. Além disso, a dor estava sendo o centro de foco, era uma dor angustiante, aguda, mas de algum jeito ele sabia que já tinha sentido dores bem piores do que aquela – o que não fazia com que ela diminuísse.

O mais novo só notou que algo estava acontecendo, de fato, quando já estava nos braços do pai, sendo levado para dentro. Ele não entendeu bem o que ele dizia, provavelmente estava falando com Alfred – que vinha logo atrás deles. O mordomo o fez beber algo com gosto amargo, explicou o que era e para que servia, entretanto Damian só entendeu "sono" e "sentir melhor" de todas as palavras.

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NOTAS


Pelo incrível que pareça, eu escrevi até o capítulo 8 da fanfic antes de saber que Dick perdeu a memória e também "não se lembrava de ter sido um Robin". Batman disse que se ele esqueceu, talvez seja melhor ele ter uma vida normal sem a Batfamília. Nem preciso expressar aqui o quanto eu surtei em pensar algo "perto" do que os roteiristas da DC escrevem, né?

Pois bem, voltando às notas sobre a fanfic: Dick e Jason não moram na mansão. Eles vão lá sempre que precisam, mas moram oficialmente em outros lugares (o que não importa no atual momento). Jason não está acreditando muito na história porque ainda fica com o "pé atrás" sobre as ações de Damian.

Depois do "pirralho Wayne"achar que havia sido traído por ele, os dois brigam no especial anual de JovensTitãns (se não me engano). Isso mostra que mesmo ambos tendo os mesmos "pontosde vista", não confiam plenamente um no outro.

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