Extra

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— É impossível ficar brava com você... — Estelar sorriu, passando a mão suavemente pelas costas de Dick. O rapaz estava sentado ao lado dela no sofá, com o rosto completamente escondido no pescoço da amiga... buscava conforto.

— ... Então aceita minhas desculpas?

— É complicado explicar... — A alienígena tomou um tom mais sério, encarando a janela novamente e deixando o sorriso de lado — ... Não estou perdoando você ter escondido tantas coisas de mim, mas estou relevando porque é um problema grave que afeta você, ao Batman, aos Titãs... e que mesmo assim é um problema familiar. Você e sua família estão lidando como acham certo.

— E o que você acha certo? — Ele se afastou apenas o necessário para encará-la nos olhos.

— Esperar.

— Mais? Já fazem meses e até agora...!

— Meses se passaram e Damian acordou — Estelar o interrompeu — Pode levar mais alguns até que Robin acorde.

Dick se recostou no ombro dela mais uma vez, mas continuou olhando para os olhos dela – perdido naquele verde intenso e brilhoso. Levou alguns segundos até que ele falasse mais alguma coisa: uma pergunta cujo a resposta vinda de uma pessoa tão sincera quanto Kori seria capaz de afastar qualquer pensamento pessimista:

— ... Realmente acha que ele vai voltar?

— Se ele não voltar, podemos pedir ajuda à Ravena — Kori sorriu, o encarando mais uma vez. Aquele sorriso otimista e encorajador que tornava impossível resistir aos encantos daquela princesa tamaraneana, ainda mais com um amor antigo mal resolvido.

Dick continuava a encarando, se aproximando tão sutilmente quanto podia. Não queria ser apressado demais e estragar aquele momento com a única pessoa que sabia de todo o inferno que ele estava vivendo...

Estelar, que o conhecia tão bem, controlou os instintos para não se debruçar sobre Richard e o beijar primeiro. Os dois queriam aquilo, chegava a ser uma necessidade, mas ela esperou até que uma das mãos dele já estivesse na nuca para se inclinar na direção dele... ele quem precisava dar o sinal, era ele quem estava aos cacos e era ele quem precisava de um pouco mais de conforto – por mais tentadora que fosse a ideia de se "aproveitar" daquele estado.

Antes que aquele beijo tão ansiado fosse concretizado, um alarme soou e interrompeu completamente o clima. Uma voz robótica e gélida anunciou: "Alerta – Objeto não identificado sobrevoando costa em direção à torre. Colisão em trinta e dois segundos".

No mesmo instante Kori se levantou e se preparou para ir ver o que era. Ela já estava terminando de abrir a janela do quarto quando Dick comentou com certa graça:

— Não lidera mais nada, é?

Estelar simplesmente deu uma piscadela para ele e saiu pela janela.

Richard foi observá-la, tanto porque gostava de ver a antiga namorada em ação quanto por uma curiosidade ou necessidade incontrolável de deixar tudo de lado e se comportar como apenas um convidado ali. Os dias como líder dos Titãs ainda estavam vívidos nele.

Alguns segundos depois ele viu Ravena indo na mesma direção que Estelar. Seja lá o que fosse parecia ser sério, apesar de não haverem explosões, raios destrutivos ou até mesmo sinal de luta.

Tudo aconteceu relativamente rápido, por mais que trinta segundos pareçam longos para quem só observa impacientemente, como Dick.

Ele conseguiu avistar as duas heroínas retornando para a base, ambas seguravam algo, mas ele só conseguiu identificar o que era quando já estavam perto: Kori trazia uma criança e Rachel uma pessoa ou algo próximo disso enrolada em um tecido vermelho. A medida que se aproximavam era possível escutar o choro de desespero daquela criança e, quando já estavam próximas o suficiente para entrar pela janela do quarto de Estelar, Dick finalmente reconheceu aquele bebê chorão:

— Jon!?

— Superboy não está bem, sabe o que pode ter acontecido? — Estelar encarava Dick com a preocupação estampada no rosto.

— ... Seja o que for, o pior aconteceu com ela... — Ravena murmurou enquanto se dirigia à um canto mais afastado do quarto, não poderia perder mais tempo.

— Não, eu não sei nada dele desde quando o B mandou ele parar de ficar espionando e... — Finalmente reparou naquela criança, que agora fazia jus ao apelido dado por Damian. — Ei, Jon... o que houve? O que te deixou assim?

O garoto, que estava longe de parecer poderoso, apenas se encolheu mais e continuou chorando. Kori o abraçou um pouco mais e então explicou apenas o que sabia:

— Alguma coisa deixou ele muito assustado...

— ... Desesperado. — Ravena a corrigiu praticamente em um sussurro, voltando a ignorar tudo ao redor logo depois. Por mais afetada que estivesse pelo turbilhão de emoções naquela sala, ela queria fazer algo para ajudar... se ainda tivesse tempo.

Richard suspirou e colocou em prática suas habilidades com crianças desesperadas – havia as adquirido cuidando de Damian. Ele pegou Jon no colo e se sentou com ele no sofá, tirando Ravena e aquela pessoa ainda desconhecida do campo de visão do pequeno, e então começou:

— Puxa... desesperado e salvando pessoas? Se fosse eu, teria me escondido! — Conseguindo ganhar um pouco da atenção do garoto, ele continuou: — ... sabe, as vezes quando eu era um Robin ainda, eu me escondia embaixo da capa do Batman...

— ... Ele realmente deixava? — Kori perguntou incrédula.

— Kori...

— Eu não consigo imaginar Batman permitindo esse tipo de comportamento do ajudante...

— Kori! — Dick repetiu novamente, indicando o pequeno Jon com o olhar — ... estávamos falando do quão corajoso o Superboy é.

— Mas isso todos nós já sabemos — A garota sorriu e afagou os cabelos do pequeno.

Jonathan Kent continuava chorando, se abraçando e ignorando aos dois. Ele tinha sido forte o suficiente até aquele momento, quando finalmente pode ser o bebê chorão de sempre... não queria ser forte agora.

— E mesmo que você seja muito corajoso, precisa de ajuda agora — Dick retomou — Mas só podemos ajudar você se sabermos o que aconteceu.

Superboy, usando o pouco de autocontrole que uma criança de dez anos conseguiria ainda ter naquele momento, tentou prender o choro e explicar entre os soluços:

— Co-ontrabando, docas... gás d-do C-Coring-ga... — Ele encarou Dick e estelar que, apenas ouvindo aquele nome, já sabiam a seriedade daquela situação. Continuou, gritando as duas últimas palavras e entrando em desespero mais uma vez: — Bo-bomba! Ma-mamãe...!

Com o máximo de cuidado que conseguiu, Dick entregou o pequeno aos cuidados de Estelar mais uma vez e se levantou. Lentamente, ele se aproximou de Rachel o suficiente para ver com os próprios olhos o que deixou Jonathan naquele estado.

Tudo o que tinha conseguido entender naquelas palavras era que algo ruim, muito ruim aconteceu. Algo ruim, mas com Lois... ele jamais imaginou que aquele corpo ainda enrolado na capa vermelha pudesse ser de outra pessoa.

— Não, não... não, não, não...! — repetiu, se deixando cair no mesmo estado de desalento que aquela criança.

— ... Conhece ela? — Ravena perguntou quase em um sussurro.

... Selina! — Dick suspirou, deixando algumas lágrimas fugirem.

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NOTA

Não tem muito o que colocar nas notas finais, então vou explicar um poder que é praticamente uma das fraquezas da Ravena: ela é uma empata que consegue sentir as emoções de todos à volta dela, porém, ela sempre sente essas emoções e não tem como "filtrar" nada – ela precisou aprender a conviver com isso. Deve ser ruim lidar com vilões sabendo o que eles sentem...

Uma curiosidade idiota: enquanto as traduções em espanhol mantiveram vários nomes no original, em português a maioria foi traduzido. Estelar, na verdade, se chama Starfire (algo como fogo estelar – isso me lembra a cauda de cometas) e Ravena, apesar de uma mudança pequena, se chama Raven (literalmente corvo, assim como sábia).

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