Extra

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Escutar uma conversa atrás da porta é algo comum para crianças curiosas, adultos intrometidos e criaturas que possuem estas duas qualidades, como Mutano. Porém, pessoas sérias e responsáveis, como Rachel, não fazem este tipo de coisa... ou normalmente não fazem.

— Sabe, Ravena, é muito feio isto que você está fazendo... — Ele começou seu sermão, tentando dar o ar mais ajuizado possível – por dentro, estava saltitando por poder repreender a amiga mais sensata que tinha.

A amiga em questão apenas o ignorou e continuou com o olhar vidrado, escutando a conversa dentro do quarto de Estelar. Viu quando Asa Noturna chegou no fim da tarde - queria perguntar sobre Selina, mas estagnou na porta para poder ouvir o diálogo.

— Podem estar preparando uma festa surpresa pra você, ou pior: podem estar tendo uma DR! — Mutano comentou em voz baixa, se aproximando da porta.

— ... É bem pior que uma simples discussão de casal — ela sussurrou.

Desconfiado – e extremamente curioso -, o rapaz de pele verde colou o ouvido na porta grossa e tentou escutar o que estavam falando lá dentro. Reconhecia aquelas vozes, o que tornou a compreensão algo bem mais fácil:

— E por que ela age desse jeito? Não fizemos nada de errado! — Estelar parecia incomodada, preocupada, aflita... qualquer coisa, menos a alienígena serena e racional que costumava ser.

— Não fizemos nada ainda... e nem vamos fazer! — Diferente da antiga namorada, Asa Noturna estava resignado – o que não o impedia de parecer triste.

— Eu deveria conversar com ela ou com o seu pai, não é certo desistirem sem nem mesmo tentar. A Rav...!

— Não, não tem como fazer o B mudar de ideia, eu já tentei! — Ele a interrompeu — Eu já tentei convencer eles várias vezes, mas eu finalmente aceitei: não adianta!

— Como poderiam saber se adianta ou não!?

— Tem chances de funcionar e chances de não funcionar, Kori! — Agora o rapaz parecia irritado, consternado. Bastou respirar fundo para ele continuar, agora com a voz quebrada: — Eu... eu não tinha pensado na possibilidade dele piorar, mas é algo real. É melhor apensas esperar... esperar o Dami voltar ao normal ou... ou tentar... me acostumar com... com isso.

— ... Dick, ele vai ficar bem.

— E se não ficar!? — As palavras estavam cobertas de amargura — E se ele nunca mais for um Robin ou voltar se lembrar de tudo? Se eu tiver que continuar mentindo pra ele o resto da vida? E se ele só ir piorando e piorando até...

Ravena se afastou da porta.

Ela sabia perfeitamente como Dick estava se sentindo – não apenas por seus poderes empatas, todos da equipe se sentiam mal pelo que aconteceu à Damian. Ficar ali só a faria se sentir ainda mais ineficiente como uma parceira de equipe, talvez até mais do que Estelar se sentia: ela era a que melhor conseguia compreender o jeito peculiar com que Robin agia com todos, deveria ter acreditado nele.

Diferente da amiga sensata, Mutano continuou com o ouvido grudado na porta e os olhos arregalados, ouvindo cada parte que conseguia daquela conversa. Se contentava em saber do amigo enfermo pelas notícias que recebia – não achava uma boa ideia ir visitar Damian e acabar sendo atacado pelo rapaz -, porém, nunca imaginou que pudesse estar sendo enganado.

— Médicos não podem fazer nada? Se ele não quer a Ravena perto, talvez exames possam...! — Ela foi interrompida novamente com as palavras rápidas do ex-namorado:

— Depois do que aconteceu, o B não quer o guri com os pés fora de casa: está suspeitando de todos, até da Liga dos Assassinos. Isso sem contar que já tentaram de tudo um pouco: exames, remédios, tratamentos rápidos. Acho que só faltou tratamento de choque, isso se já não tentaram — O rapaz suspirou. Logo depois, barulhos baixos como um pranto abafado começou.

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