Cicatriz

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Jason acordou com a cabeça ainda latejando e com a visão nublada.

Respirou fundo, contou mentalmente até três e se sentou na maca de uma vez só. Enquanto reunia forças para se levantar, tentava se lembrar do que tinha acontecido nas últimas horas – lembrava-se apenas de ter explodido um dos galpões onde estavam guardando substâncias ilegais.

— Droga... — gemeu baixo — Caralho, caralho, caralho... — praguejou enquanto fechava os olhos com força e abria novamente. Enxergava tudo embaçado, com vultos indistinguíveis que o deixava nervoso.

— Estou aqui, filho... aqui... — Bruce murmurou baixo e em meio ao sono. Tinha dormido sentado ao lado da maca de Jason, provavelmente segurando uma das mãos do rebelde até ele acordar – Selina estava ao lado dele, abraçada ao vigilante noturno e entregue ao mesmo sono pesado.

— Mas que porra que... — O rapaz respirou fundo, sentiu um embrulho no estomago só por imaginar que Bruce – ou Batman, já que ele não conseguia determinar a presença do capuz – estar ali com ele era mais uma alucinação — Calma, Jason. Mantenha a porra da calma — ordenou a si mesmo, deitando-se na maca novamente.

Deitar e relaxar foi uma ideia impossível de se concretizar, já que a mente dele estava transbordando de sinais de "risco iminente". Até mesmo olhar para o teto o deixava nervoso: sentia que a qualquer momento uma estalactite gigantesca poderia se desprender e cair em cima dele; a caverna poderia entrar em colapso devido uma infiltração mal controlada e o soterrar lá embaixo...

— Calma o caralho! — declarou enquanto se levantava mais uma vez, agora saindo de cima da maca e caminhando com passos apressados para fora do laboratório.

Alfred não notou que o rapaz já havia despertado: estava ocupado servindo de suporte para Batgirl, Robin Vermelho e Asa Noturna. Haviam descoberto mais galpões pela cidade onde aqueles compostos químicos estavam sendo guardados.

Jason estava nervoso demais para procurar pelo mordomo, ele simplesmente subiu as escadas e foi se esconder na mansão. Sentia que o dinossauro poderia entrar em curto, se ativar e ataca-lo; que a moeda gigante poderia escorregar da base e ir rolando até ele; que as armas poderiam disparar sozinhas; que a carta gigantesca de baralho iria liberar Gás do Riso... Sentia que as alternativas anteriores poderiam acontecer simultaneamente também.

Entretanto, ir para a mansão não foi uma boa ideia começando pelo lustre: ele tinha medo que o grande objeto decorativo despencasse em cima dele. As imagens daquele dia chuvoso, quando chegou no que ainda chamava de "lar" o aterrorizavam: encontrou Damian debaixo de aço retorcido e cacos de cristais... o corpo dilacerado, repartido, ensanguentado, morto, com olhos congelados em medo. Damian era tão pequeno para ter morrido daquele jeito... ele não queria ter o mesmo fim!

Quando finalmente conseguiu chegar nas escadas, Todd já estava com a respiração acelerada e todos os demais sintomas de uma crise de pânico iminente. Ele rastejou pelos degraus, pois tinha medo de tropeçar e cair. Continuou rastejando até encontrar a primeira porta destrancada e conseguir entrar, se enfiar debaixo de um móvel qualquer e ficar lá, encolhido.

Estava agora no escritório, sofrendo com uma ansiedade descomunal, com medo, com vertigens que mal o deixavam abrir os olhos sem sentir enjoo... estava sofrendo sozinho, porque a mente dele só aceitava que Bruce estar perto era uma alucinação. Não o culpava, depois de tudo o que tinha feito nos últimos dias... do que tinha dito...

O abrigo improvisado que arranjou, uma pequena mesa de chá, tremia assim como o corpo dele. As peças de porcelana, delicadas, rangiam com o tremor – gemiam como criaturas pequenas agonizando.

Mas o som não o incomodou, a mente dele estaca ocupada o fazendo reviver lembranças mais dolorosas.

As alucinações duraram até o som de um despertador ecoar pelo vazio da mansão e se sobrepor aos outros. Era um barulho incessante, rápido e extremamente alto. Depois, barulhos de passos... passos se aproximando. Talvez fosse apenas um dos efeitos colaterais da toxina, mais uma alucinação que parecia ser real.

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