— Pijamas novamente, Mestre Damian? — Alfred perguntou em um tom cansado, entrando no antigo quarto do rapaz com a bandeja do café-da-manhã.
— São tão confortáveis...! — o rapazinho respondeu manhoso, continuando a vasculhar sobre a escrivaninha.
— Antes você só os aceitava usar para dormir. Bastava despertar para vestir algo mais... — o mordomo não sabia ao certo qual palavra usar. Das poucas vezes em que Damian não estava em seu uniforme do colégio, de combate ao crime ou de pijamas, estava pronto para uma reunião formal.
— ... mais sério?
— Exato. — Não havia uma palavra melhor no momento.
— Mas é tão confortável...! — novamente a criança fez manha.
— E todo esse excesso de conforto pode deixa-lo ainda mais sonolento do que o efeito dos medicamentos, rapazinho — Alfred deixou a preocupação clara em sua voz — Aliás, o que faz sozinho no seu antigo quarto? Como conseguiu entrar?
— Meu pai deixou eu pegar materiais de desenho enquanto ele toma banho. — O mais novo parou sua busca e encarou o mordomo — Senhor Pennyworth, tem algo de errado em eu entrar no meu antigo quarto? Meu pai disse que não tinha problemas, mas se tiver algum eu posso pegar as coisas depois! — A voz estava com certo desespero, ele não queria ser inconveniente como era antes — Não desobedeci por mal, eu juro!
— O quarto continua sendo seu, independente do que aconteça — O mordomo colocou a bandeja sobre a parte vazia da escrivaninha e se aproximou da criança — O único problema é que você tinha um jeito travesso, digamos assim. Gostava de pregar peças nas pessoas e não tive tempo para desarmar todas elas — Ele sorriu, endireitando os fios rebeldes e molhados do mais novo. Damian, tão desatento e inocente agora, jamais notaria a quantidade letal de armas na decoração e as demais escondidas no cômodo.
— Desculpe, senhor Pennyworth.
— Não precisa se desculpar, Mestre Damian — Alfred continuava mexendo no cabelo dele, arrumando os fios escuros da melhor maneira que conseguia. Já havia passado da hora de cortar.
— Senhor Pennyworth, eu desenhei mesmo tudo isso?
— Evidentemente.
— Como?
— Com dedicação, creio eu... — O mordomo encerrou os cuidados com o cabelo do mais novo e deu uma boa olhada nos desenhos sobre a mesa. A maioria eram esboços retratando animais ou partes do jardim, todos faltando o acabamento – Bruce fez questão de deixá-los exatamente como estavam para o filho terminar quando voltasse.
— ... Acho que eu esqueci como se desenha.
— É como andar de bicicleta — Alfred se abaixou um pouco e ficou à altura dos olhos de Damian, segurando carinhosamente o rosto dele pelas bochechas — Tenho certeza de que depois de algumas tentativas você consiga desenhar tão bem quanto sempre.
— E se eu não conseguir? E-Eu estaria gastando esses materiais atoa, posso até acabar estragando algum! — Os olhos verdes de Damian se encheram de lágrimas — Acha que meu pai vai ficar triste se eu não souber mais desenhar? E nem souber fazer mais nada do que sabia antes?
— Como pode pensar esse tipo de coisa, meu jovem rapaz? — A voz de Alfred estava longe de soar repreensiva, estava transbordando de preocupação — Seu pai continuará te amando incondicionalmente, independente do que você saiba ou se lembre. Aliás, não é só ele quem ama você, todos nessa mansão te adoram!
Bastou um momento de silêncio enquanto recebia o conforto de Alfred para que Damian se sentisse melhor. Entretanto, por mais que tentasse parar de ser tão pessimista consigo mesmo, a criança só conseguia pensar no quão irritante era antes e no quão incapaz era agora – E, apesar de tudo, ainda gostavam dele.
— Senhor Pennyworth, como se desenha?
— Como eu poderia saber algo assim, meu caro? — O mordomo soltou um riso abafado, se afastando para a estante de livros de Damian — Creio que algumas dessas obras possam ajudar. Aliás, se você quiser, podemos contratar um professor de artes.
— Eu queria desenhar algo agora...! — Damian disse voltando a seu tom manhoso.
— Neste caso... — o mordomo pegou dois livros dente as opções relacionadas à arte e colocou sobre a escrivaninha — Depois, e apenas depois de comer todas estas frutas, pode olhar algumas páginas dos livros e tentar desenhar. Aposto que vai se surpreender com o próprio talento — Sorriu.
A criança acenou afirmativamente e puxou a bandeja para perto de si. Porém, antes de enfiar um dos pedaços de fruta na boca, olhou para o mordomo mais uma vez e perguntou:
— E se eu não conseguir?
— Nesse caso, terá que fazer como qualquer um que quer aprender a desenhar! — Alfred disse em um tom enigmático, se aproveitando daquele comportamento pueril que Damian tinha agora.
— O que eu vou precisar fazer!? — Os olhos verdes estavam cheios de brilho só por imaginar uma fórmula mágica.
— Se dedicar bastante! — O mordomo acabou soltando uma risada pelas feições de decepção do mais novo — Foi assim que você aprendeu antes: ao longo de muitos anos estudando com professores e treinando.
— O senhor me parece ser malvado as vezes... — Disse o rapaz ainda emburrado, apesar de não fazer nenhuma resistência sobre comer as frutas antes de fazer qualquer outra coisa.
— E você, Mestre Damian, continua adorável ainda que esteja emburrado — O elogio doce foi mais do que suficiente para que a criança voltasse a sorrir — Já sabe o que quer desenhar primeiro?
— Hun... — Damian tentou pensar em algo, mas considerava tudo difícil o suficiente para não ser uma boa ideia — Aqui?
— ... Aqui?
— ... É, onde eu moro. Aqui... — O mais novo tentou pensar em uma explicação melhor — Essa casa grande... Senhor Pennyworth, aqui é uma mansão?
— Sim, aqui é a Mansão Wayne.
— ... Wayne igual ao nome do meu pai?
— E igual ao seu nome também.
Alfred desejou ter coragem o suficiente para pegar o celular no bolço e tirar uma foto daquele momento: Damian pareceu estar tão surpreso com aquilo, como se acabasse de descobrir um tesouro templário enterrado no jardim de casa. Aquela surpresa genuína e estampada era apenas mais um sinal do quão inocente Damian era agora: nem ao menos tinha ideia de quem era.
— E que tal... — Começou o mais velho, tirando a vasilha de frutas das mãos do mais novo e se permitindo mimá-lo um pouco mais, pegando um dos pedaços de fruta com a colher e levando até a boca ainda aberta em surpresa — ... se você desenhasse o brasão da família Wayne?
Como estava com a boca cheia, Damian apenas acenou energicamente.
— O Patrão Wayne, com toda a certeza, vai querer emoldurar e colocar no escritório dele — Alfred comentou, repetindo as mesmas ações enquanto o pequeno segurava um dos livros com as mãos livres e começava sua sessão de estudos.
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NOTA
Eu poderia estar aqui nessas notas falando quão bem Damian, ao invés de ter feito isso na anterior. Porém, vou fazer algo mais proveitoso:
Se você que alguma vez na vida já tentou desenhar alguma imagem que viu e achou incrível e, no entanto, deu errado, você não precisa ficar desanimado e desistir de tudo achando que não tem "talento ou dom para desenhar". Não sou ser hipócrita e falar que o "talento" não existe, já que ele existe sim, mas vou falar isso: talento pode ser ADQUIRIDO com DEDICAÇÃO. Aprende na marra! Se errar, faz de novo, não importa quanto tempo leve! É melhor tentar e errar até ficar bom do que tentar, desistir e nunca conseguir fazer.
Aliás, aposto que você nunca parou para pensar em quanto tempo aquele artista que você gosta levou para fazer uma arte. Não estou falando do tempo para uma arte finalizada, estou falando de todo o tempo que ele levou estudando, treinando e se dedicando até chegar onde está. Até finalmente ter o "talento/dom".
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Reviver
Fiksi PenggemarReviver é voltar à vida, é relembrar de do que passou e renovar em uma melhor versão. Tudo conciliou para que Damian revivesse, experimentasse a vida de um rapaz normal, com uma família normal, em um mundo normal. Damian reviveu, deixando Robin mort...