Brinquedo

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— Alfred, por que o meu filho ainda não está na cama? — Bruce perguntou em alto e bom som, deixando claro que estava desapontado – e mal-humorado. Ele descia as escadas com pressa, ajeitando os últimos botões do sobretudo que tampava a parte já vestida do uniforme.

— Ele ainda está se recusando a comer, Patrão Bruce — o mordomo respondeu com certo pesar.

Damian, por mais obediente que estivesse sendo, se negou a comer qualquer coisa que fosse desde a manhã daquele dia. Notadamente, este tipo de "mal comportamento" se iniciou quando Selina se despediu do pequeno com uma desculpa qualquer sobre um trabalho de modelo fora da cidade. Por mais que a "mãe" tivesse os motivos para ir até Metrópole, a criança entendia aquilo como mais uma pessoa se afastando dele – já faziam dois dias desde que Jason saiu.

— ... Dick disse que faria ele comer — O Wayne parou no penúltimo degrau, apertou as têmporas e esperou até a visão focar novamente.

— O Mestre Dick não conseguiu.

— Não consegui ainda, Alfred — O rapaz deu um sorriso encorajador enquanto se aproximava deles — Mas aposto que se o B vai conseguir convencer ele!

— ... Quem você acha que tentou primeiro? — O mordomo suspirou — Ele deveria estar com fome, se não comeu nada o dia todo...

— Ele comeu morangos enquanto estava comigo... — o pai respondeu desinteressado, passando as mãos no tecido para tirar os amassados e caminhando lentamente em direção ao salão de jantares.

— Não estamos na época de morangos, Patrão Bruce — Alfred ergueu uma das sobrancelhas, acusador, esperando uma justificativa válida para aquilo não ser apenas um tipo de desculpa para a falta de apetite da criança.

— Balas de morango.

— Ah...! — o idoso fingiu surpresa, caminhando logo atrás do Wayne — Realmente, morangos em formato de bala é algo muito nutritivo. Talvez eu devesse ter dado a ele uma pizza requentada como jantar ao invés de legumes no vapor.

— Talvez ele não goste mais de legumes — Dick disse como se desvendasse um mistério, otimista, indo atrás deles.

Em poucos segundos os três já estavam na porta; conseguiam ver Damian sentado à mesa, cabisbaixo, revirando a comida no prato sem o menor interesse. Bruce apertou a têmpora uma vez mais, incomodado com a visão turva; Richard continuava otimista, com um olhar dócil direcionado ao irmão caçula; Alfred, o mais experiente com crianças, deixava a preocupação transparecer:

— Acredito que o distanciamento da mãe o deixou sem fome e agora que o pai vai sair de casa... — o mordomo murmurou como quem não quer nada — Aposto que esse garoto vai se recusar até mesmo de ir para a cama... — Suspirou.

— Eu não posso ficar em casa, não hoje! — Bruce encarou o chão, repensando se realmente deveria sair de casa vestido de Batman. Por mais que quisesse ficar mais tempo com o filho, precisava criar um ambiente seguro antes.

Só de pensar no turbilhão de acontecimentos recentes, o vigilante noturno sentia um incomodo no peito. Primeiro Selina sai às pressas depois de um telefonema de Lois – ela se recusou a dar mais informações, recusou até mesmo a dizer o grau de seriedade daquilo. Depois, ele fica sabendo que o Coringa fugiu mais uma vez... só de pensar naquele louco nocivo podendo fazer algo contra Damian, a pressão de Bruce começou a ter picos.

— Por que não pode ficar comigo? — Damian perguntou já de pé, encarando os adultos com uma mistura de tristeza e sono. Diferente do pai, ele não tinha ideia do que acontecia fora dos muros daquela mansão. Essa falta de informações do exterior o deixava angustiado sem nem mesmo entender o porquê, já que a única coisa que ele sabia é que todos saiam e demoravam muito tempo para voltar.

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