Remediar

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Alfred precisava de férias.

Em tantos anos nesse trabalho vital, foi a primeira vez que ele ele sucumbiu aos pensamentos recorrentes de ir para alguma ilha remota ou uma casa de campo longe da civilização e passar pelo menos alguns dias longe de tudo e todos – longe dos problemas. Porém, antes de qualquer possibilidade de tornar aquele desejo uma verdade concreta, ele precisava cuidar das crianças. Queria que tudo estivesse bem e em ordem, pois daí assim ele conseguiria relaxar.

Por enquanto, quando tudo estava tomado em caos, esses pensamentos é o que o mantinham com a cabeça no lugar. Só assim, distraído, ele conseguia deixar as emoções de lado e fingir que estava apenas fazendo um trabalho rotineiro...

Costurar, imobilizar, examinar... esses atos já haviam virado rotina, de fato, mas a situação era completamente diferente: Damian não tinha se machucado lutando contra o crime ou algo do tipo como o irmão – ele nem ao menos se lembrava de como lutar -, ele se machucou dentro de casa, sozinho, em um terrível "acidente doméstico".

Estavam negligenciando aquele garoto. Todos. O que não diminuía a culpa que o mordomo sentia.

— Ele... bem? — Tim perguntou quase sem voz quando conseguiu recuperar o fôlego novamente. Ele ainda estava sentado, olhando para Alfred e para o irmão mais novo.

— Sinais vitais estáveis, ferimentos com boa cicatrização... — O mordomo caminhou até os monitores — ... fraturas aparentam mais de 80% de cura.

— ... Ele fi-icar bem?

— É impossível ter certeza — suspirou — Aparentemente ele está ótimo, como da outra vez, mas não temos como saber quando ele vai acordar de novo e nem quais serão os danos colaterais... — Alfred se colocou ao lado de Damian novamente — Temo que a única certeza sobre o estado dele é a de que precisamos nos manter otimistas.

— ... A memória... dele, v-voltar? — o rapaz acabou soltando uma risada baixa depois disso. Felizmente, os efeitos do gás do riso já estavam passando.

— Mestre Tim, por mais que me doa falar algo como isso, preciso admitir: a memória dele é o que menos importa comparado com outras sequelas — Passou a mão pelos cabelos da criança em uma caricia suave, ainda estavam molhados com aquele líquido viscoso. A única marca remanescente do que aconteceu era uma cicatriz pequena na sobrancelha esquerda, o único lugar onde o mordomo julgou não precisar de pontos antes do procedimento.

— ... B? — Timothy perguntou enquanto se deitava na maca mais uma vez.

— ... Patrão Bruce? — Por alguns minutos, Alfred tinha se esquecido completamente do estado de Batman — Céus, que ele não tenha ido patrulhar mais uma vez! — resmungou, saindo do laboratório disposto a manter aquele inconsequente em repouso nem que precisasse o acorrentar em uma das macas.

O mordomo não precisou ir muito longe para encontrar o morcego caído no chão, tentando se arrastar para as escadas enquanto, visivelmente, estava sofrendo de dor. Alfred não quis falar nada e muito menos perguntar o que tinha acontecido – era óbvio, os cigarros, isqueiro e uma arma estavam jogados por perto, provas de que Jason estava realmente fora de si. Ele simplesmente tentou ajudar o cavaleiro a se levantar e caminhar até o laboratório mais uma vez.

— Não... — Bruce murmurou. Tentava a todo custo ir na direção oposta, para a saída, por mais que precisasse se apoiar em Alfred para se manter de pé — Jason!

— Patrão Bruce, por favor! ... Pense no Damian, precisa estar bem para cuidar dele! — O outro pareceu ponderar sobre as possibilidades e então arriscou se soltar do mordomo e ir para as escadas novamente — Patrão Bruce, não está em condições nem mesmo de ficar de pé! Como acha que vai conseguir correr por aí atrás dele!? — Pennyworth perguntou deixando claro que a paciência estava lhe faltando.

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