Amarelo

531 52 71
                                    

Já passava de meia noite.

Batman deveria estar pelas ruas e, contraditoriamente, Bruce estava no quarto do filho. Ele iria cumprir o papel de vigilante noturno, mas primeiro queria colocar Damian na cama – um pequeno ato que teria um grande impacto na relação dos dois, segundo Alfred.

Damian, aliás, tinha passado toda a tarde desenhando - refez os desenhos que o irmão tinha estragado e agora estava pintando eles.

— Só falta mais um... — tentou negociar utilizando aquele olhar doce e irresistível que tinha.

— Filho... — Bruce gentilmente passou a mão pelo cabelo dele — Já é tarde.

— Mas é o último!

— Damian, olhe só para você... — Segurou o rosto dele com as mãos, fazendo com que a atenção do pequeno fosse direcionada a ele — Está com os olhos vermelhos de sono.

— Não estou com sono...

— Está sim — Suspirou, o soltando — E quanto mais ficar lutando contra o sono, mais vai demorar para terminar os desenhos. É melhor ir descansar e terminar eles amanhã de manhã.

E se eu não acordar? Vai ficar faltando um...

Damian via aquela situação como algo realmente importante, não iria se perdoar se não terminasse aquela pequena tarefa que tinha imposto a si mesmo... ele precisava sentir o gostinho do dever cumprido – por mais que não entendesse a necessidade de se impor metas e tentar as cumprir a todo custo.

Já Bruce, depois de ouvir aquelas palavras, não conseguia pensar em nenhum jeito de continuar a conversa. Ele não fazia ideia do que poderia estar passando pela cabeça do filho para ele achar que não acordaria – poderia ser só uma expressão, uma pequena chantagem emocional... ou Damian estivesse realmente pensando que não acordaria no dia seguinte.

— Já passou de meia-noite, gremlin... — Tim comentou entrando no quarto com uma caneca de café na mão.

— Não sou gremlin... — o pequeno respondeu baixinho. Tinha perdoado o irmão pelos desenhos estragados, mas já estava quase sem esperanças de conseguir conquistar ao menos um pouco do carinho dele – principalmente por causa daquele apelido.

— Não ia colocar ele pra dormir? — Sem respostas, o rapaz se aproximou mais de Bruce e perguntou novamente: — Bruce, ele não deveria estar na cama?

— Ah... — Desperto dos pensamentos o pai suspirou, apertou a têmpora e respondeu finalmente: — ... está terminando um desenho.

Timothy sorriu e se aproximou do irmão, estava curioso ao ponto de deixar o café de lado. Mais cedo, quando recolheu os desenhos, alguns eram tão nítidos quanto uma fotografia em preto e branco – como os que retratavam Titus, Ace, o gato Alfred, objetos... –, mas outros eram apenas algumas manchas sem sentido, provavelmente não terminados.

Ele ignorou o caçula da casa, afinal, Damian estava focado demais para notar a proximidade dele. Tim preferiu analisar as pinturas: perfeitas, nítidas, como se fossem fotos impressas ao invés de desenhos feitos por uma criança... porém, aqueles que eram manchas sem sentido, continuaram assim: manchas sem sentido, manchas negras em folhas completamente amarelas - várias.

— Terminei! — o pequeno anunciou, sorrindo. Estava orgulhoso de si mesmo – algo que não sentia há muito tempo.

— E o que exatamente você desenhou? — Drake usou de um tom um pouco mais ríspido do que o normal. Não fez por mal, só não conseguia entender o porquê de mais uma cópia de papel amarelo com uma mancha – não fazia sentido algum.

ReviverOnde histórias criam vida. Descubra agora