Luar

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Jason estacionou o carro em uma parte fora dos mapas rodoviários. Era apenas o cume de um penhasco à beira mar, com a trilha escondida por uma vegetação quase rasteira. O luar estava bonito com seu reflexo na água.

— Sabe, eu costumava vir até aqui quando o B e eu... — O rapaz pensou um pouco melhor no que iria dizer, não poderia falar a verdade — ... Quando brigávamos. Na verdade, quando brigávamos e mesmo assim ele deixava as chaves do carro onde eu pudesse alcançar — Sorriu de canto.

— ... E você e o meu pai brigavam muito? — Damian finalmente parou de encarar a lua e olhou para o irmão.

— Quase sempre.

— Por quê?

— ... Porque temos visões diferentes sobre algumas coisas.

— Por isso falam que você é rebelde? — era notável o quão curioso o pequeno estava para saber mais do irmão.

— Eu sou bem pior que isso, pirralho! — Jason riu, tirando o cinto de segurança — Todo mundo discute com o Bruce às vezes: Dick, Babs, Duke, você... — enumerou enquanto pegava o que haviam comprado em um fastfood no caminho.

— Até o Sr. Pennyworth?

— Alfred não precisa discutir com ninguém, ele é melhor que o Batman — O mais velho deixou escapar uma risada, principalmente quando notou a cara emburrada do irmão — Ah, Dami... É só uma piada, tá?

— Não é isso, esse... esse nome que você disse... — Ele estava confuso.

— ... Alfred? — Tentou desconversar novamente, principalmente por notar Damian apertando a cabeça — Damian, o que foi? Está sentindo alguma coisa? — Jason começou a desprender o pequeno do cinto de segurança — Damian?

— Meu ouvido está doendo... — sussurrou, apertando mais a própria cabeça — ... Muito! — Ele estava angustiado, principalmente porque o zumbido no ouvido o incomodava e a dor, lancinante como uma facada, o deixava inani.

Damian começou a perder a noção do que estava acontecendo. Ele só conseguia pensar naquela dor horrível e como ela, por pior que fosse, parecia não ser nada comparada ao que ele já havia sentido antes – por mais que o pequeno não se lembrasse, ele conseguia saber disso.

Todd, que já estava beirando o desespero, não fazia ideia do que fazer. Levar Damian à algum hospital desencadearia uma crise, sem dúvidas, mas ficar com ele ali e não poder fazer nada era uma ideia ruim...

Vai ficar tudo bem! — Mentiu, nem ao menos sabia o que estava acontecendo — Eu não vou deixar nada acontecer com você, não de novo! — Ele pegou o irmão no colo, o tirou do carro e se sentou com ele no chão, repetindo: — Vai ficar tudo bem.

Era só isso o que poderia fazer... tão pouco.

Tinha prestado atenção em Alfred no dia que machucou Damian: o mordomo o colocou no chão para que não se machucasse ainda mais e manteve a calma – calma esta que Jason precisava ter agora.

A criança continuava apertando a própria cabeça, nem ao menos tinha noção da força com a qual fazia isso - só queria que a dor passasse logo, antes que fizesse qualquer coisa estupida. Ele só chiava coisas sem sentido e se encolhia nos braços do irmão.

— Damian? ... O que você tem? — Jason perguntou incerto se aquilo era uma crise epilética ou alguma outra coisa — Pelo visto... é o ouvido que está doendo? Dick me disse que você machucou o ouvido e... É isso! É só dor de ouvido, né? Nada de crises de pinscher! — Ele acabou soltando uma risada baixa — Não acredito que eu quase entrei em pânico porque você está com dor de ouvido, pirralho...

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